quarta-feira, 25 de novembro de 2015

É possível um único remédio curar o câncer?


Camila Neumam
Do UOL,em São Paulo
26/10/201506h00

Quem pede pela liberação da fosfoetanolamina sintética fabricada e distribuída na USP São Carlos acredita que a substância pode curar qualquer tipo de câncer. Mas é possível um único composto tratar mais de cem tipos de doenças? Segundo os oncologistas consultados pelo UOL a resposta é não.
"É errado chamar o câncer de doença porque na verdade é um conjunto de mais de cem doenças que são tratadas de forma específica", afirma Gustavo dos Santos Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Segundo Fernandes, há de se levar em conta que cada câncer surge e afeta um órgão ou parte do corpo de forma diferente, por isso necessitam de medicações específicas.
"Os genes ativados de um tumor são diferentes no pulmão e no intestino, por exemplo, e cada órgão é atingido de uma forma diferente. Não há um único agente capaz de curar todas essas doenças", diz.

Mito da pílula milagrosa

A crença no poder de cura da fosfoetanolamina sintética remonta do antigo mito da 'pílula milagrosa contra o câncer', comum no começo do século passado, afirma a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora da Oncologia Clínica do Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo).
A oncologia moderna, no entanto, pegou o caminho oposto, por oferecer cada vez mais tipos específicos de medicamentos de acordo com as características da doença, explica a oncologista.
"Nos diversos mecanismos celulares que podem levar ao câncer, é muito difícil ter um único remédio. O que prevalece hoje é uma estratégia individualizada com uma grande gama de medicamentos para um tratamento mais personalizado", afirma.

Entenda

Após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou a suspensão da distribuição das cápsulas do IQSC (Instituto de Química de São Carlos) para quem conseguisse liminar na Justiça, o que obrigou a USP a voltar a produzir e distribuir a fosfoetanolamina sintética. Com isso, mais de 700 liminares foram expedidas e o IQSC ficou sobrecarregado. A USP pede na Justiça a suspensão da entrega das cápsulas.
Segundo os pesquisadores, a fosfoetanolamina se aliaria a lipídios para entrar na célula e ativar a mitocôndria. Com isso, o sistema de defesa do organismo reconheceria a célula como "anormal" e a atacaria. Em pesquisas com camundongos com câncer renal os efeitos foram positivos.
Oncologistas, a USP, o ICQS e os próprios pesquisadores alertam que a substância nunca foi testada em humanos, o que a inviabiliza como remédio. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável por registrar e permitir o comércio de qualquer medicamento no país, diz que a distribuição da droga é ilegal por nunca ter passado por testes clínicos.

Câncer no Brasil

O câncer se caracteriza pelo crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. Por se dividirem rapidamente, quase de forma incontrolável, formam-se tumores malignos que podem se espalhar para outras regiões do corpo. Esses tumores podem surgir em diferentes tipos de células.
O tratamento do câncer é feito por meio de uma ou várias modalidades combinadas. A principal é a cirurgia, que pode ser feita em conjunto com a radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. O tratamento mais adequado leva em conta a localização, o tipo do câncer e a extensão da doença. 
Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), estima-se que 576 mil novos casos de câncer, incluindo os casos de pele não-melanoma, surjam em 2015, e pelo menos 189.454 pessoas morram em decorrência do câncer. 

O câncer de pele do tipo não-melanoma (182 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil). Entre os tumores que devem causar mais mortes estão o câncer do pulmão (24.490 casos); cólon e reto (15.415 casos), mama feminina (14.206 casos); estômago (14.182 casos); próstata (13.772 casos) e colo do útero (5.430 casos).

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Animais ajudam a tratar crianças com câncer

Visitas de cães a hospitais melhora pressão e ansiedade dos pacientes, diz estudo

POR CLARISSA PAINS / LUIZA SOUTO
24/10/2015 7:00

A pequena Beatriz Kubo, de 6 anos, brinca no Graacc com o cachorro Joe, ao lado da mãe, Érica - Arquivo pessoal
SÃO PAULO e RIO — Diagnosticado com câncer em 2011, o ator Reynaldo Gianecchini vez ou outra visita o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), do qual é embaixador, na Zona Sul da capital paulista. Quando o galã chega ao local, a meninada ali em tratamento esquece, por um instante, a doença e corre para o ator. Com a menina Beatriz Anderson Kubo, de 6 anos e há dois com leucemia, é diferente. Ela se diverte com a visita do ator, mas o colírio de seus olhos mesmo é Joe, um golden retriever de 11 anos, que visita os pacientes da unidade todas as quintas-feiras. Há dez anos, o animal vem ensinando a familiares e médicos que a ajuda para o tratamento pode chegar das mais variadas formas.
— A cada 21 dias, Beatriz faz quimioterapia por oito horas seguidas, e seu acompanhante é o Joe. Dia desses, o Gianecchini veio e ela nem deu bola. Minha filha fica emocionada quando o cachorro chega: faz carinho, abraça, conversa. Ela fica melhor nos dias em que está com ele — celebra a mãe da menina, Érika Kubo, de 39 anos.
Joe faz parte do projeto Amicão, conduzido por Angela Borges, de 56 anos, e Luci Lafusa, de 60. Em 2005, elas assistiram em um programa americano que os animais podiam ajudar no tratamento de doenças, visitando pacientes. De lá para cá, Joe e outros cinco cachorros interagem com pacientes e suas famílias em cinco hospitais especializados na capital paulista.
— O cão não cura, mas faz com que o paciente libere o hormônio da alegria, que é a endorfina. E a maioria das pessoas gosta de cachorro. Então, quem não se apaixona? — comenta Luci.
Um estudo da Academia Americana de Pediatria publicado esta semana na revista “Science” comprova a percepção. Os pesquisadores coletaram dados de pressão sanguínea, frequência de batimentos e nível de ansiedade em crianças antes e depois de elas receberem a visita de “cães terapeutas”. A conclusão foi de que os meninos e meninas que participaram da Terapia Assistida com Animais (TAA) permaneceram com quadros mais estáveis do que os que não participaram.
Foi analisado o comportamento do organismo de 68 crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos diagnosticadas com câncer. Destes, 39 faziam terapia com animais e 29 não. Além de melhorar o estado deles, a terapia com cães ajudou a diminuir os níveis de ansiedade dos parentes que acompanhavam as sessões.
— Este estudo será um marco na compreensão dos benefícios do vínculo vital entre pessoas e animais — pontuou a principal autora do estudo, Amy McCullough, diretora nacional de pesquisas e terapias da Associação Humana Americana. — Esperamos que os resultados aumentem ainda mais o acesso a animais em ambientes hospitalares, e que o treinamento dos cães seja aperfeiçoado para melhorar o bem-estar das crianças e das famílias que enfrentam os desafios do câncer infantil.
Para Sergio Petrilli, superintendente-médico e um dos fundadores do Graacc, não há dúvidas quanto aos benefícios dessas sessões terapêuticas.
— Está provado que isso só melhora a aderência da criança ao tratamento, e nos ajuda no processo. O câncer hoje é uma doença curável. Mas, se antes costumava-se tratar a qualquer preço, hoje podemos promover um menor impacto sobre a criança — analisa o oncologista.
MENOS REMÉDIOS PARA DOR
Um trabalho na mesma linha é desenvolvido pela ONG Patas Therapeutas, comandada pela psicanalista Silvana Fedeli Prado, de 50 anos. Além de contar com 50 cães de diferentes raças, ela tem a ajuda de quatro gatos, dois coelhos e uma ave. Entre as oito instituições de diferentes segmentos em que atua, estão o Hospital Infantil Darcy Vargas e a ala de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia, ambas em São Paulo.
— No dia em que os animais vão a esses hospitais, as crianças tomam menos remédio para a dor. É como se a gente fizesse um resgate para o mundo externo — emociona-se Silvana.
— Os animais, em especial cães devido à docilidade, são de grande ajuda para a reabilitação de qualquer doença. Mas principalmente para o câncer, porque é um tratamento muito doloroso, invasivo e longo. Os cachorros fazem com que as crianças participem mais e de uma forma melhor — comenta Rilder Campos, presidente da instituição.
Em geral, as ONGs aceitam voluntários e não há distinção de raça para os animais. Mas os cães precisam passar por exames de comportamento e saúde, recebendo uma higienização antes de entrar nos hospitais. Seus donos também são avaliados, tanto em relação ao tempo que têm para visitar os pacientes, quanto ao fato de estarem ou não preparados para lidar com eles.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/animais-ajudam-tratar-criancas-com-cancer-17865810#ixzz3phI8ChsC

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dieta mediterrânea reduz incidência de câncer de mama, mostra estudo

ESTADÃO    Em São Paulo
26/10/2015 11h22
Classificada como um dos modelos mais saudáveis de alimentação, a dieta mediterrânea teve ação comprovada para a redução de incidência de câncer de mama, segundo um estudo da Universidade de Navarra, na Espanha, que avaliou 4.282 mulheres entre 60 e 80 anos.
Durante a avaliação, que durou seis anos, as mulheres foram divididas em três grupos: o primeiro fez a dieta mediterrânea suplementada com azeite de oliva extravirgem, o segundo fez a dieta mediterrânea suplementada com oleaginosas e o terceiro recebeu uma dieta com recomendação para reduzir o consumo de gorduras.
A pesquisa, intitulada Predimed (Prevención com Dieta Mediterránea), foi publicada no mês passado na revista científica da área médica Jama.
A redução da incidência de câncer de mama foi de 62% no primeiro grupo. Entre todas as participantes, foram diagnosticados 35 casos da doença no período. "Esse foi o primeiro estudo desenhado com tamanho adequado e que conseguiu quantificar o benefício da dieta mediterrânea. Isso comprova também a parte tradicional e recomendada de não fumar, ter baixo peso e boa alimentação", explica o oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus, Stephen Stefani.
Stefani explica que o azeite foi o ingrediente de destaque dentro da pesquisa. "O estudo mostrou que a dieta exclusiva não trouxe um impacto tão grande quanto o da associada ao azeite de oliva. Ele é o protetor das mutações, ajuda na correção e na prevenção primária de tumores e tem efeito antioxidante."
Segundo o oncologista, a partir da pesquisa, é possível que especialistas passem a recomendar o tipo de dieta para prevenir novos casos. "A dieta mediterrânea é preventiva, mas não tem efeitos quando a doença já está instalada", destaca.

Composição

Peixes, oleaginosas, como nozes e castanhas, azeite, vinho, leite e derivados estão entre os ingredientes que fazem parte da dieta mediterrânea. "É uma dieta mais natural, com ingredientes frescos e com pouco consumo de carne vermelha e de carboidratos", diz a nutricionista da clínica MAE Roseli Ueno.
Roseli diz que, para ter o efeito desejado, a dieta deve ser incluída no dia a dia das mulheres e que o segredo para manter o cardápio é organizar as compras com antecedência. Apesar dos benefícios, ela alerta que a dieta deve ser adotada após a consulta com um profissional. "É uma boa dieta, mas tem de se encaixar com o perfil calórico da pessoa."


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Linguiça, bacon e presunto são cancerígenos, diz OMS

BBC Brasil James Gallagher
26/10/201510h27

Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o consumo de carne processada - como bacon, salsichas e presunto - causa câncer. Segundo o documento, 50 gramas de carne processada por dia, o equivalente a duas fatias de bacon, aumentam a chance de desenvolver câncer colorretal em 18%.
De forma mais branda, pela falta de provas mais contundentes, a organização também reforçou o alerta em relação à carne vermelha, dizendo que ela seria "provavelmente cancerígena".
De acordo a correspondente da BBC em Genebra, Imogene Foulkes, no caso da carne vermelha o "quadro não é tão claro". "O estudo mostra provas limitadas de que comer carne bovina, carne de porco ou cordeiro pode causar câncer, mas outras explicações não podem ser descartadas", afirmou.
A correspondente da BBC afirmou ainda que a OMS destaca que o consumo baixo de carne traz benefícios à saúde. Mas os consumidores precisam saber que também existem riscos no baixo consumo, sendo o mais recomendável comer carne com moderação.

A carne vermelha é uma grande fonte de ferro, zinco e vitamina B12.

Aditivos

Carne processada é a carne que foi modificada para aumentar seu prazo de validade ou manipular o gosto. São as carnes defumadas, curadas ou que recebem aditivos, como sal ou conservantes. São estes aditivos que podem aumentar o risco de desenvolver câncer.
A OMS chegou a essas conclusões após aconselhamento de sua Agência Internacional para Pesquisa do Câncer, que avalia os melhores dados científicos disponíveis. 
Com isso, a carne processada passa a estar na mesma categoria que plutônio e bebidas alcoólicas, substâncias que comprovadamente causam câncer.

No entanto, isso não significa que consumir bacon, por exemplo, seja tão ruim quanto fumar.

"Para um indivíduo, o risco de desenvolver câncer colorretal (no intestino) por causa do consumo de carne processada continua pequeno, mas este risco aumenta com a quantidade de carne consumida", disse Kurt Straif, da OMS.

Para o professor da Universidade de Oxford Tim Key, que também é membro da organização beneficente britânica voltada para pesquisa do câncer Cancer Research UK, é uma questão de moderação.

"Esta decisão não significa que você precisa parar de comer qualquer tipo de carne vermelha ou processada, mas se você come muito, há boas razões para pensar em diminuir. Comer bacon de vez em quando não vai causar muito dano - uma dieta saudável é baseada na moderação", afirmou.