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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Técnica reduz de 40 para 5 sessões de radioterapia contra tipo de câncer


Estudos clínicos demonstraram que a técnica é tão eficaz quanto a convencional (iStock/Thinkstock)
Surgem no País as primeiras iniciativas de radioterapia ultra hipofracionada contra tumor na próstata, que reduz o número de sessões em 87,50%
Por Estadão Conteúdo
access_time19 jul 2018, 19h14 - Publicado em 19 jul 2018, 19h10
São Paulo – Uma nova técnica tem permitido reduzir o número de sessões de radioterapia contra o câncer de próstata. Para a doença, geralmente são previstas 40 sessões. Com o tratamento chamado de hipofracionamento moderado, chegou-se a 20. Agora, surgem no País as primeiras iniciativas de radioterapia ultra hipofracionada contra esse tipo de tumor, que reduz o número de sessões para cinco.

Nesse formato, são aplicadas altas doses de radiação sobre o tumor, o que permite menos aplicações. A abordagem, também conhecida como hipofracionamento extremo ou SBRT, já é adotada contra alguns tipos de câncer, como o de pulmão. Mas é nova quando se trata do de próstata – segundo mais prevalente entre os homens. Estima-se que, neste ano, serão 68.220 novos casos da doença.
A opção começou a ser oferecida nos últimos meses no Hospital Sírio-Libanês e no Mãe de Deus, em Porto Alegre. Já no A. C. Camargo Cancer Center, os dois primeiros casos de SBRT foram feitos este mês. “Os benefícios são menor tempo de tratamento, menos transtorno (do paciente) com deslocamento e, muito provavelmente, melhora do índice de controle bioquímico da doença”, afirma Antônio Cássio Pelizzon, líder da equipe de radioterapia do A. C. Camargo.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, também se prepara para aderir ao hipofracionamento extremo para o câncer de próstata, após a instalação de um equipamento inédito no País, o acelerador linear Halcyon. Além de permitir menos sessões, torna cada sessão mais rápida – cai de 25 minutos para oito. “Em vez de tratar quatro pacientes por hora, posso tratar seis. Isso amplia o acesso, agrega valor e reduz o custo da inovação”, diz Rodrigo Hanriot, coordenador de radioterapia do hospital.
Por enquanto, o hipofracionamento extremo é indicado para tumores restritos à próstata, de risco baixo ou intermediário. Pacientes com problemas crônicos no trato urinário não são bons candidatos – estudos mostram que, especialmente nesse grupo, pode haver efeitos colaterais (como ardor e aumento da frequência urinária), diz Andrea Barleze da Costa, gestora de Radioterapia do Mãe de Deus.
O hipofracionamento moderado ganhou força após dez estudos clínicos de fase 3 (alto nível de evidência), conduzidos em grandes centros de pesquisa, demonstrarem que a técnica é tão eficaz quanto a convencional. Para Arthur Accioly Rosa, da Sociedade Brasileira de Radioterapia, o modelo é uma mudança de paradigma.
Eficiente, a técnica se tornou tendência em vários países. Mas, como diz Elton Leite, do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), a popularização no País envolve questões ligadas a equipamentos e modelos de remuneração. Para aplicar altas doses de radiação com segurança, é preciso tecnologia que permita monitorar a localização precisa do tumor.
Uma opção é o IGRT ( radioterapia guiada por imagem), pouco disponível no Brasil e sem ressarcimento pelo SUS e pelas operadoras. Outra é o Calypso, recém-instalado pelo Sírio, que trabalha com emissão de sinais – dispositivos implantados na próstata avisam (25 vezes por segundo) se está no alvo e, diante de um desvio, a radiação é interrompida.
De modo geral, a radioterapia no País é paga conforme o total de sessões – se há menos, o valor cai. “É um verdadeiro paradoxo”, diz João Luís Fernandes da Silva, do Departamento de Radioterapia do Sírio. Por isso, hospitais têm negociado pacotes com operadoras para todo o tratamento.
Jornada
Quando José Nei Garcez, de 80 anos, descobriu que tinha câncer de próstata, em março de 2017, iniciou uma jornada em busca de tratamento. Morador de Dom Pedrito (RS), na fronteira com o Uruguai, passou por médicos de outras duas cidades antes de ser indicado para o hipofracionamento extremo no Hospital Mãe de Deus.
Após uma semana, voltou para casa. “Se fossem muitos dias, era capaz de adoecer mais. Estava com saudade de casa, dos filhos”, diz. “O tratamento em menos tempo foi grande vantagem para o aspecto emocional”, conta a filha Clarisse, de 41 anos. Ele, que faz tratamento hormonal a cada três meses, diz não sentir efeito colateral. “Hoje me sinto ótimo. Foi um sucesso.”

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Radioterapia de prótons pode evitar que crianças curadas voltem a ter câncer uma segunda vez


Paciente recebe terapia de prótons no Hospital Universitário de Heidelberg, na Alemanha (Foto: Siemens Divulgação )

Tratamento contra o câncer impede que radiação afete tecidos saudáveis. Entenda por que isso é particularmente importante em tumores infantis.

Por Monique Oliveira, G1
12/12/2017 06h25  Atualizado há 2 horas

Um tipo de radioterapia contra o câncer com base em prótons, as partículas subatômicas de carga positiva, impede que a radiação atinja tecidos saudáveis. Isso evita o surgimento de tumores "radioinduzidos" décadas após o tratamento, dizem especialistas, e isso é especialmente importante para o tratamento em crianças.

O primeiro aparelho foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início do novembro para uso no Brasil. No entanto, os custos, a necessidade de grande infraestrutura e o fato de seus benefícios nem sempre serem imediatos ainda são impeditivos para que o acesso a esse tratamento seja ampliado rapidamente.

A terapia tem como principal vantagem sua especificidade: a radiação atinge somente o tumor. Quando fazemos uma radioterapia comum contra um tumor específico, por exemplo, outros tecidos adjacentes, saudáveis, são atingidos. Em alguns casos, mas não frequentemente, esses tecidos antes normais podem se transformar em tumores induzidos por radiação décadas mais tarde.
Qual a diferença entre radioterapia e quimioterapia?
A radioterapia utiliza a radiação para “arrancar” o DNA das células malignas e, com isso, destruí-las. A usada na medicina é de um tipo específico: a ionizante. Essa radiação tem uma energia tão forte que consegue desprender os elétrons do átomo, o que altera totalmente a estrutura do alvo.
Já a quimioterapia, não tem por base a radiação, mas o uso de compostos químicos que circulam pela corrente sanguínea. Uma outra diferença é que a quimioterapia tem por alvo também a metástase, e não só o tumor de origem, já que circula por todo o corpo.

O problema pode ocorrer quando os tumores que recebem a radiação são infantis -- e essas crianças que receberam a radiação têm de enfrentar um segundo câncer quando ficam mais velhas, como resultado do tratamento feito quando jovens. Um dos tumores induzidos por radiação, por exemplo, é o linfoma (tumores do sistema linfático, responsável pela produção dos glóbulos brancos) e o sarcoma (tumores das partes moles, como aqueles de tecidos musculares).

“Em uma pessoa que recebe a radioterapia aos 60 anos, isso não é uma preocupação, mas em crianças, sim”, diz Antônio Cássio Pellizzon, diretor de radioterapia do A.C. Camargo Cancer Center.

Para tentar resolver esse problema, a medicina há algum tempo tem apostado na terapia de prótons, ou “proton beam therapy”, como é comumente mencionada em artigos científicos.



A terapia chegou a ser objeto de uma disputa no Reino Unido há três anos. O menino Ashya King estava recebendo o tratamento para um tumor de cérebro, mas foi retirado do hospital pela família, que o levou para a Espanha.
Eles iriam vender um apartamento na Espanha para que King pudesse realizar a terapia de prótons na República Tcheca. A família chegou a ser presa em Madri porque a remoção não teria sido autorizada por médicos, mas solta logo depois. Em 2015, a família divulgou que o menino não tinha mais sinais do tumor.

A terapia está disponível em larga escala nos Estados Unidos e em alguns países da Europa e da Ásia. Não há tratamento disponível na América Latina, embora haja informações de que um aparelho tenha sido vendido na Argentina.

Em relação ao Brasil, a empresa americana que teve o aparelho aprovado na Anvisa, a Varian Medical Systems, informa que mantém negociações no país. “Existe um interesse crescente de algumas instituições líderes no Brasil para analisar a tecnologia, bem como o investimento envolvido, mas não podemos dar mais detalhes”, disse Mark Plungy, do marketing da Varian.

A terapia e as evidências
Induzida por prótons, a nova terapia consegue ser direcionada especificamente para o tumor-alvo. Células saudáveis, dessa maneira, ficam praticamente livres da radiação. Uma outra indicação da abordagem é a aplicação em alguns tumores inoperáveis, como alguns de cabeça e pescoço. Células malignas próximas a regiões sensíveis no cérebro, por exemplo, também se beneficiaram de uma radiação mais focada -- como foi o caso do garoto no Reino Unido.
Especialistas salientam que a principal vantagem da terapia de prótons sobre as atuais é justamente a pouquíssima radiação que vai para os tecidos saudáveis. Mas não há evidências de que a terapia de prótons seja mais eficazes que os tratamentos usados atualmente.

"Ainda não foram apresentados estudos dizendo que o benefício clínico é superior", diz Arthur Rosa, presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia. "Mas você entrega muito menos dose nos tecidos adjacentes. Quanto menos radiação espalhada, melhor."

Indicações de uso
Hoje, a terapia tem indicação específica (o que significa que seria uma das primeiras indicações terapêuticas) para tumores oculares, tumores da espinha, tumores da base do crânio e tumores do fígado. Outras indicações poderiam ser avaliadas a depender do caso. “Uma mulher com câncer de mama, por exemplo, que, por alguma cardiopatia, não poderia receber nenhuma radiação no coração”, diz Pelizzon.

Outra indicação da terapia de prótons é em áreas que já receberam radiação anteriormente. “Se esse tumor volta, não são todos os casos em que a radioterapia pode ser indicada novamente. Os tumores de próstata são exemplos disso também por uma série de condições anatômicas”, explica Pellizzon.

A diferença da terapia de prótons para as terapias atuais
Na radioterapia por feixe de fótons, como é chamada a radioterapia mais usual, a radiação costuma atravessar o corpo do paciente, explica Eduardo Weltman, médico rádio-oncologista do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein. É essa mesma radiação que faz as imagens por raio-x. As radiografias são produzidas justamente porque a radiação atravessa o corpo.

Já no caso dos prótons, as partículas são jogadas diretamente no corpo, e elas não atravessam totalmente o organismo como no caso dos fótons – fato que lhes confere maior especificidade para atingir no tumor. “Quando o próton sai, ele vai até uma determinada profundidade e isso é a vantagem”, diz Weltman.

"Uma característica interessante do próton é que ele só vai se ionizar e liberar energia em uma determinada profundidade, e isso é fundamental", diz Rosa. O mecanismo descrito pelo especialista é conhecido como 'Pico de Bragg'.

O acelerador de partículas também demanda mais espaço e tecnologia porque os prótons têm mais massa que os elétrons; com isso, o custo é maior.

Uma das vantagens, no entanto, é que um mesmo acelerador de partículas pode tratar ao mesmo tempo 4 pacientes. “Se pensarmos em uma analogia, é como se fosse uma sala com um ar condicionado, por exemplo. A energia gerada pode tratar esses pacientes ao mesmo tempo”, explica Pellizzon.

A disponibilidade e o problema do custo
Toda a infraestrutura necessária para disponibilizar a terapia de prótons chegou a custar US$ 200 milhões no passado, com a necessidade de 5 mil m² de área dedicada. Hoje, esse montante é de US$ 30 milhões para algo entre 700 e 800 metros -- o preço, contudo, não caiu o suficiente para ser adotado em larga escala.

“Hoje, um acelerador linear ocupa 40 m²”, diz Pellizzon. “Então, a terapia de prótons, além de ter um custo mais alto, também tem uma demanda de espaço que é cara em muitas cidades”, completa.

Outra questão é que o acelerador deve ser instalado com especificações rígidas -- como a necessidade de quatro andares para que a radiação não atinja o solo, e que o local suporte o peso dos equipamentos.

O superintendente de Negócios do A.C. Camargo Cancer Center, José Marcello Amatuzzi, diz que avalia a chegada da terapia de prótons no Brasil há dois anos. “Estamos acompanhando os preços”, diz.

Segundo Amatuzzi, mesmo com o alto investimento, o retorno da tecnologia só viria daqui a três anos pela dificuldade de implementação da infraestrutura – que depende de um síncroton, um acelerador de partículas capaz de produzir o feixe de energia que irá ser direcionado ao tumor.

Já Eduardo Weltman, do Einstein, diz que já dá para alguns centros no Brasil começaram a pensar na implementação, e é o que deve acontecer nos próximos anos.

“O avanço foi muito grande e os aparelhos ficaram mais portáveis, mas, claro, não vai ser algo que vai dar lucro, pelo contrário, muitos centros nos Estados Unidos estão quebrando. Então, isso vai vir de instituições que não têm o lucro como uma meta primordial”, diz.

Há riscos também de o aparelho gerar processos judiciais para a utilização pelo alto custo – e não se sabe como será a regulamentação no Brasil.

Para Arthur Rosa, uma estratégia interessante é o desenvolvimento de um centro de prótons público ou privado que pudesse atender pacientes de diversos hospitais. "Se há vários centros, algumas máquinas podem ficar ociosas porque a terapia acaba tendo uma utilização mais específica. O melhor seria um consórcio para que um único centro pudesse atender a vários pacientes."


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Maioria de mulheres com câncer de mama faz radioterapia por tempo excessivo


Radioterapia é usada para tratamento precoce de câncer de mama: três semanas bastam, aponta estudo
AFP 10/12/201418h17
Em Washington
 
Dois terços das mulheres com câncer precoce de mama são tratadas com radioterapia por mais tempo que o necessário, segundo estudo publicado nesta quarta-feira (10) em um jornal especializado em medicina nos Estados Unidos.

A grande maioria das mulheres submetida nos Estados Unidos à retirada de um tumor para preservar a mama recebeu radioterapia de seis a sete semanas, segundo o Jornal da Associação Médica Americana (JAMA).

Mas testes clínicos e recomendações de várias associações médicas dos Estados Unidos indicam que três semanas bastam, usando a técnica denominada radioterapia hipofracionada.

O procedimento consiste em administrar doses mais elevadas de radiação por sessão durante duas vezes menos tempo. Este tratamento é eficaz para tratar o câncer de mama, além de ser mais prático e barato.

"A radioterapia hipofracionada não costuma ser usada em mulheres com câncer precoce de mama, mesmo sendo de melhor qualidade e mais barato", explicou Justin Bekelman, professor de radiologia de câncer e principal autor do estudo.

"Clinicamente, isto equivale a uma radioterapia mais longa para um câncer de mama com efeitos colaterais similares", destacou.

A radioterapia diária entre cinco e sete semanas para mulheres operadas de um tumor em estágio inicial foi o tratamento privilegiado durante décadas nos Estados Unidos.

Os autores determinaram que, em 2013, 34,5% das mulheres com mais de 50 anos receberam radioterapias hipofracionadas contra 10,8% em 2008. Mas entre as mulheres jovens e aquelas com tumores mais avançados, só 21,1% se beneficiaram deste tratamento no ano passado.

Os cientistas determinaram que este tipo de radioterapia reduz os custos totais dos cuidados com seguro de saúde.