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segunda-feira, 8 de maio de 2017

Exercícios físicos: uma arma para enfrentar o câncer

Ao contrário do que se pensa, quem tem câncer pode e deve praticar atividades físicas. Isso traz inúmeros benefícios para a saúde e o tratamento
http://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/exercicios-fisicos-uma-arma-para-enfrentar-o-cancer/
Por Paulo Hoff
31 mar 2017, 12h00


Adultos fazendo exercício (iStock/Getty Images)
Uma das perguntas mais frequentes no consultório é “o que posso fazer para ajudar a combater meu câncer?” A resposta nem sempre é simples, mas uma constante é o benefício de uma atividade física regular. Provavelmente, todo mundo já ouviu alguém dizer: “adoro a sensação depois que termino minha atividade física”, “tenho muito mais disposição”, “quando fico um dia sem exercícios, parece que meu corpo sente falta”. São frases comuns na boca de quem pratica exercícios físicos regularmente. O simples fato de colocar o corpo para se mexer e movimentar-se, libera endorfinas e traz bem estar.

Benefícios
Qualquer um pode praticar atividade física, de maior ou menor intensidade. E isso vale também para indivíduos que estão em algum tipo de tratamento de saúde, como é o caso do câncer. Ao contrário do que se pensa, quem tem câncer pode e deve praticar atividades físicas. Isso ajuda a ter um condicionamento melhor, aprimorando o sistema cardiovascular, mantém a capacidade respiratória e ajuda a manter a massa muscular. Além disso, melhora a flexibilidade, a força e previne a osteoporose. São, portanto, inúmeros os benefícios.

Respeitar limites
Obviamente, é preciso respeitar a capacidade e os limites de cada paciente ao longo do tratamento, e sempre se recomenda que o início seja monitorado por um profissional da área. Porém, algum nível de atividade física é segura e altamente benéfica mesmo durante a fase ativa de radioterapia e quimioterapia, por exemplo. É importante lembrar também que, na fase de recuperação do câncer, a prática constante de exercícios promove o aumento da entrada de oxigênio no corpo, favorecendo a recuperação e ajudando a “limpar o organismo”.
Os tratamentos oncológicos trazem consigo grandes mudanças nas vidas dos pacientes, mas apesar das dificuldades, ter uma atividade física prazerosa vai ajudar nessa caminhada, colaborando inclusive com a função imunológica do organismo, o que melhora a resistência para combater a doença. É benéfico também para os sintomas secundários, como fadiga, náuseas, dor e indisposição, muito comuns durante o tratamento, além de auxiliar no controle da depressão, do estresse e da ansiedade, que são comuns durante essa fase. Por mais paradoxal que possa parecer, um dos melhores remédios para o cansaço do tratamento é justamente a atividade física regular.
Os ganhos são imensos e é importante que as pessoas que têm câncer e enfrentam a doença, tenham isso claro. Muitas vezes, um dos melhores remédios é uma boa dose de atividade física, seja ela qual for.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Quando a quimioterapia prejudica mais do que ajuda pacientes terminais de câncer

Apesar do tratamento salvar muitas vidas, pesquisa sugere que este caminho nem sempre é o melhor

REDAÇÃO ÉPOCA
23/07/2015 - 16h41 - Atualizado 23/07/2015 16h49

Decidir qual o melhor tratamento para uma doença é uma tarefa difícil. Com um diagnóstico de câncer terminal, é ainda mais complicado: alguns defendem que a luta deve ir só até certo ponto, sem ultrapassar limites. Segundo estudo publicado no periódico científico JAMA Oncology, a quimioterapia pode ser ineficaz em alguns casos de câncer terminal.

Os pesquisadores avaliaram um grupo de 312 pacientes terminais, que não tinham mais de seis meses de vida. Para metade deles, pelo menos uma – ou múltiplas – etapa da quimioterapia não teve resultado: os tumores continuaram se espalhando para outras partes do corpo. Além disso, a diminuição de tumores foi de 0% a 2%, o que não é uma grande mudança neste caso.

Nesses casos, a pesquisa sugere que não há evidências de que a quimioterapia seja a escolha certa para o tratamento. Holly Prigerson, diretor do Centro de Pesquisas na Universidade de Cornell, percebeu uma queda na qualidade de vida desses pacientes quando realizavam a quimioterapia em comparação aos que optavam por não fazê-la. Além disso, o tratamento prejudicava as atividades diárias, fazendo com que eles se sentissem pior. Em outras palavras, não ofereceu nenhuma mudança ou benefício significante para a saúde.


A decisão de continuar ou não os tratamentos depende de cada paciente, mas o pesquisador espera que os resultados ajudem a informar sobre as escolhas de quem tem câncer terminal. Muitos pacientes acreditam que as etapas da quimioterapia podem fazer com que se sintam melhor, o que está sendo colocado em xeque. “A constatação de que a qualidade de vida foi prejudicada com a quimioterapia não foi surpreendente em si. Mas o que surpreendeu foi que as pessoas que estavam se sentindo melhor no início da terapia terminaram se sentindo bem pior”, disse à TIME. A quimioterapia fez os pacientes se sentirem pior sem trazer benefícios significantes para a saúde deles.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"O câncer me deixou devastada. Me senti traída pela vida"...

Da dura lição aprendida com o câncer de mama, Gilze Maria tirou a coragem para ajudar outras mulheres com a doença
Chris Bertelli, iG São Paulo | 16/12/2011 11:00

Tudo começou com um sonho. Sonho, não. Pesadelo. No início do ano 2000, Gilze Maria Costa Francisco acordou sobressaltada depois de uma noite agitada.

“Levantei com uma sensação de morte, de que alguma coisa estava errada. Logo pensei no meu marido e na minha filha, e naquela mesma semana os dois fizeram uma bateria de exames, um check-up completo”, relembra.

Os resultados mostraram que pai e filha estavam com a saúde em dia, mas a notícia não a tranquilizou. Aquela sensação ainda a perturbava.

Exatamente um mês depois, em um domingo, ao assistir um programa que falava sobre o autoexame de mama, ela teve um estalo. Entrou no banho, colocou as mãos sobre os seios e sentiu o nódulo. Sua experiência como enfermeira e sua familiaridade com a anatomia do próprio corpo não a deixaram ter dúvidas de qual seria o diagnóstico: câncer de mama. De caráter firme, Gilze não chorou, nem se desesperou, mas procurou logo o apoio da família.

“Sentei na sala e disse a eles que estava com câncer, que havia sentido o nódulo”, conta. Os dois, esperançosos, preferiam esperar uma definição médica. Gilze, no entanto, tinha certeza.

Na manhã seguinte, procurou um amigo mastologista e contou a história, do pesadelo ao autoexame. O médico pediu uma mamografia, realizada na sequência, que confirmou a suspeita. “Quando olhei a chapa, dei de cara com a doença”, relata.

“O câncer me deixou devastada. Me senti traída pela vida. Sempre fui o porto seguro da família. Apesar de obesa, sedentária, e de ter menstruado muito cedo, mesmo com todos esses fatores de risco, me questionei: por que eu?”, recorda.

A pergunta, recorrente entre quem recebe o diagnóstico, ecoou durante meses.

“Passei por todas as fases: negação, raiva, barganha, depressão e finalmente a aceitação”. Neste momento, a perspectiva de Gilze mudou.

“Entendi que não tinha feito nada para merecer ser imune ao câncer e que não era uma questão de merecimento ou culpa”, relata.

Sem rotina

Foi o início de uma grande transformação interior e exterior e também da batalha pela vida, permeada por sessões de quimioterapia e uma mastectomia agressiva que a deixou sem uma das mamas, sem músculos peitorais e sem boa parte da axila.

“Havia apenas um buraco. Minha pele grudava nas costelas, e olha que eu era gordinha na época.”
Olhar-se no espelho era difícil e quase impossível reconhecer a figura refletida ali. Sem cílios, sem cabelos, sem um dos seios e sem uma rotina que pudesse seguir, Gilze descontruía a própria identidade.

“Estava me perdendo de quem fui um dia. Não podia passar rímel, nem escovar os cabelos. Colocava a peruca e achava estranho. Passava os dias em consultórios, clínicas de exame e hospitais. Não queria encontrar pessoas, sair era doloroso e nunca me sentia à vontade nas roupas”, diz. No mal-estar com o que vestia estava escondido o receio constante de que notassem a ausência da mama.

“As mulheres são alvejadas num membro que nutre, embeleza e seduz. Somos flechadas no maior símbolo de feminilidade. Então, quando perdemos o seio, sentimos a ausência de tudo isso, é um luto de uma parte importante da mulher."

Para aplacar os sentimentos, recorreu à família, especialmente ao marido, que se mostrou o companheiro perfeito para todas as horas.

“Ele não tinha palavras para me consolar e a minha dor era tão lancinante que ninguém podia alcançá-la. Ele soube entender e só me dizia: ‘você já venceu.’”. Era o suficiente.

A filha, na época com 11 anos, preferiu o silêncio e o distanciamento. Foi preciso chamá-la para uma conversa franca e emocionada.

“Coloquei-a no colo e falamos de coração aberto. Ela me disse: ‘Mãe, você é tão forte que sei que nada vai acontecer. Prometa que fará tudo direitinho porque não vou agüentar ficar sem você”, lembra.

Dez meses e duas perucas depois, no dia 28 de fevereiro, Gilze finalmente controlou o câncer. Faltava ainda uma prótese que ocupasse o vazio deixado pela doença e também trabalhar todas as emoções e sentimentos que afloraram e passaram a fazer parte da nova pessoa que ela era. “Percebi que o melhor era viver os momentos ruins com intensidade, mas os bons momentos com mais intensidade ainda”, afirma. “Aprendi a conjugar os verbos reavaliar, readmitir, reaprender, rever."

Instituto

A inversão para o lado dos pacientes fez com que a enfermeira pudesse sentir as dificuldades e agruras das mulheres que travam uma luta contra um dos principais problemas de saúde femininos. Na internet, Gilze encontrou notícias desencontradas, informações incorretas e opiniões descabidas. Dessa busca, nasceu a decisão de construir um site com informações seguras para quem, como ela, tinha a doença. A página entrou no ar em março e era recheada de depoimentos dela própria, que escrevia nas crises de insônia. “Passei muitas noites em claro. Tinha medo de dormir e não acordar mais”, relata.

Centenas de emails lotavam a caixa diariamente. Com algumas mulheres, ela passou a se corresponder com frequência. Com outras, falava ao telefone. Gilze virou referência para quem buscava um ombro amigo, uma informação, ou simplesmente alguém que entendesse o momento delicado. O próximo passo, criar um espaço onde pudesse se dedicar a essas mulheres, pareceu óbvio.

“As mulheres são as mais desfavorecidas de ajuda. Porque elas passam a imagem de que podem tudo, fazem tudo, são fortes ao extremo. Na hora que a doença bate na porta, ela sente o desespero. E ainda assim, não quer que os filhos sofram, que o marido sofra. Nesse momento, qualquer ajuda, por menor que seja, faz uma grande diferença”, avalia.

Em fevereiro de 2002, nascia o Instituto Neo Mama, em Santos, litoral paulista, com o intuito de ajudar pessoas vitimadas pelo câncer e suas famílias. Com atendimento interdisciplinar que inclui oncologista, ginecologista, mastologista, psicóloga e nutricionista, hoje passam por lá cerca de 200 mulheres por mês, segundo a conta da própria Gilze. No cadastro da entidade, no entanto, já são mais de 2.300.

“Elas chegam aqui e percebem que não são as únicas a passar por isso. O diagnóstico é difícil de encarar, mas com estrutura, exame, médico e colo e ombro fica mais fácil”, acredita.

Para disponibilizar mamografias, fez um acordo com laboratórios e exibe seus banners no site em troca de exames gratuitos (quantos mais cliques, mais exames. Participe da campanha). Para consultas, abre sua agenda de telefones que contém os números dos principais mastologistas e hospitais do país.

“Eu ligo e peço o atendimento. Às vezes consigo na insistência ou graças às boas relações que tenho com os profissionais. É trabalhoso, mas faço com prazer”, orgulha-se.

Difícil mesmo são os casos em que não há mais o que ser feito. Com lágrimas nos olhos, a coordenadora do instituto diz receber até cinco mulheres nessas condições, em que o único recurso é garantir amparo e dignidade. “Dói muito. A gente vê de perto a evolução, ela vai minguando. A morte é muito palpável, você pode sentir a vida indo embora. É difícil ver uma delas no caixão e não se enxergar ou não se lembrar que há poucos dias ela estava fazendo bagunça”, chora.

Decote e praia

Não existem dados sobre quantos mulheres têm acesso à reconstrução mamária no País. No entanto, Gilze parece fazer parte da maioria que passa anos sem a cirurgia. Somente depois de uma redução de estômago e de eliminar 65kg ela pode finalmente colocar uma prótese. Foram 11 anos entre o aparecimento da doença e o novo seio. E sem banhos de mar, passeios na praia, vestidos tomara-que-caia ou decotes. “O novo peito é lindo, mas a cicatriz é para sempre."

A mudança no visual trouxe ainda mais confiança e disposição para essa mulher de sorriso aberto, fala franca e carinhosa.

"Acho que Deus me preseervou para isso. Comigo, não tem hora, não tem distância, não tem impedimento. Eu faço o que for preciso para ajudá-las. Tudo é recompensador", diz ela.

"Depois do câncer, você nunca mais é a mesma. A doença te marca como gado, no corpo e na alma. Mas você sobrevive”.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Estudos demonstraram a relação entre sobrevida ao câncer e qualidade de vida

Autora: Allison Gandey
Publicado em 19/06/2008

Chicago, Illinois — Dois grandes estudos de metanálise sugerem que pacientes que relatam uma boa qualidade de vida têm chance de sobrevida significativamente maior. Os trabalhos foram apresentados durante o 44° Encontro Anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e apontaram que o relatório feito pelo próprio paciente pode ser um indicador prognóstico e, talvez, um critério com valor indicador de sobrevida.

Dra. Angelina Tan, da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, chefe da pesquisa, disse ao Medscape Oncology que “a sobrevida de pacientes com câncer parece ter relação com a qualidade de vida” e acrescentou, ao apresentar o resultado da primeira metanálise, “se os médicos identificarem os pacientes que não apresentem boa evolução, poderão intervir e acreditamos que essa intervenção melhorará não apenas a sensação de bem estar do paciente, mas também seu tempo de vida.”.

Dra. Joanna Brell, do Ireland Cancer Center, em Cleveland, Ohio, chamou atenção para os estudos durante a sessão “destaques do dia” e disse estar bastante satisfeita com o tamanho da amostra. Sugeriu, ainda, que esses resultados formam uma nova e importante premissa que deve ser investigada.

Dra. Brell disse também que seria ótimo poder contar com um instrumento que medisse a qualidade de vida do paciente e pudesse quantificar os sentimentos que eles tentam explicar aos seus médicos.

A debatedora da sessão, Dra. Jamie Von Roenn, da Northwestern University, de Chicago, Illinois, disse que “agora nos movemos na direção certa”, concordando com essa atitude e aplaudindo a ASCO que nunca havia dado tantas atribuições ao tratamento dos pacientes como agora.

Estudo com mais de 3.700 pacientes

O estudo de metanálise do grupo da Dra. Tan envolveu mais de 3.700 pacientes de 24 centros de tratamento oncológico e coletou dados sobre a qualidade de vida no cotidiano através de um escala específica de 100 pontos.

O modelo de riscos proporcionais de Cox foi utilizado para o ajuste dos efeitos sobre os escores encontrados, raça, local, idade e sexo. Os pesquisadores descobriram que a qualidade de vida cotidiana é um fator prognóstico importante e independente na sobrevida global.

Segundo os pesquisadores, a magnitude do efeito foi igual, independentemente do local da doença, incluindo aparelho digestivo, geniturinário, pulmão, mama e cérebro.

Dra. Tann relatou que “o bem estar do paciente deve ser considerado como uma variável importante e relacionada com a sua sobrevida” e complementou, “se o paciente relata uma qualidade de vida com pontuação inferior a 5 em uma escala de 0 a 10 (ou menor que 50, em escalas que variam do 0 a 100), sua sobrevida média é inferior àquele que não relatou este déficit”.

A pesquisadora indicou ainda que uma alta qualidade de vida cotidiana não é um indicador de longevidade, mas uma baixa qualidade está relacionada com um risco de óbito duas vezes maior em 1, 2 ou 3 anos.

Segundo estudo com mais de 10.000 pacientes

Os resultados da segunda metanálise foram apresentados por Chantal Quinten do departamento de qualidade de vida da European Organization for Research and Treatment of Cancer (EORTC) de Bruxelas, Bélgica.

Essa pesquisadora estudou 30 ensaios clínicos randomizados com mais de 10.000 pacientes – que preencheram um questionário de avaliação da qualidade de vida da EORTC – e seus dados de sobrevida. Os pesquisadores avaliaram a qualidade de vida relacionada à saúde através de 15 escalas padronizadas e os dados clínicos incluíram idade, sexo, metástases à distância, classificação da OMS e localização da doença.

Os pesquisadores avaliaram a significância prognóstica dos dados através do modelo de riscos proporcionais de Cox. Foram aplicados modelos de validação (bootstrap resampling) para verificar a estabilidade dos modelos estatísticos.

Variáveis clínicas com possibilidades prognósticas

Estado físico global
Funcionamento cognitivo
Estado de saúde
Fadiga
Náusea e vômitos
Dor
Dispnéia
Perda de apetite

Conforme conclusão dos pesquisadores, parâmetros de qualidade de vida fornecem informações sobre o prognóstico do câncer de 11 locais diferentes.

Os autores solicitam que mais pesquisas sejam realizadas para confirmação desse achado e, uma vez validado, sugerem que a qualidade de vida seja considerada uma variável de estratificação em ensaios clínicos futuros.

Dra. Tan concordou com a inclusão de dados sobre a qualidade de vida em futuros ensaios clínicos oncológicos terapêuticos e que estudos adicionais são necessários.

Ela reconheceu ao Medscape Oncology que restam ainda muitos desafios a serem cumpridos e disse que pretende trabalhar com objetivo de identificar “como e quando os clínicos podem fornecer o melhor apoio aos sentimentos de bem estar de seus pacientes”.

44º Encontro Anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO). Abstract 9515 e 9516. Apresentado em 2 de junho de 2008.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Atividade Física e os Efeitos Colaterais de Tratamento do Câncer

Autores: Sandra Helena Correia Diettrich e Carlos Roberto de Rezende Miranda

Publicado: Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005.

RESUMO
O objetivo deste estudo foi identificar evidências científicas sobre a eficácia de programas de atividade física no combate aos efeitos colaterais resultantes dos tratamentos de câncer. Para tanto, selecionou-se alguns estudos que vêm buscando discutir essa problemática nos últimos anos. Os achados na literatura vêm indicando alguns benefícios de programas de atividade física em pacientes sob tratamento de câncer, entre eles, aumento da força muscular e da capacidade funcional, controle do peso corporal, redução da fadiga, melhora da auto-estima e do humor e conseqüentemente melhora da qualidade de vida. Contudo, as pesquisas realizadas até o presente momento apontam algumas falhas metodológicas sendo: a) avaliação das condições físicas baseadas apenas em relatos dos pacientes; b) programas de atividades físicas sem supervisão e/ou orientação profissional; c) pouco tempo de duração do programa não acompanhando todo o tratamento e d) programas de atividades físicas que englobam apenas atividades aeróbias, desconsiderando atividades de resistência e/ou alongamento. Não obstante dos resultados positivos encontrados sobre a eficácia dos programas de atividade física para combater os efeitos colaterais dos tratamentos de câncer, as lacunas metodológicas existentes nos estudos abordados, indicam a necessidade de novas pesquisas sobre este tema.

1 INTRODUÇÃO.
O câncer é uma doença que aparece responsável como uma das primeiras causas de morte no país e, infelizmente, esse não é o único problema dos pacientes que são acometidos pela doença, sendo os tratamentos utilizados para combatê-lo, muitas vezes, acompanhados de efeitos colaterais que comprometem a qualidade de vida dos pacientes por longos períodos.

O tratamento de câncer, de forma geral, de acordo com o grau de evolução da doença, é pautado em intervenções cirúrgicas, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia e os efeitos colaterais do tratamento implicam, na maioria das vezes, em sensação de extrema fadiga, em geral, associada à perda de peso e à redução da força muscular, bem como, quadros de depressão afetando o aspecto psicológico do paciente.

Nesse sentido, alguns estudos parecem indicar preliminarmente que a prática da atividade física em pacientes em tratamento de câncer pode reduzir consideravelmente os efeitos colaterais do referido tratamento.

2 DESENVOLVIMENTO.
Os tratamentos de câncer são responsáveis por efeitos colaterais que interferem na qualidade de vida do paciente e implicam na maioria das vezes em sensação de extrema fadiga, em geral associada à perda de peso e à redução da força muscular, bem como, quadros de depressão afetando o aspecto psicológico do paciente. Em se tratando do tratamento de quimioterapia, os efeitos colaterais mais freqüentes são náuseas, vômitos, fadiga e queda de cabelo, que podem variar de um paciente para o outro.

Aproximadamente 75% dos indivíduos que sobrevivem ao câncer relatam sensações extremas de fadiga durante a radioterapia ou quimioterapia, em geral associadas à perda de peso e à redução da força muscular e da resistência cardiovascular. Para o Instituto Nacional do Câncer a fadiga é a sensação de cansaço extremo devido à combinação de sintomas físicos e mentais. Essa sensação é praticamente universal no estágio final da doença, no entanto, é o sintoma para o qual se tem as soluções menos satisfatórias, sendo que uma das indicações para tentar minimizá-lo é a estimulação de pequenas atividades físicas para preservar a força muscular, sem ser estabelecido, contudo, a medida ou indicação mais precisa dos tipos de atividades ou níveis de intensidades que compreendem os programas indicados.

Schwartz (1999) analisou a relação entre fadiga, exercício físico e qualidade de vida em vinte e sete pacientes com câncer de mama que começaram o tratamento de quimioterapia, sendo todas as medidas obtidas antes e depois do referido tratamento. O estudo demonstrou que mulheres que adotaram o programa de exercício apresentaram um aumento significante nas habilidades funcionais e pouco ganho de peso.

Mock et al (2001) tiveram como proposta descrever padrões de fadiga diária em mulheres com câncer de mama que estavam recebendo entre o primeiro e terceiro ciclo de quimioterapia adjuvante, separadas em grupos de praticantes e não praticantes de exercício físico. O grupo de praticantes recebeu instruções para seguir e manter oito semanas de programa de exercícios diários em casa, sendo avaliado em pré e pós-testes de exercícios físicos. O resultado do estudo demonstrou padrões distintos de fadiga entre os grupos, sendo que as mulheres que adotaram o programa de exercícios apresentaram menos dias de níveis de fadiga alta e mais dias de níveis de fadiga baixa e na pior das hipóteses tiveram nível médio de fadiga, ao contrário de mulheres que não se exercitaram.

Battaglini et al (2003), após efetuarem um estudo de revisão sobre os efeitos do exercício físico sobre o câncer, ressaltam que muitos pesquisadores sugerem o exercício físico como a solução de reabilitação para a baixa energia em pacientes com câncer. Os autores citados acima relatam que algumas complicações podem ocorrer quando os pacientes não são ativos durante e após o tratamento de câncer. Com a redução ou a ausência da atividade física, ocorrem mudanças nas propriedades dos músculos, causando atrofia muscular e redução da densidade óssea, em que a soma desses dois fatores diminui a força músculo esquelética e a performance, contribuindo para o risco de fraturas ósseas e prejuízos músculo esqueléticos. Atrofia músculo esquelético e mudanças na propriedade do músculo contribuem para o declínio da eficiência cardiovascular, que refletem no aumento de taxas do coração e aumento de pressão sanguínea. A combinação da redução da eficiência cardiovascular com o aumento de nível de colesterol e declínio dos níveis de HDL decorrentes da inatividade contribui para o aumento de riscos cardiovasculares. A inatividade física diminui também a função pulmonária, diminuindo a função do músculo respiratório.

A revisão de literatura efetuada por Battaglini et al (2003) demonstra ainda que os declínios da capacidade funcional são experimentados por um terço dos pacientes de câncer e podem ser atribuídos a condições hipocinéticas desenvolvidas por prolongada inatividade física. A condição hipocinética pode causar a redução da eficiência dos sistemas de energia, bem como, pode ter alguns efeitos sobre os níveis de hormônios devido ao desequilíbrio homeostático.

Alguns estudos (Courneya, 1999, 2000, 2002; Dimeo, 1999, Mackey & Jones, 2000) parecem indicar preliminarmente que a prática da atividade física pode atuar em sentido adverso da condição hipocinética em pacientes em tratamento de câncer, podendo reduzir consideravelmente os efeitos colaterais do referido tratamento.

Courneya et al., (2000) descrevem que o exercício tem efeito positivo em ampla extensão nos parâmetros de qualidade de vida, depois que os pacientes foram diagnosticados como tendo câncer. Os autores, ao efetuarem revisão de literatura em 24 estudos sobre exercício físico e qualidade de vida após o diagnóstico de câncer, publicados entre 1980 e 1997, observaram que a maioria dos estudos examinou a relação câncer de mama em estágio precoce e exercício aeróbio e concluíram que o exercício físico tinha consistentes efeitos positivos na qualidade de vida, incluindo bem estar físico, funcional, psicológico e emocional.

Os benefícios da atividade física em pacientes com câncer estão relacionados de acordo com Courneya (2001) ao: aumento da força muscular e da capacidade funcional, controle do peso corporal, redução da fadiga, melhora da auto-estima e do humor e, conseqüentemente, melhora da qualidade de vida.

Conforme revisão efetuada por Courneya (2002), mais de 40 estudos têm investigado a prática da atividade física e a qualidade de vida nos sobreviventes de câncer; no entanto, poucos deles foram estudos randomizados controlados. Eles investigaram a atividade física, tanto durante a quimioterapia e a radioterapia quanto no pós-tratamento, sendo que o resultado da maioria dos estudos realizados apontou benefícios positivos na qualidade de vida, melhoria da aptidão, melhor composição corporal e redução da fadiga, bem como melhoria do estado de humor tais como: depressão, ansiedade, entre outros. Nesse sentido, a conduta de se manter o paciente em repouso durante o tratamento de câncer parece potencializar os efeitos colaterais do mesmo, sendo o sedentarismo prejudicial para a qualidade de vida do paciente em tratamento.

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Battaglini et al (2003) afirmam que exercício físico tem demonstrado potente intervenção para pacientes com câncer, mas que também pode apresentar alguns riscos. Para que sejam efetivos e seguro, exercícios deveriam, de acordo com os autores, serem prescritos incluindo cinco critérios: a) capacidade individual; b) tipo de exercício; c) intensidade do exercício; d) freqüência e duração do exercício. Os autores ressaltam que programas de treinamento de exercício físico que incluem tanto componentes anaeróbios quanto componentes aeróbios deveriam fazer parte integral no estilo de vida de pessoas que estão em tratamento de cânceres, sobreviventes ou são recorrentes da doença.

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3 REFERÊNCIAS
ACSM – AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2000.
Battaglini C, Battaglini B, Bottarro M. The effects of physical exercise on cancer: a review. 2003. Disponível Internet <> (2003, junho, 22)
Brasil. Ministério Da Saúde. Instituto Nacional De Câncer/Inca Coordenação De Programas De Controle Do Câncer/Pro-Onco. Câncer de Mama. INCA/Pro-Onco, 2002
Caspersen C, Kriska A, Deawoth S. Physical activity epidemiology as applied to eldery populations. Baillière Clinical Rheumatology, 1994; 8: 7-27.
Courneya KS. Exercise interventions during cancer treatment: biopsychosocial outcomes. Exerc. Sports Sci. 2001; 29: 60-64
______.______, & McKenzie DC. Exercise for Breast Cancer Survivors, The Physician and Sportsmedicine, 2002; 30: 8.
_____________, Physical Activity and the Câncer Survivor. Presentation from American Institute for Cancer Research Nutrition After Cancer Conference, 2002. Disponível internet . (2003, março,15)
______________; Mackey JR, Jones LW. Coping with Cancer. Can Exercice Help? The Physician and Sportsmedicine 2000; 28: 5.
Dimeo FC, Stieglitz RD, Novelli F. Effects of physical activity on the fatigue and psychologic status of cancer patients during chemotherapy. Cancer 1999.
Land D & Mattimuller B. Exercise improves physical, mental health of breast câncer patientis. Disponível Internet
. (2003, maio, 14)
Mock V, Pickett M, Ropka ME, Muscari LE, Stewart KJ, Rhodes VA, McDaniel R, Grimm PM, Krumm S, McCorkle R. Fatigue and quality of life outcomes of exercise during cancer treatment. The Johns Hopkins University School of Nursing, Baltimore, 2001.
______.______.______.______, Physical activity, and incidence of cancer in diverse populations: a preliminary report. Am. J. clin. Nutr 1987; 45: 312-317.
Schwartz AL. Fatigue mediates the effects of exercise on quality de life. University of Washington, School of Nursing, Seattle, 1999.