segunda-feira, 28 de maio de 2012

Teste genético poderia ajudar a prever câncer de mama

Exame poderia ajudar a prever a doença anos antes dela ser normalmente diagnosticada, segundo nova pesquisa

De acordo com uma nova pesquisa, um teste genético poderia ajudar a prever o câncer de mama. O teste analisa como os genes são alterados por fatores externos, como álcool e hormônios, um processo conhecido como epigenética. Os cientistas acreditam que uma em cada cinco mulheres possui um tipo de "interruptor genético", ou seja, um elemento que "liga e desliga" genes, que duplica o risco de câncer de mama.

A partir das descobertas, eles esperam desenvolver um exame de sangue simples que possa ajudar a indicar quais mulheres têm maior tendência de desenvolver a doença.
Glóbulos brancos 
No trabalho publicado na revista científica Cancer Research, os cientistas do Imperial College London analisaram amostras de sangue de 1.380 mulheres de diversas idades, 640 das quais desenvolveram câncer de mama.
Eles encontraram uma forte ligação entre o risco de ter a doença e a modificação molecular de um único gene, chamado ATM, que pode ser encontrado nos glóbulos brancos.

Os pesquisadores tentaram, então, descobrir o que estava causando esta alteração e procuraram especificamente por um efeito químico chamado metilação, que atua como um "interruptor genético".
As mulheres que apresentaran os maiores níveis de metilação afetando o gene ATM tinham duas vezes mais chance de desenvolver câncer de mama na comparação com aquelas que apresentaram os níveis mais baixos.
Em alguns casos, as alterações eram evidentes até 11 anos antes de a doença ser diagnosticada.
Epigenética
"Sabemos que a variação genética contribui para o risco de uma pessoa ter determinadas doenças", disse James Flanagan, que liderou o novo estudo. "Com esta nova pesquisa, agora também podemos dizer que a variação epigenética, ou diferenças na maneira como os genes são modificados, também tem um papel."

Flanagan espera que nos próximos anos seja possível descobrir outros genes que afetam o risco de uma mulher apresentar câncer de mama. "O desafio agora é como incorporar toda esta nova informação aos modelos de computador que são usados atualmente para prever riscos individuais."

Ainda não se sabe exatamente por que o risco de câncer de mama pode estar ligado a mudanças em um gene de glóbulos brancos, mas a equipe prevê que um exame de sangue pode ser usado em conjunto com outras informações, como histórico familiar e presença de outros genes conhecidos de câncer de mama, para ajudar a identificar as mulheres com maior risco de desenvolver a doença.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Estudo inédito mapeia dez diferentes tipos de câncer de mama

Pesquisa abre caminho para saber, com muito mais precisão, quais tipos de remédios funcionam melhor no combate à doença
BBC | 19/04/2012 14:03:02

Um estudo inédito revelou que o que se conhece atualmente como câncer de mama pode ser desdobrado em dez diferentes tipos, abrindo caminho para uma revolução no tratamento, que deve ficar cada vez mais específico para cada tipo de tumor.
A pesquisa, realizada por cientistas do Canadá e da Grã-Bretanha e publicada na prestigiada revista Nature, analisou mais de 2 mil mulheres com câncer , e seus resultados devem começar a ser aplicados em hospitais dentro de no mínimo três anos.
Para os especialistas, é possível comparar o câncer de mama a um mapa do mundo. Os exames atuais, mais abrangentes, teriam a capacidade de classificar a doença em diferentes "continentes". Agora, com as novas descobertas, será possível mapear a doença em até dez diferentes tipos, com um grau de definição muito maior, como se fossem "países".
"O câncer de mama não é uma doença, mas sim dez diferentes doenças", disse o chefe do estudo, Carlos Caldas.
"Nossos resultados abrem caminho para que no futuro os médicos possam diagnosticar que tipo de câncer uma mulher tem e os tipos de remédios que vão ou não funcionar, de uma maneira muito mais precisa do que é possível atualmente", acrescenta o pesquisador.
No momento, os tumores são classficados de acordo com sua aparência sob as lentes de microscópios e exames com "marcadores". Aqueles identificados com "receptores de estrogênio" deveriam responder a tratamentos que utilizam o tamoxifeno (um modulador seletivo da recepção deste tipo de hormônio) e os classificados com "receptores Her2" deveriam sofrer impacto da terapia com o medicamento Herceptin.
A grande maioria dos tipos de câncer de mama (mais de 70%) responde bem aos tratamentos com hormônios. Entretanto, a reação às terapias varia muito.
"Alguns respondem bem, outros fracassam terrivelmente. Claramente precisamos de uma classificação mais detalhada", diz Caldas.
Revolução
Os pesquisadores analisaram detalhes da genética celular de mais de 2 mil tumores, levando em consideração quais genes haviam sofrido mutação, quais estavam se multiplicando e quais estavam sendo desligados. Após as análises, as células cancerígenas foram agrupadas em dez diferentes classificações, denominadas "IntClust" um a dez.
"Este é o maior estudo já realizado sobre os diferentes tipos de tumores de câncer de mama e vai alterar a maneira com a qual analisamos a doença, tendo um impacto enorme na forma de diagnosticar e tratar o câncer de mama nos próximos anos", disse Harpal Kumar, chefe do instituto de Pesquisa do Câncer da Grã-Bretanha, que financiou a pesquisa.
Os cientistas precisam agora comprovar os benefícios da nova classificação antes que médicos e hospitais de todo o mundo passem a utilizá-la -um processo que pode levar de três a cinco anos. Para Delyth Morgan, chefe de campanhas contra o câncer de mama na Grã-Bretanha, o estudo pode "revolucionar a maneira com a qual a doença é diagnosticada e tratada".
A pesquisa é um exemplo do que se conhece atualmente por "medicina personalizada" – que consiste em tratar uma doença a partir do mapeamento detalhado de seu comportamento genético. O princípio pode, no futuro, ser aplicado às pesquisas que medem a resposta a medicamentos para doenças cardiológicas e tratamentos para conter o vírus HIV, dentre outros.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sem medo: portas devem estar abertas a profissionais com câncer


SÃO PAULO - A professora Alba Terezinha Fusco dava aulas a crianças com idades entre oito e nove anos quando, em 2003, descobriu que estava com câncer de mama. Optou pela radioterapia e pela quimioterapia e, a certa altura, por ordem médica, teve de ficar 40 dias afastada do trabalho.

"Mas eu ficava toda hora perguntando para os médicos: quando posso voltar a trabalhar?". Talvez por insistência, os médicos acabaram por liberá-la.

Ao retornar, teve uma surpresa: foi recebida por crianças preocupadas e carinhosas. Quando Alba entrava na sala de aula, elas abriam as janelas, pois sabiam que a professora não podia ficar em ambientes fechados. Quando alguém da turma estava com gripe, se mantinha afastado. "As crianças me protegiam", recorda Alba, com alegria.

O apoio também partiu das colegas de trabalho e da diretoria do colégio particular. A paciente faltava duas vezes por mês para fazer o tratamento e, por vezes, era internada. Em cada internação, ficava quatro dias afastada. "A escola nunca descontou do meu salário e havia uma professora substituta para ficar com a turma".

O papel do trabalho
"Eu quis trabalhar", lembra Alba, para quem o trabalho é muito importante no combate a problemas de saúde. "Eu sentia cansaço, mas ficar dentro de casa, tendo condições de trabalhar, era pior. Com o trabalho, a pessoa pensa em outras coisas, se distrai um pouco daquele momento pelo qual está passando. Para mim, foi a salvação, ajudou muito na minha recuperação. Precisamos enfrentar a doença com bom humor e positivismo", diz.

Ela nunca escondeu a doença. "Antigamente, as pessoas escondiam. Tive sorte de não ser vista com olhares de pena ou compaixão. Tive apoio total dos colegas, que me deram forças para lutar", garante. "Sei que não é fácil, quando recebemos o diagnóstico, descobrimos que temos câncer, pensamos que iremos morrer. Mas hoje câncer tem cura".

Alba venceu essa batalha. O tratamento terminou em 2004 e, até hoje, ela toma remédios. Mas, em março, fará nova avaliação, e é possível que já possa parar de tomar remédios. Ela diz que conhece pacientes que foram dispensados pela empresa quando descobriram que estavam com câncer. Seu recado: "É preciso não desistir e procurar outro emprego. Além de lutar contra a doença, devemos lutar pelos nossos direitos. Conhecer nossos direitos e brigar por eles".

Os direitos
A psico-oncologista Luciana Holtz, presidente do portal Oncoguia, explica que, quando a pessoa está empregada e descobre que está com câncer não pode ser demitida, embora o fato de ela estar com a doença não lhe dê estabilidade.

"Segundo a legislação, com exceção das doenças provocadas por um acidente de trabalho, o profissional não tem estabilidade no emprego. No entanto, se ficar comprovado que ele foi mandado embora por conta do câncer, pode recorrer à Justiça e entrar com uma ação contra a empresa. Pode ser difícil de provar, mas o fato é que ninguém pode ser demitido por causa da doença".

Mercado de trabalho
De acordo com Luciana, a maioria dos pacientes optam por continuar trabalhando ao receber o diagnóstico, mesmo fazendo quimioterapia. "Aqueles que se afastam e precisam voltar passam por certa insegurança. O jeito como as pessoas olham pode incomodar. Ainda hoje, as pessoas têm medo da palavra câncer, apesar de a doença ter cura".

Para ela, o melhor a ser feito é não esconder a doença da empresa, conversar e chegar a um acordo. É possível que, por conta do tratamento, o profissional tenha que faltar uma vez por semana ou ainda duas, pois, no dia seguinte, pode sentir os efeitos colaterais. Mas dá para compensar, trabalhar no fim de semana, por exemplo.

"A questão é que as faltas são previsíveis, logo dá para as duas partes (empresa e paciente) chegarem a um acordo", garante a psico-oncologista.

"Se a pessoa pode trabalhar, não tenho dúvida de que continuar trabalhando ajuda. Muitos pacientes relatam que não agüentam mais viver o mundo do câncer. Então, o emprego ajuda essas pessoas a se envolverem em outros assuntos, a recuperarem a auto-estima", finaliza Luciana.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Consumir soja pode trazer riscos a pacientes com câncer de mama


Mulheres que consomem soja quando adultas e sofrem de câncer de mama correm o risco de se tornar resistentes a um remédio usado no tratamento da doença, segundo estudo publicado nos Estados Unidos na última segunda-feira (2/4/12).

Um estudo com ratos de laboratório fêmeas mostrou que aquelas alimentadas com soja durante toda a vida responderam bem ao medicamento tamoxifeno, popularmente usado no tratamento do câncer de mama, enquanto as que começaram a comer soja quando adultas e após terem desenvolvido câncer mostraram uma resistência a ele.

A pesquisa dá indícios das possíveis razões pelas quais o tamoxifeno para de funcionar e permite que os tumores se reproduzam novamente em algumas mulheres, explicaram os cientistas da Universidade Georgetown, que apresentaram suas conclusões em uma conferência em Chicago.

"Os resultados sugerem que as mulheres ocidentais que consumiram soja quando adultas deveriam deixar de fazê-lo ao ser diagnosticadas com câncer de mama", disse a principal autora do estudo, Leena Hilakivi-Clarke, professora de oncologia em Georgetown.

A soja contém isoflavonoides que imitam a produção de estrogênio no corpo, só que em níveis muito baixos, e é considerada fonte de proteína saudável, encontrada em comidas como o tofu, o misô, os grãos e o leite de soja.

Seus benefícios potenciais contra o câncer de mama estão vinculados aos baixos níveis de receptores hormonais positivos vistos em mulheres asiáticas, que vivem em locais onde é comum o consumo de soja.

Visto que o tamoxifeno é comumente prescrito a pacientes que sofrem de câncer de mama de receptor hormonal positivo, as conclusões do estudo indicam que a adoção de uma dieta rica em soja na fase adulta da vida poderia anular o efeito deste tratamento.

O estudo foi apresentado no encontro anual da Associação Americana para a Pesquisa do Câncer (AACR, na sigla em inglês).