quinta-feira, 30 de junho de 2016

Diagnóstico preciso para tratamento caro: biópsia líquida chega ao país

Novidade muda combate ao câncer, mas preços restringem acesso a terapias
POR ANA LUCIA AZEVEDO
20/06/2016 4:30
Células de tumor de câncer no pulmão: estratégia como opção para casos em que não há tratamento disponível - Latinstock

RIO - Começa a chegar ao Brasil um tipo de exame que promete melhorar o tratamento do câncer. Acena com mais eficácia e menos sofrimento. A chamada biópsia líquida é simples e indolor. Basta uma coleta de sangue convencional. Diferente é a análise molecular sofisticada, capaz de identificar fragmentos de DNA de tumores na corrente sanguínea e indicar sua presença antes mesmo destes se tornarem visíveis em análises convencionais, numa fase em que podem ser bloqueados.

A novidade livra pacientes de procedimentos mais caros e invasivos, as biópsias tradicionais, que demandam internação, participação de vários profissionais e têm riscos. Porém, a biópsia líquida é indicadora de terapias caras, inacessíveis para a esmagadora maioria das pessoas com câncer. O exame informa ao médico que droga pode combater determinada mutação genética ligada ao câncer do paciente. São drogas chamadas de terapias-alvo. Têm menos efeitos colaterais justamente porque são específicas.

A biópsia líquida não substitui a biópsia convencional para o diagnóstico inicial do câncer, explica o geneticista Mariano Zalis, diretor técnico da Progenética e pioneiro na técnica no Brasil. Sua aplicação hoje é no acompanhamento do tratamento e no controle do tumor.

Nas palavras do oncologista clínico Carlos Gil, a biópsia líquida é uma potencial revolução tecnológica, com desdobramentos da terapia quase inexplorados.

— Muda a perspectiva de melhora e sobrevida do paciente. E estamos só no início. Todavia, também é uma caixa de Pandora. O custo do exame em si nem é o ponto principal. A grande questão é que, ao revelar mutações, leva o médico à indicação de drogas específicas, muitas ainda experimentais. Esses remédios são impossíveis de pagar — comenta Gil, coordenador do grupo Neotórax e diretor institucional da Oncologia D’Or.

— O Brasil, como os outros países, terá que entrar na discussão. Buscar saídas. Ou teremos um sistema de castas na saúde, em que o câncer será tratável somente para os ricos. Só quem tiver muito dinheiro viverá mais e melhor. Condição financeira não pode ser critério de sobrevida. É um cenário assustador que precisa ser debatido agora.

O médico já viu alguns de seus pacientes se defrontarem com essa situação. Gil é um dos maiores especialistas do país em câncer de pulmão, justamente o único tipo de tumor para o qual a biópsia líquida está disponível no Brasil (existe a expectativa de chegar, em breve, o mesmo exame para outros tumores, como melanoma e cólon).

Como funciona a biópsia líquida, que chega ao Brasil - Editoria de arte/O Globo

Drogas custam milhares de reais
Um desses pacientes é uma profissional liberal de 42 anos, mãe de filhos pequenos. Ela respondeu bem ao tratamento inicial. Porém, após alguns meses, o tumor começou a apresentar resistência e voltou a crescer. Por a mulher nunca ter fumado, o médico supôs que ela poderia ter uma forma de câncer associada a uma mutação chamada T79M. Essa mutação é agressiva, mas responde bem ao tratamento com uma droga nova, uma terapia-alvo.

Inicialmente, Gil a encaminhou para uma biópsia convencional. A mulher se submeteu à internação e à anestesia para a retirada de mais uma amostra do tumor. O exame, no entanto, não encontrou alterações.

— A paciente ficou desesperada. Ela já havia se submetido a um processo sofrido de biópsia, teve complicações e estava com medo da quimioterapia. Porém, na mesma época a biópsia líquida chegou ao Brasil. E esse exame identificou e analisou fragmentos realmente ínfimos de DNA do tumor. Tivemos sorte, o resultado foi positivo — conta o médico. — Esse caso foi particularmente feliz porque houve tempo de incluir a paciente num programa de doação do medicamento pelo laboratório. E só isso viabilizou o tratamento, pois ela não teria condições de pagar. Essas drogas custam milhares de reais por mês e muitas vezes nem chegam ao Brasil.

Outro paciente, um homem de meia-idade, também se beneficiou do mesmo exame. E do tratamento.

— Mas esse caso é diferente. Além de não haver tanto tempo para esperar, se trata de uma família com condições de pagar R$ 75 mil por mês por caixa de remédio. Por tempo indeterminado. Quase ninguém, ninguém mesmo, tem condições de fazer isso. Para mim, como médico, é muito difícil. Por um lado, tenho recursos novos e promissores. Mas corro o risco de dizer a uma pessoa com câncer que o caso dela teria remédio, mas não há dinheiro para pagar porque custa uma fortuna — destaca o médico.

Ele frisa que está mais do que na hora de pensar em meios de democratizar e viabilizar o uso não apenas dessa classe de drogas, mas de outros tratamentos que surgem no horizonte, como as imunoterapias, também extremamente caras.

— Acho que há excessos nos preços, mas não é só isso. Há sempre uma nova droga. Então, é preciso não apenas da negociação de casos isolados, mas de uma política de saúde que reduza os custos e viabilize o acesso. A China tem experiências interessantes nesse sentido. Só recorrer à Justiça para obrigar o SUS ou os planos a pagarem não funciona, porque resolve casos isolados, mas não o problema. Precisamos buscar nosso caminho — afirma Gil.

Fusão de várias técnicas
A biópsia líquida é resultado de décadas de pesquisa sobre a genética do câncer. Ela é uma fusão de técnicas que identificam pedaços muito pequenos de DNA em circulação no sangue. A elas se soma o conhecimento de um número progressivamente maior de mutações associadas a tumores.

— Cada pessoa tem uma forma própria de câncer. Nenhum tumor é igual. A biópsia líquida é capaz de perscrutar essas especificidades. Ela é o avanço mais recente da chamada medicina personalizada. Estudos nos EUA já identificaram mais de 50 tipos de tumores que podem ser analisados dessa forma — explica Mariano Zalis.

A técnica começou a ser usada nos EUA há cerca de um ano e na Europa há seis meses. Hoje, o exame custa, no Rio, cerca de R$ 900 — uma biópsia convencional de pulmão pode chegar a R$ 15 mil, mas tem cobertura. A líquida não é ainda coberta por planos de saúde.

— Essa biópsia é um avanço muito importante, era um sonho antigo dos médicos, um instrumento valioso de acompanhamento. Mas e agora? A tecnologia continua a avançar, mas não as políticas de saúde. O abismo entre a medicina de ponta e o acesso da população a esta aumenta em escala logarítmica. O SUS hoje está cerca de dez anos atrasado em relação ao que existe de moderno no tratamento do câncer. Se nada for feito, esse atraso só vai piorar — alerta Carlos Gil.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

"Renasci", diz Sabrina Parlatore após vencer o câncer de mama

Paulo Pacheco
Do UOL, em São Paulo 21/06/201617h14


Sabrina Parlatore durante viagem nos Estados Unidos, em abril deste ano

O telefone de Sabrina Parlatore não parou de tocar nesta terça (21), após ter revelado no programa "Morning Show", da rádio Jovem Pan, que retirou um câncer de mama. A apresentadora optou por contar publicamente depois de terminar o tratamento e esperava a repercussão pelo assunto estar em evidência por causa de Edson Celulari, que anunciou um linfoma não-hodgkin na última segunda.

"Eu até imaginava [o tamanho da repercussão] pela importância do assunto, e essa minha entrevista estava agendada havia muito tempo. Edgard já sabia, é meu amigo. Fiquei feliz de falar isso pela primeira vez em público para um amigo tão sensível como ele", comemora Sabrina Parlatore ao UOL.

Aos 41 anos, Sabrina realiza exames regularmente, porém descobriu o câncer "sem querer", em maio de 2015: "Estava coçando meu colo e senti um caroço que me chamou a atenção". Após a biópsia, veio a confirmação de um tumor maligno no seio esquerdo.

Sabrina revelou que teve câncer em entrevista ao programa "Morning Show"

"É um baque, um susto danado, principalmente por não saber o que é, em que estágio está, mas o médico me tranquilizou", conta a apresentadora, que não tem casos na família. Sabrina submeteu-se a uma cirurgia para retirar o tumor e rapidamente voltou para casa, e em seguida fez quimioterapia preventiva para não sobrar resquícios do câncer.

"Foi o período mais difícil de todos, porque os efeitos colaterais são muito, muito fortes", relembra Sabrina, que se assustou quando soube que teria de fazer quimioterapia: "Fui procurar saber sobre perucas, porque a droga para a mama derruba todos os pelos do corpo".

Dias antes de começar o tratamento, Sabrina foi apresentada a um novo aparelho, recém-aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que "congela" a cabeça e impede que a química penetre no couro cabeludo. "Dói muito, mas me ajudou psicologicamente", recorda. Ela perdeu 30% dos fios.

Fora da TV, Sabrina trabalha como mestre de cerimônias em eventos corporativos e cantora em bares e empresas. Ela manteve a rotina e cancelou trabalhos apenas no fim do tratamento, porque se sentia "esgotada" pelo tratamento. Em janeiro deste ano, após seis meses, concluiu a químio e realizou 33 sessões de radioterapia.


Em 15 de março, Sabrina concluiu definitivamente o tratamento contra o câncer, uma data especial para ela: "Simboliza voltar a vida, renascer, porque a gente se sente 'morto'. Brinco que 'dei uma morridinha e voltei', porque a químio arrasa com o corpo. Eu me sinto renovada, renascida, com uma sensação de que o melhor está por vir. Estou positiva, otimista. Venci uma p... de uma batalha. Sou f...!".

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Edson Celulari é diagnosticado com câncer: "Foi um susto, mas estou bem"

Do UOL, em São Paulo
20/06/2016
  • Reprodução/Instagram/claudiarreal


Edson Celulari com a filha, Sophia, em foto postada por Claudia Raia

Aos 58 anos, Edson Celulari foi diagnosticado com um linfoma não-Hodgkin, tipo de câncer que afeta o sistema linfático. 

"Reuni minhas forças, meus santos, um punhado de coragem...Coloquei tudo numa sacola e estou indo cuidar de um linfoma não- Hodgkin. Foi um susto, mas estou bem, ao lado de pessoas amadas. A equipe médica é competente e experiente. Estou confiante, pensando positivo e com fé sairei deste tratamento ainda mais forte. Todo carinho será bem-vindo. Obrigado. #VidaQueSegue", escreveu em seu Instagram. 

Em nota enviada pela assessoria de comunicação da Globo, o ator mantém a atitude positiva em relação ao tratamento: "Vida que segue. Estou organizando a rotina, sem nenhuma reação significativa por conta do tratamento. Tenho certeza que vou sair dessa mais forte e com cabelos encaracolados". 

Celulari, reservado para a novela "À Flor da Pele", escrita por Gloria Perez para o horário nobre em 2017, está longe da TV desde o fim de "Alto Astral", em 2015. Em abril, ele terminou de rodar um filme, "Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos", de Paulo Nascimento. Ele tem dois filhos, Enzo e Sophia, frutos de seu casamento com Cláudia Raia. Atualmente, ele namora a atriz Karen Roepke.

No Instagram, Raia postou uma foto da filha Sophia dando um beijo no pai. "Amor dos filhos, isso cura", escreveu a atriz na rede social.

O linfoma não-Hodgkin é o mesmo com o qual o ator Reynaldo Gianecchini foi diagnosticado em 2011. Esse tipo de câncer também acometeu a presidente afastada Dilma Roussef e o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão.

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), existem dois tipos de linfomas: o Hodking e o não-Hodking. Mas cada categoria abrange inúmeros outros subtipos mais específicos e com comportamentos biológicos e prognósticos diferentes. São mais de 40 variações.


Dado o diagnóstico, a doença pode ser tratada com quimioterapia, radioterapia ou ambas. Em certos casos, os médicos podem indicar também a imunoterapia.