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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Salão de beleza em hospital de SP melhora autoestima de homens com câncer

Camila Neumam
Do UOL, em São Paulo
08/04/201506h00
  • Júnior Lago/UOL


O pedreiro azulejista Caetano Donizete da Silva, 57, internado no Icesp para tratar um câncer no estômago, faz a barba e limpeza de pele no hospital

Cabelo cortado, barba feita, pele hidratada e unhas em dia. É com tratamentos de beleza que homens internados no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) mantêm a autoestima durante o difícil tratamento contra o câncer.

O serviço também é oferecido às mulheres que se tratam no hospital público da capital paulista. Mas o Icesp observou um aumento da adesão dos homens neste ano, que ocupam 35% dos atendimentos. Um a cada três pacientes que procura pelas esteticistas é do sexo masculino, segundo uma pesquisa feita com 2.500 pacientes atendidos pelo projeto "Cantinho da Beleza".

Os tratamentos de beleza são oferecidos três vezes por semana no próprio leito hospitalar, mas devem ser agendados com antecedência. Esteticistas cortam os cabelos, aparam as sobrancelhas, fazem limpeza de pele e as unhas (sem tirar cutículas) tanto de homens quanto das mulheres. Os pacientes também podem pedir para fazer a barba e as pacientes mulheres podem aprender truques de maquiagem e como usar lenços.

Além de influenciar diretamente na autoestima dos pacientes, os encontros semanais quebram a rotina de exames e remédios. Essa mudança é vista com bons olhos pelos psicólogos que acompanham os pacientes para evitar que se deprimam. Muitos pacientes ficam abalados com as transformações físicas consequentes da quimioterapia.

Fim do baixo-astral
O pedreiro azulejista Caetano Donizete da Silva, 57, que está internado no Icesp para tratar um câncer no estômago, aderiu ao 'Cantinho' e aprovou a experiência. O morador do bairro do Jaraguá, na zona norte de São Paulo, diz ter ficado satisfeito com a primeira sessão na qual fez a barba, hidratou o rosto e aparou as unhas.

"Eu estava barbudo pra caramba e a pele dá uma ressecada com a quimioterapia. Achei o serviço ótimo porque eles chegam aqui e acaba com aquele baixo-astral", diz.
Silva descobriu o câncer em janeiro deste ano, mas o tumor, que tem o tamanho de uma laranja, não pode ser retirado porque está colado ao estômago.

Atualmente ele passa por sessões de quimioterapia na tentativa de diminuir o tumor e facilitar a remoção. O câncer lhe causa dificuldades para comer, o que o fez perder muito peso. Ele pesava 93 kg na época do diagnóstico e hoje está com 60 kg espalhados pelo seu 1,70 m. "Quando eu me curar, a primeira coisa que quero fazer é comer uma feijoada e tomar uma cervejinha", diz.

Pronto para as visitas
Já o dentista Ricardo Freitas, 55, que combate um câncer no intestino e no pulmão, passa por sessões de quimioterapia de até 24 horas, que lhe causam dificuldades de locomoção. Por isso, ele gosta de renovar o visual para receber bem os parentes. Entre eles está o filho Fernando Freitas, 8, que o visita toda semana. O pequeno vem de São Vicente, no litoral paulista, e costuma ser acompanhado por um psicólogo do hospital.

"Faço o tratamento para fazer a barba, massagem e para tirar as olheiras. Como fico com um braço plugado na máquina para a quimioterapia e o outro com o soro, fica complicado me arrumar. Para mim essa equipe faz parte do tratamento do câncer", diz.

Para Freitas, ver o filho crescer é o maior estímulo para aguentar os efeitos colaterais do tratamento, que causa vômitos, diarreia, sérias queimaduras na pele e queda de cabelo.

"Tive um câncer de pele há três anos e eu não imaginava que iria para o intestino e para o pulmão. Meu pai morreu de câncer no pulmão. Por isso eu luto pelo meu filho, que é a razão da minha vida. Eu não desisti da luta por causa dele", diz emocionado.

Mais do que beleza
Para o psicólogo Lórgio Henrique Diaz Rodriguez, coordenador do serviço de psicologia hospitalar do Icesp, o trabalho ajuda os pacientes a lidarem melhor com o tratamento e com a própria doença. Segundo ele, a procura em melhorar a aparência já é um indicador de que o paciente luta para sobreviver. O Icesp tem uma equipe com cerca de 30 psicólogos que auxilia pacientes, acompanhantes e a própria equipe médica.

"Quando o paciente procura melhorar a aparência, ele demonstra que busca recursos de enfrentamento para lidar com a situação atual, o que pode repercutir na autoestima e favorecer uma melhor adesão ao tratamento. É diferente do paciente que se deprime, porque o primeiro impacto depois do diagnóstico é a negação da situação", diz.

Para Vânia Pereira, coordenadora do serviço de hotelaria do Icesp, o projeto 'Cantinho da Beleza' criado em 2009 tem o intuito de humanizar o tratamento. "Mais do que a beleza, queremos que o paciente resgate a autoestima, que volte a olhar para ele mesmo e não somente para a doença. Todos nós precisamos de afeto, de uma palavra amiga, de alguém que cuide da gente. A equipe entra no quarto para falar do tratamento de beleza, conversar, não falar da doença. É um momento de alegria, um chamego", diz Vânia.

Segundo a coordenadora, muitas vezes o foco na beleza fica mais voltado às mulheres, mas, embora mais tímidos, os homens costumam elogiar o serviço e repetem a dose. "Muitas vezes eles ficam sem ação quando oferecemos, talvez por não se preocuparem tanto quanto as mulheres e por poderem esperar um pouco mais para fazer a unha e cortar os cabelos. Mas quando eles fazem, querem imediatamente repetir toda semana", conta.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

SP vai usar remo na reabilitação de mulheres com câncer

Do UOL, em São Paulo
O Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), unidade ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, acaba de lançar projeto pioneiro que usa o remo na reabilitação de mulheres com câncer.

Pacientes passaram por cirurgia ou sessões de quimoterapia poderão iniciar um programa de treinamento com exercícios de remada, realizados no Centro de Reabilitação do Instituto do Câncer (Icesp), e posteriormente, ao ar livre, na Raia Olímpica de Remo da Universidade de São Paulo.

Batizado de projeto "Remama", a iniciativa é uma parceria do Icesp com a Rede de Reabilitação Lucy Montoro e com o Centro de Práticas Esportivas da USP.

O Remama visa promover a prática regular de atividade física mesmo após o término do período de reabilitação dentro do hospital. O remo é um esporte completo, que trabalha toda a musculatura, inclusive a região peitoral, contribuindo com o ganho de massa muscular e o aumento da capacidade aeróbia.

"A prática de exercícios pode trazer inúmeros benefícios ao paciente oncológico, por melhorar a aptidão física, a autoestima e a saúde mental. O esporte contribui, ainda, para a redução de quadros dolorosos, da fadiga, dos transtornos do humor e dos distúrbios do sono, altamente prevalentes neste grupo de pacientes", ressalta Christina Brito, coordenadora médica do serviço de reabilitação.

Os treinos na Raia Olímpica da USP vão iniciar no barco-escola e, ao longo das aulas, as participantes vão se preparar para pilotar outros tipos de embarcações como canoas individuais e barcos de quatro a oito remos, ao ar livre.

O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres em todo mundo. No Icesp, a doença a mais de 25% dos atendimentos totais. "Estamos iniciando um movimento nacional. A idéia é ampliar o serviço às demais clínicas médicas do Icesp, ou seja, aos pacientes em tratamento contra outros tipos de tumores e, também, levar a iniciativa para outras unidades públicas de saúde", destaca a especialista.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Filhas de pacientes com câncer de mama podem interferir no curso da doença

O papel das acompanhantes precisa ser mais explorado, diz presidente de entidade de apoio a mulheres com a doença
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 05/07/2012 07:00:00
A atriz Priscilla interpreta com Tássia Camargo um papel que já ensaiou na vida real: o de filha de uma mulher com câncer de mama
Cena 1: Com mão na cintura e testa franzida, disparou bronca para a mãe levantar do sofá. “Já são 14h.” A filha entendia o cansaço, mas não queria desânimo para a sessão de quimioterapia. “Tá acabando...”, pensava. Preparou o lanche para levar ao hospital e separou uma blusa caso o tempo virasse. Em meio à inversão de papéis e ao cuidado do tipo materno, a jovem refletiu: “nunca me senti tão filha”. Corta.
No palco de um teatro no centro paulistano, a atriz Priscilla Squeff interpreta Denise Maria, filha de uma paciente com câncer de mama.
O enredo da peça “Se você me der a mão” faz Priscilla vivenciar na arte o que ensaiou na vida real. A mãe de verdade enfrentou a mesma doença.
“A gente imita um pouco mãe mesmo quando a nossa adoece. Mas a verdade é que o amor é mais compreendido. Eu me descobri mais filha naquela situação”, conta a atriz endossando a sensação da fictícia Denise Maria expressada em cena.
O mesmo enredo é diariamente assistido pelos médicos, seja nos consultórios oncológicos públicos ou nos privados. As filhas adultas, dizem os especialistas, são companheiras mais fiéis das pacientes com câncer de mama. Por isso, precisam começar a ser estudadas em pesquisas científicas, avalia Maira Caleffi, mastologista e presidente da Federação Brasileira de Apoio à Saúde da Mama (Femama).
“O que vemos na prática é que esta parceria com a filha pode interferir no curso da doença da mãe e por isso este papel das companheiras das doentes precisa ser mais explorado pela ciência”, completa Maira.
Interferência
Um dos motivos da interferência já foi detectado pelos ensaios clínicos. Uma revisão de 78 estudos realizada pela Universidade do Minho Braga de Portugal, publicada no final do ano passado na Revista Brasileira de Psicologia, ressaltou o alcance do câncer da mãe nas descendentes dela.
As filhas adultas estudadas – com mais de 19 anos – apresentavam níveis de estresse ainda maiores do que os das mães em tratamento contra o câncer.
“O comportamento das acompanhantes pode ser negativo, quando vem acompanhado de superproteção no cuidado, nervosismo extremo ou até negligência ao sofrimento materno. Mas é positivo caso refletido em incentivo à terapêutica e força para superar os efeitos colaterais, o que amplia as chances de recuperação”, diagnostica a presidente da Femama.
O impacto não é apenas na saúde das mulheres com o tumor. As acompanhantes também sentem na pele os efeitos da doença, afirma Adriana Campner, ginecologista, chefe do ambulatório da Santa Casa e professora de Ciências Médicas.
 “Muitas filhas são fisgadas por uma cultura de prevenção. Como encaram de perto o sofrimento das mães, não querem passar pela mesma coisa. Passam a fazer mais exames, cuidar da dieta, mudar os hábitos de vida.”
Recorrente
Mabel Simm Milan Bueno, 27 anos, por exemplo diz que a “neoplasia na mama esquerda” modificou o jeito de encarar o mundo, mesmo sem nunca ter recebido das mãos de nenhum médico os exames que mostravam a presença do câncer no organismo.
Em 2001, quando a mãe Leoni a chamou para uma conversa séria, para revelar a doença, muitos episódios marcaram a trajetória das duas. “A formatura no colégio, a minha entrada na faculdade de geografia, a aposentadoria dela, a minha aprovação no concurso, engravidar da Isadora. Eu virei mãe. Ela avó”, pontua Mabel.
“O curioso é que desde a primeira vez em que fiquei sabendo do câncer, foram recuperações e recaídas da minha mãe. Eram curas e reincidências, já que houve a volta do tumor em 2003, 2005, 2007 e 2009”, lembra.
“Todos estes anos coincidem com os momentos mais importantes da minha trajetória. O câncer permeou todos eles”, conta Mabel.
Leoni encarou a doença de peito aberto e confirma que nestes anos todos de idas e vindas com a problemática do câncer trocou de lugar com a filha Mabel várias vezes. A relação foi transformada.
“Era uma adolescente rebelde, brigava muito com a minha mãe. Depois, foi ela quem ficou um pouco teimosa no cuidado com a doença”, brinca Mabel.
Nesta troca de personagens que permeou o enfrentamento do câncer na história de Mabel e Leoni, um papel foi descartado. “Nunca olhei minha mãe como vítima. Muito menos como incapaz. Era difícil ver os cabelos caindo, o corpo inchado por causa dos medicamentos, mas ela era linda na sua postura. Foi fundamental na minha carreira e uma avó exemplar.”
A “não-anulação” de quem tem a doença, acredita Maira Callefi, é o segredo para a interferência da filha no curso da doença da mãe ser a melhor possível, com mais resultados positivos.
Foi o que a atriz Pirscilla Squef fez no cotidiano de verdade. Foi o que Denise Maria interpretou no cenário fictício da peça. E é o que Mabel sugere para outras filhas de pacientes com câncer de mama, antes de se prepararem para uma cena da vida real.
Cena real: Isadora, a netinha, está de vestido caipira pronta para dançar na escola. Na plateia Mabel e Leoni. Os exames mostraram que o câncer está inativo após a metástase em 2009. Mabel é só orgulho. Os cabelos de Leoni cresceram ainda mais bonitos. Isadora entra em cena. Corta. FIM.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"O câncer me deixou devastada. Me senti traída pela vida"...

Da dura lição aprendida com o câncer de mama, Gilze Maria tirou a coragem para ajudar outras mulheres com a doença
Chris Bertelli, iG São Paulo | 16/12/2011 11:00

Tudo começou com um sonho. Sonho, não. Pesadelo. No início do ano 2000, Gilze Maria Costa Francisco acordou sobressaltada depois de uma noite agitada.

“Levantei com uma sensação de morte, de que alguma coisa estava errada. Logo pensei no meu marido e na minha filha, e naquela mesma semana os dois fizeram uma bateria de exames, um check-up completo”, relembra.

Os resultados mostraram que pai e filha estavam com a saúde em dia, mas a notícia não a tranquilizou. Aquela sensação ainda a perturbava.

Exatamente um mês depois, em um domingo, ao assistir um programa que falava sobre o autoexame de mama, ela teve um estalo. Entrou no banho, colocou as mãos sobre os seios e sentiu o nódulo. Sua experiência como enfermeira e sua familiaridade com a anatomia do próprio corpo não a deixaram ter dúvidas de qual seria o diagnóstico: câncer de mama. De caráter firme, Gilze não chorou, nem se desesperou, mas procurou logo o apoio da família.

“Sentei na sala e disse a eles que estava com câncer, que havia sentido o nódulo”, conta. Os dois, esperançosos, preferiam esperar uma definição médica. Gilze, no entanto, tinha certeza.

Na manhã seguinte, procurou um amigo mastologista e contou a história, do pesadelo ao autoexame. O médico pediu uma mamografia, realizada na sequência, que confirmou a suspeita. “Quando olhei a chapa, dei de cara com a doença”, relata.

“O câncer me deixou devastada. Me senti traída pela vida. Sempre fui o porto seguro da família. Apesar de obesa, sedentária, e de ter menstruado muito cedo, mesmo com todos esses fatores de risco, me questionei: por que eu?”, recorda.

A pergunta, recorrente entre quem recebe o diagnóstico, ecoou durante meses.

“Passei por todas as fases: negação, raiva, barganha, depressão e finalmente a aceitação”. Neste momento, a perspectiva de Gilze mudou.

“Entendi que não tinha feito nada para merecer ser imune ao câncer e que não era uma questão de merecimento ou culpa”, relata.

Sem rotina

Foi o início de uma grande transformação interior e exterior e também da batalha pela vida, permeada por sessões de quimioterapia e uma mastectomia agressiva que a deixou sem uma das mamas, sem músculos peitorais e sem boa parte da axila.

“Havia apenas um buraco. Minha pele grudava nas costelas, e olha que eu era gordinha na época.”
Olhar-se no espelho era difícil e quase impossível reconhecer a figura refletida ali. Sem cílios, sem cabelos, sem um dos seios e sem uma rotina que pudesse seguir, Gilze descontruía a própria identidade.

“Estava me perdendo de quem fui um dia. Não podia passar rímel, nem escovar os cabelos. Colocava a peruca e achava estranho. Passava os dias em consultórios, clínicas de exame e hospitais. Não queria encontrar pessoas, sair era doloroso e nunca me sentia à vontade nas roupas”, diz. No mal-estar com o que vestia estava escondido o receio constante de que notassem a ausência da mama.

“As mulheres são alvejadas num membro que nutre, embeleza e seduz. Somos flechadas no maior símbolo de feminilidade. Então, quando perdemos o seio, sentimos a ausência de tudo isso, é um luto de uma parte importante da mulher."

Para aplacar os sentimentos, recorreu à família, especialmente ao marido, que se mostrou o companheiro perfeito para todas as horas.

“Ele não tinha palavras para me consolar e a minha dor era tão lancinante que ninguém podia alcançá-la. Ele soube entender e só me dizia: ‘você já venceu.’”. Era o suficiente.

A filha, na época com 11 anos, preferiu o silêncio e o distanciamento. Foi preciso chamá-la para uma conversa franca e emocionada.

“Coloquei-a no colo e falamos de coração aberto. Ela me disse: ‘Mãe, você é tão forte que sei que nada vai acontecer. Prometa que fará tudo direitinho porque não vou agüentar ficar sem você”, lembra.

Dez meses e duas perucas depois, no dia 28 de fevereiro, Gilze finalmente controlou o câncer. Faltava ainda uma prótese que ocupasse o vazio deixado pela doença e também trabalhar todas as emoções e sentimentos que afloraram e passaram a fazer parte da nova pessoa que ela era. “Percebi que o melhor era viver os momentos ruins com intensidade, mas os bons momentos com mais intensidade ainda”, afirma. “Aprendi a conjugar os verbos reavaliar, readmitir, reaprender, rever."

Instituto

A inversão para o lado dos pacientes fez com que a enfermeira pudesse sentir as dificuldades e agruras das mulheres que travam uma luta contra um dos principais problemas de saúde femininos. Na internet, Gilze encontrou notícias desencontradas, informações incorretas e opiniões descabidas. Dessa busca, nasceu a decisão de construir um site com informações seguras para quem, como ela, tinha a doença. A página entrou no ar em março e era recheada de depoimentos dela própria, que escrevia nas crises de insônia. “Passei muitas noites em claro. Tinha medo de dormir e não acordar mais”, relata.

Centenas de emails lotavam a caixa diariamente. Com algumas mulheres, ela passou a se corresponder com frequência. Com outras, falava ao telefone. Gilze virou referência para quem buscava um ombro amigo, uma informação, ou simplesmente alguém que entendesse o momento delicado. O próximo passo, criar um espaço onde pudesse se dedicar a essas mulheres, pareceu óbvio.

“As mulheres são as mais desfavorecidas de ajuda. Porque elas passam a imagem de que podem tudo, fazem tudo, são fortes ao extremo. Na hora que a doença bate na porta, ela sente o desespero. E ainda assim, não quer que os filhos sofram, que o marido sofra. Nesse momento, qualquer ajuda, por menor que seja, faz uma grande diferença”, avalia.

Em fevereiro de 2002, nascia o Instituto Neo Mama, em Santos, litoral paulista, com o intuito de ajudar pessoas vitimadas pelo câncer e suas famílias. Com atendimento interdisciplinar que inclui oncologista, ginecologista, mastologista, psicóloga e nutricionista, hoje passam por lá cerca de 200 mulheres por mês, segundo a conta da própria Gilze. No cadastro da entidade, no entanto, já são mais de 2.300.

“Elas chegam aqui e percebem que não são as únicas a passar por isso. O diagnóstico é difícil de encarar, mas com estrutura, exame, médico e colo e ombro fica mais fácil”, acredita.

Para disponibilizar mamografias, fez um acordo com laboratórios e exibe seus banners no site em troca de exames gratuitos (quantos mais cliques, mais exames. Participe da campanha). Para consultas, abre sua agenda de telefones que contém os números dos principais mastologistas e hospitais do país.

“Eu ligo e peço o atendimento. Às vezes consigo na insistência ou graças às boas relações que tenho com os profissionais. É trabalhoso, mas faço com prazer”, orgulha-se.

Difícil mesmo são os casos em que não há mais o que ser feito. Com lágrimas nos olhos, a coordenadora do instituto diz receber até cinco mulheres nessas condições, em que o único recurso é garantir amparo e dignidade. “Dói muito. A gente vê de perto a evolução, ela vai minguando. A morte é muito palpável, você pode sentir a vida indo embora. É difícil ver uma delas no caixão e não se enxergar ou não se lembrar que há poucos dias ela estava fazendo bagunça”, chora.

Decote e praia

Não existem dados sobre quantos mulheres têm acesso à reconstrução mamária no País. No entanto, Gilze parece fazer parte da maioria que passa anos sem a cirurgia. Somente depois de uma redução de estômago e de eliminar 65kg ela pode finalmente colocar uma prótese. Foram 11 anos entre o aparecimento da doença e o novo seio. E sem banhos de mar, passeios na praia, vestidos tomara-que-caia ou decotes. “O novo peito é lindo, mas a cicatriz é para sempre."

A mudança no visual trouxe ainda mais confiança e disposição para essa mulher de sorriso aberto, fala franca e carinhosa.

"Acho que Deus me preseervou para isso. Comigo, não tem hora, não tem distância, não tem impedimento. Eu faço o que for preciso para ajudá-las. Tudo é recompensador", diz ela.

"Depois do câncer, você nunca mais é a mesma. A doença te marca como gado, no corpo e na alma. Mas você sobrevive”.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

iPad e Wii ajudam no tratamento de pacientes com câncer

http://macworldbrasil.uol.com.br/noticias/2011/05/16/ipad-e-wii-ajudam-no-tratamento-de-pacientes-com-cancer/

Graacc, Instituição sem fins lucrativos que atende crianças com a doença, utiliza tablets e games nas unidades de reabilitação e escola móvel

• Por Luiz Mazetto, Macworld Brasil
• 16-05-2011- (Atualizado em 24 de maio de 2011 às 17h54)

Um dos gadgets mais vendidos dos últimos tempos, o iPad pode ser utilizado para jogar, ouvir música, ver um filme e até mesmo no apoio a tratamentos médicos. É o que faz o Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com câncer) ao utilizar o tablet da Apple como ferramenta de apoio na recuperação de seus pacientes.

Tudo começou em janeiro, quando a organização sem fins lucrativos criada há 20 anos ganhou dois iPads de um grupo de voluntários, que pediu que fosse feito o melhor uso possível dos aparelhos. Assim, a equipe multidisciplinar criou ações específicas com o tablet para seus pacientes, que passam dos dois mil anualmente.

“O iPad funciona como um algo a mais na reabilitação física e sensorial dos nossos pacientes”, explica a terapeuta ocupacional da equipe multidisciplinar, Walkyria de Almeida Santos, responsável por criar aplicações médicas do iPad no Graacc.

Segundo ela, os aplicativos mais usados são games e jogos educativos, além de apps médicos específicos. “Usamos os games em pacientes com poucos movimentos, já que o iPad traz um aspecto lúdico em que o paciente brinca e se recupera ao mesmo tempo por meio da movimentação do aparelho, por exemplo, diferente do uso do mouse ou PC convencional”, explica Walkyria, lembrando também que o hospital já usa o Nintendo Wii há algum tempo com finalidades parecidas. Veja algumas aplicações dos equipamentos abaixo:

Escola móvel

Além de ajudar na recuperação sensorial e física dos pacientes, o iPad é usado como uma ferramenta na chamada Escola Móvel do Graacc, que permite que as crianças estudem durante os tratamentos, que podem ser longos. Atualmente, cerca de 20 crianças estudam no hospital com a ajuda do tablet.

Como há apenas dois iPads disponíveis na instituição, eles precisam ser divididos entre os vários pacientes de setores diferentes – um fica com a seção de reabilitação e o outro com a escola móvel. “O ideal seria termos um iPad para cada setor do IOP (Instituto de Oncologia Pediátrica)”, explica Walkyria.

Futuro

Para a terapeuta, o iPad também poderia ser usado como um elemento facilitador de comunicação – por exemplo, para que pacientes com movimentos limitados possam expressar o que estão sentindo. Segundo ela, atualmente o hospital do Graacc possui materiais como cartões e revistas para essa finalidade, mas “o tablet chama a atenção da criança, que encara como se fosse uma brincadeira”.

Outro plano do Graacc é o desenvolvimento, por meio de uma possível parceria, de um aplicativo para o iPad exclusivo da instituição. Vale lembrar que o hospital da organização atende em sua maioria pacientes do sistema público SUS (Sistema Único de Saúde). Para saber como fazer doações, acesse o site oficial do GRAACC.