quarta-feira, 30 de julho de 2014

Terapia anti-ruga de famosas que usa sangue pode ativar células cancerosas

Camila Neumam
Do UOL, em São Paulo
10/07/201406h00

Famosas fazem tratamento antirrugas que usa o próprio sangue3 fotos

  
A apresentadora de TV Luciana Gimenez postou vídeos e fotos do momento em que se submetia ao tratamento conhecido como lifting do Vampiro em Nova York. A técnica consiste em injetar no rosto parte do sangue retirado do corpo do próprio paciente e promete deixar a pele mais lisa, o que é contestado por médicos. O procedimento é proibido no Brasil Reprodução/Instagram

O tratamento que usa injeções de sangue do próprio paciente para acabar com rugas ficou conhecido no Brasil depois que a apresentadora Luciana Gimenez postou um vídeo de uma sessão feita por ela em Nova York. "Estou sofrendo pela beleza", disse.

A técnica conhecida nos Estados Unidos como Vampire Facelift (lifting do Vampiro) promete acabar com rugas pouco profundas da pele, usando o plasma do sangue do paciente separado em uma centrífuga.

Embora adotada por outras celebridades como a socialite norte-americana Kim Kardashian e pela modelo israelense Bar Refaeli, a técnica é proibida no Brasil pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e condenada por médicos que acreditam que ela pode ativar células cancerosas no organismo.

"O plasma rico em plaquetas vem sendo utilizado por alguns médicos com resultados diversos. Em virtude da variedade de tais resultados, ainda não é possível se definir o grau de utilidade nem aprovar em definitivo seu uso na prática terapêutica, tratando-se de procedimento experimental", diz um parecer do CFM de 2011. Nos Estados Unidos e na Europa o procedimento é legal. 

Ciência não comprova efeitos
Segundo o hematologista Dante Langhi Jr, diretor da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular) a técnica não é autorizada no Brasil por ainda ser usada sem um protocolo específico.

"Esse não é um procedimento médico padrão, pois tem sido feito de forma experimental. Faltam evidências científicas que comprovem seus resultados", diz.

Tanto o lifting do vampiro quanto a auto-hemoterapia (quando o sangue é injetado dentro do músculo com o intuito de reparar lesões no músculo e no osso) são práticas banidas pelo ABHH.

A auto-hemoterapia, que já foi considerada uma revolução no tratamento de atletas lesionados, pode causar infecções em vez de curar, segundo Langhi.

Processo pode ativar células cancerosas
Para a dermatologista Denise Steiner, presidente da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) o mau uso da técnica que usa o sangue pode ainda causar infecções pelo uso de sangue contaminado e até ativar células cancerosas.

"Embora se use muito a técnica na Europa, não há trabalhos científicos suficientes que comprovem a sua segurança em longo prazo. Da mesma forma que poderia estimular uma célula que produz colágeno, poderia estimular uma célula cancerosa", diz Steiner.

Para a dermatologista, as já consagradas injeções de ácido hialurônico e de toxina botulínica (botox) são indicadas no combate às rugas e são autorizadas pelo CFM.

"O botox e o preenchimento contêm substâncias que têm um tempo de duração no corpo. Já no plasma rico em plaquetas, você está injetando uma substância que vai estimular o colágeno de uma pessoa, sem precisão de quanto tempo ela vai agir no corpo. Falta objetividade", diz.

Médico americano defende técnica
O norte-americano Charles Runels, inventor do termo "Vampire Facelift", acha 'triste' o Brasil não liberar o uso da técnica no país, já que, segundo ele, há milhares de pesquisas médicas que comprovam seus benefícios mundo afora.

"Acho um pouco triste vocês não poderem usá-la, já que há mais de 10 mil pesquisas médicas sobre o assunto e pelo menos 300 médicos em sete países que a utiliza", diz.
Runels, que fez o procedimento em Kardashian no Alabama, diz ainda que, além do efeito estético, a técnica é indicada para diminuir cicatrizes e até para disfunção sexual e não tem efeitos colaterais graves.

"A terapia também ajuda com cicatrizes e, embora deixe hematomas, nunca houve efeito colateral sério em qualquer lugar que tenha sido feita".

Técnica ativa produção de colágeno
Na infusão de plasma rico em plaquetas, ou PRP, como o procedimento é conhecido no Brasil, o sangue é retirado do braço do paciente e levado a uma centrífuga onde se separa o plasma (líquido amarelado) dos glóbulos vermelhos (líquido vermelho). Feito isso, o médico injeta a parte amarelada nas partes do rosto onde há sinais de expressão.

É no plasma onde se concentram as plaquetas, que são fragmentos do sangue capazes de estimular células que ativam a produção de colágeno, proteína responsável por manter a pele firme. O efeito na pele surgiria após três semanas e duraria 15 meses, em média.

No vídeo postado na internet, Gimenez aparece gemendo de dor enquanto recebe algumas injeções do sangue próximo à boca e da testa. Já Kardashian postou fotos em que aparece com o rosto cheio de picadas e repleto de sangue, assim como a modelo israelense. 
 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Crianças em tratamento de câncer recebem doação de perucas

Renata Tavares
Do UOL, em Uberlândia
10/07/201410h00



Maria Luiza Tófolis foi a primeira criança a receber a peruca. A menina perdeu os cabelos logo nos primeiros dias de tratamento contra a leucemia, descoberta em novembro passado. Agora, quase próximo de receber alta da quimioterapia, ganhou uma peruca feita com cabelos naturais Renata Tavares/ UOL

Ter a sensação de ter os cabelos de volta em poucos minutos para quem faz quimioterapia, pode ser considerado um sonho. Para duas crianças de 10 anos que fazem tratamento no Hospital do Câncer em Uberlândia, a 537 quilômetros de Belo Horizonte, se olharem no espelho e verem os fios na cabeça foi motivo de muitos sorrisos. As duas foram as primeiras crianças pacientes do hospital a ganharem perucas feitas com cabelos naturais.

Maria Luiza Tófolis foi a primeira criança a receber a peruca. Ela é tímida, recebe a reportagem olhando para o telefone no leito do hospital, responde a todas as perguntas em voz baixa e quase sempre com duas frases. Descobriu a leucemia em novembro do ano passado. Perdeu os cabelos da cabeça logo nos primeiros dias de tratamento e agora quase próximo de receber alta da quimioterapia, ganhou uma peruca feita com cabelos naturais.

Com todo cuidado, a mãe Ana Paula Tofolis penteia os cabelos da peruca, arruma a tiara e coloca na cabeça da filha. Desde que recebeu o presente, do banco de cabelos do Hospital do Câncer de Uberlândia, Maria Luíza ou Malu como é chama por todos no hospital, não sai de casa sem antes coloca-la. "Eu me sinto mais bonita. Mais animada", disse.

Ana Paula conta que desde o início, a preocupação, além de toda as complicações da doença, era com a autoestima da filha. "Ela não costuma demonstrar muito os sentimentos. No início eu tive medo de ela reagir mal a perda dos cabelos, por ser muito vaidosa, mas ela foi forte e agora está melhor ainda".

Dois andares para baixo no hospital estava Lowise Maciel, 10 anos. A pequena, sofre com o sarcoma de Ewing, um tumor nos ossos que afetou o crânio dela. Segundo a pediatra Tatiana Macedo, esse é o segundo tipo de câncer mais comum em crianças.

Lowise, segundo a mãe Larissa Maciel, perdeu os cabelos na primeira sessão de radioterapia. "Nós ainda estávamos no hospital. Como aqui não tinha espelho, ela saiu sem se ver e eu tive muito medo da reação dela. Mas, assim que ela saiu do banheiro disse que estava linda carequinha e eu me senti mais tranquila", revela.

Mas, com o passar dos dias a menina se incomodou com o fato de que as crianças olhavam para ela de forma diferente. "Nós saíamos com ela e tinha sempre alguma outra criança perguntando porque ela não tinha cabelos". Larissa ainda conta que chegou a procurar algumas sintéticas, mas a criança não se adaptou.  "Sei que a falta dos fios a incomodou, porque sempre que vínhamos para a quimioterapia ela se arrastava. Era muito difícil, tinha que praticamente empurrá-la e quando ganhou a peruca, se arrumou toda e caminhava com passos firmes. Eu nem precisei me esforçar para trazê-la".

Parte dos cabelos doados para a peruca de Lowise, foi de uma amiga da família. A criança, ficou encantada com o que viu no espelho. "Quando me olhei, pensei 'tenho meus cabelos de volta'. Eu estava com saudades de me ver assim", concluiu a pequena. 

Interação social
A pediatra Tatiana Macedo explica que a criança tende a ser discriminada por outras quando é diferente, por isso, o uso da peruca além de ajudar a melhorar a autoestima, também melhora a interação com outras crianças. "Elas tem mais facilidade para lidar com a doença, que o adulto, mas passa a sofrer com os embates da interação social. Porque as outras crianças passam a achar diferente, questionar e algumas vezes excluem. E a peruca vem ajudar para que ela se iguale aos outros e tenha mais facilidade nesta interação", explica.

Os fios são doados ao hospital por mulheres e homens de todas as partes do país. O banco de cabelos HCU recebe uma média de 5 doações por dia, enviadas pelos Correios. "Nós também fazemos os cortes no hospital uma vez por semana. Neste dia, cerca de 10 mulheres vão lá e cortam os fios", revela Heliana Machado de Assis, coordenadora do banco de cabelos do HCU.

O projeto de confecção de perucas para os pacientes começou em 2012, porém, segundo Heliana Machado, elas eram feitas com cabelos artificiais e apenas para adultos. Desde o início do ano, ela e a cabeleireira Miriam Denezine, que também é voluntária, começaram a fazer com os cabelos naturais. "Fazemos uma por semana, porque são necessárias três doações para fazer uma só, porque há perdas durante o processo", disse.

Para ter acesso às perucas, os adultos pegam emprestado e quando os cabelos começam a crescer eles devolvem para que outros possam usar. Já para crianças, a confecção começou em junho deste ano com a aplicação de tocas de rede que não esquenta o couro cabeludo e que se ajusta à cabeça da criança.  "Nós queremos atender mais crianças a partir de agora", complementa Heliana.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Possível cura de câncer com vírus do sarampo é questionada por especialistas


Experiência feita nos EUA levanta polêmica
Jornal do Brasil - Rafael Gonzaga 24/05/2014

Pesquisadores de Minnesotta, nos Estados Unidos, conseguiram demonstrar que a manipulação do vírus do sarampo em uma técnica chamada virusterapia pode ser eficaz no combate contra o mieloma múltiplo, um tipo de câncer que atinge as células plasmáticas da medula óssea. A virusterapia é uma técnica onde o câncer é destruído com utilização de um vírus que infecta e mata as células cancerosas, poupando os tecidos normais. Os resultados foram divulgados em edição de maio do periódico “Mayo Clinic Proceedings”.
De acordo com o periódico, uma paciente de 49 anos diagnosticada com um tumor na testa e com o mieloma múltiplo recebeu uma dose intravenosa do vírus do sarampo conhecido como MV-NIS, seletivamente tóxico às células de plasma do mieloma.

A forte dose do vírus do sarampo manipulada em laboratório teria eliminado pela primeira vez o câncer da paciente. A dose utilizada no estudo continha 100 bilhões de unidades infecciosas do vírus do sarampo. Uma dose normal de vacina do sarampo contém 10 mil unidades infecciosas.

Apesar de apresentar efeitos colaterais como fortes dores de cabeça, o tumor na testa desapareceu e a medula ficou livre do mieloma. A remissão teria durado nove meses e, assim que o tumor na testa começou a reaparecer, os médicos o trataram com radioterapia local. A paciente continua fazendo acompanhamento para garantir que está livre do câncer.

O hematologista Stephen Russell, co-desenvolvedor da terapia, disse na publicação acreditar que essa possa se tornar uma cura de aplicação única. “Temos aqui um tratamento que você aplica uma vez e o efeito pode ser a remissão de longo prazo do câncer”, disse Russell.

Contudo, o oncologista Evanius Wiermann, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBCO), deixa claro que este ainda se trata de um tratamento experimental. “O que foi reportado foi um relato de caso individual e que não mudará a prática diária, mas que serve para levantar uma hipótese a ser testada em um futuro”, explica.

Uma segunda paciente acompanhada no estudo não obteve resultados tão satisfatórios. A outra paciente, que tinha tumores nas pernas, não conseguiu erradicá-los com a terapia. As duas pacientes, que já tinham sido expostas ao sarampo no passado, foram as primeiras pacientes a receberem a mais elevada dose possível do tratamento, que em doses menores inferiores não se mostrou efetivo.

O oncologista conta que é preciso tomar cuidado com uma possível empolgação com resultados iniciais de pesquisas. De acordo com ele, de cada 100 novas moléculas ou tratamentos para uma doença oncológica, apenas cinco chegam a ser submetidos a estudos clínicos mais avançados. Dentre esses cinco, apenas um é efetivamente incorporada ao mercado. “Ou seja, 99% são descartados no meio do caminho, seja por toxicidade ou por falta de eficácia comprovado”, conta Wiermann.

Para demonstrar como o processo de desenvolvimento e aprovação de uma pesquisa pode ser complexo, Wiermann conta que uma pesquisa de tratamento do câncer geralmente começa em estudos pré-clínicos, ou seja, sendo testado em animais. A partir daí, se for demonstrado benefício, esse tratamento é encaminhado para um tratamento clínico dividido em três fases. “Inicia-se por um estudo de fase 1, que avalia a dose e segurança do medicamente, depois a fase II, que avalia a eficácia e termina em uma fase III que compara este tratamento ao padrão para aquela doença no momento e, se for melhor ou igual, passa a ser uma nova opção de mercado”, explica.

Outros tratamentos já foram apresentados
De acordo com Wiermann, existem poucos tratamentos virais em oncologia. Um deles seria o T-VEC (virus talimogene laherparepvec), um tratamento baseado em injetar o vírus da herpes diretamente em lesões cutâneas de melanoma para promover a redução deles.

O tratamento é uma das mais recentes inovações na área e foi apresentado na edição de 2013 do Congresso Anual da Sociedade Norte-americana de Oncologia Clínica (Asco), principal evento da área em todo o mundo, mas ainda não é aprovado no Brasil ou nos Estados Unidos.

Wiermann explica que nesse tipo de tratamento, somente o tumor é contaminado. “É a primeira imunoterapia viral para o tratamento do melanoma. Este é um avanço muito interessante e certamente bem maior do que o resultado obtido com o vírus do sarampo, que se trata de uma situação muito mais pontual”, explica.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Samsung pede desculpas e promete recompensar funcionários vítimas de câncer

14/05/2014  09h42
Do UOL, em São Paulo
A Samsung pediu desculpas e prometeu compensações - não especificadas - aos funcionários ou famílias dos colaboradores que contraíram câncer enquanto trabalhavam em fábricas de chips na Coreia do Sul. O comunicado divulgado nesta quarta-feira (14) segue o lançamento de um filme e um documentário sobre o drama dessas vítimas de câncer.

A desconfiança de que a exposição de funcionários a produtos químicos poderia causar câncer ganhou força há sete anos, com a morte de uma funcionária de 22 anos, vítima de leucemia. O legislador Sim Sang-jeung, que defende a prevenção de doenças graves causadas no ambiente de trabalho, calcula que as vítimas entre funcionários da Samsung cheguem a 114 (considerando outras empresas sul-coreanas, o total seria 243 vítimas desde os anos 90).

O comunicado não assume haver uma relação direta entre os produtos químicos e as doenças, mas indica que a empresa deveria ter lidado antes com a questão. "Manifestamos nosso arrependimento pelo fato de uma solução para essa questão delicada não ter sido encontrada em tempo adequado. Gostaríamos de usar essa oportunidade para expressar nossas sinceras desculpas às pessoas afetadas", diz o texto.

A empresa também afirma que compensará os funcionários afetados e suas famílias. Outra promessa foi a de que não se envolverá em processos na Justiça relacionados a esses casos (houve apelo em algumas situações, quando os tribunais ordenaram a indenização das vítimas).

Assinado por Kwon Oh-hyun, diretor-executivo e vice-presidente da companhia, o comunicado não foi divulgado no site oficial da empresa. Agências como a AP receberam o informe por e-mail, enquanto a mídia local reportou que o próprio CEO leu o texto diante de repórteres.

Recentemente, quando a publicação
"Businessweek" confrontou a gigante sul-coreana em relação a esses casos, a empresa não quis discutir casos específicos. Afirmou apenas que havia gasto US$ 88 milhões em 2011 na manutenção e melhora de sua infraestrutura de segurança. 

Documentários
A história da ex-funcionária Hwang Yu-mi, que morreu de leucemia em 2007 aos 22 anos, deu origem ao filme "Another Promise" (Outra Promessa, em tradução livre). Lançado na Coreia do Sul em Fevereiro, o longa conta o drama da jovem e de seu pai, o taxista Hwang Sang-ki, durante a busca por tratamento e a batalha contra uma empresa fictícia chamada Jinsung.

Essa mesma história aparece no documentário "Empire of Shame", produzido durante três anos, que mostra as famílias de ex-funcionários doentes da Samsung.