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quarta-feira, 21 de junho de 2023

Tratamento revolucionário contra câncer de medula óssea tem 90% de sucesso

8 de junho de 2023 - 

Por Vitor Guerra

Um tratamento revolucionário para pacientes com câncer de medula óssea. Com a técnica CAR-T, os pesquisadores conseguiram o índice de 90% de remissão nos mais de 74 pacientes tratados. Vitória da ciência!

A conquista sem precedentes vem da Hadassah University Medical Center, em Jerusalém, em Israel, que usou a técnica que treina e fortalece as células de defesa do paciente, fazendo com que elas combatam o câncer mais efetivamente.

O câncer de medula óssea, ou mieloma múltiplo, é a segunda doença hematológica mais comum, atrás apenas do linfoma. A doença se manifesta em células do sangue chamadas plasmócitos, produzidas na medula.

Como é o tratamento inovador

Na pesquisa, foi aplicada a técnica chamada de CAR-T, bastante utilizada em tecnologia de engenharia genética, apresentando ótimos resultados no combate ao câncer.

A Chimeric Antigen Receptor T-Cell Therapy, estimula o próprio sistema imunológico do paciente para destruir o câncer que acomete o corpo.

Depois de coletar células saudáveis do paciente, os pesquisadores programam os glóbulos brancos (responsáveis pela defesa do organismo) e separaram as células T, que são as responsáveis ativamente pelo sistema imunológico.

Separar os glóbulos vermelhos dos brancos é um processo complexo: pode levar de duas a quatro horas e se assemelha à doação de sangue. Com as células separadas, é realizado um processo de engenharia genética.

Essas células T, que agora foram modificadas, são injetadas novamente no paciente e ajudam a destruir o câncer.

“Os resultados do tratamento CAR-T são impressionantes, garantindo aos pacientes mais anos e muita qualidade de vida”, disse a professora Polina Stepensky, chefe do Departamento de Imunologia.

Fila de espera

O mieloma múltiplo é uma doença que foi considerada por muitos médicos incurável, mas o resultado apresentado pela Universidade de Hadassah pode mudar esse diagnóstico.

A série de experimentos realizados no departamento levou a uma fila de espera grande.

“Temos uma lista de espera de mais de 200 pacientes de Israel e de várias partes do mundo”, disse Polina.

A pesquisadora ainda acrescentou que por ser um tratamento mais complexo, podendo ser realizado apenas com um paciente por semana, acaba dificultando um pouco o processo.

O mieloma múltiplo

O mielo é um tipo de câncer que aparece na medula óssea.

A doença tem esse nome porque normalmente o câncer costuma afetar várias áreas do corpo, como o crânio, pelve, costelas e a coluna.

O mieloma é também um câncer silencioso em seu estágio inicial, mas à medida que vai evoluindo pode fazer com que o paciente sinta falta de ar, dor óssea e fadiga.

Sendo mais comum em pessoas com mais de 60 anos, a doença acomete mais homens do que mulheres. Em 2021, a jornalista Cristiana Lôbo foi vencida pela doença. Ela morreu aos 63 anos.

Tratamento sofisticado

A disponibilidade do CAR-T ainda é baixa. Hoje, somente dois países possuem o tratamento, China e Estados Unidos.

O custo é alto, próximo de US$ 400.000 (R$ 2 milhões de reais), mas o tratamento contra o câncer de medula que levou a remissão de 90% dos pacientes em Hadassah é diferente.

“O tratamento é mais sofisticado e avançado do que o oferecido no mundo. A ideia é avançar no desenvolvimento e permitir que o CAR-T seja benéfico e acessível para pacientes com outros tipos de câncer”, disse Polina.

Com informações do The Jerusalem Post

 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Por que câncer de pâncreas entrou para a lista dos que mais matam no Brasil

 Article information

 

Legenda da foto,

Mortes por câncer de pâncreas no Brasil subiram mais de 50% na última década, mostram as estatísticas

 

A cada dois ou três anos, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) publica um documento em que faz projeções sobre os números de casos e mortes relacionados aos tumores mais comuns na população brasileira.

“E pela primeira vez na série histórica, o Inca incluiu o câncer de pâncreas como um dos mais frequentes no país”, informa a oncologista clínica Mariana Bruna Siqueira, da Oncologia D’Or, no Rio de Janeiro.

“O aumento da incidência desse tumor acontece nas regiões economicamente mais desenvolvidas, e ele já aparece entre os dez tumores que mais acometem as mulheres das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, complementa a especialista, que também integra o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.

O Inca estima que, em 2023, serão diagnosticados 10.980 casos de câncer de pâncreas no país.

As mortes também estão em ascensão. Entre 2011 e 2020, os óbitos por ano relacionados a essa enfermidade saltaram de 7,7 mil para 11,8 mil — um incremento de mais de 50%.

Em números absolutos, o Inca calcula que em 2020 essa doença matou 5.882 homens e 6.011 mulheres. Isso faz com que esse tumor seja o sétimo mais mortal para eles e o quinto para elas.

Vale lembrar que o pâncreas é uma glândula responsável por produzir a insulina, um hormônio essencial no aproveitamento da glicose como fonte de energia para as células trabalharem.

E a tendência de subida não é apenas nacional: nos Estados Unidos, cientistas apontam que o câncer de pâncreas se tornará o segundo tipo mais letal, atrás apenas dos tumores de pulmão. Os números de casos também se elevarão em mais de 65% entre os americanos nas próximas duas décadas.

Mas o que justifica essa mudança de cenário? Por trás desse aumento, há pelo menos quatro motivos: o envelhecimento da população, o estilo de vida, os sintomas tardios e a agressividade do quadro.

Longevidade e hábitos inadequados

O médico Duílio Rocha, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, destaca que o câncer de pâncreas é uma condição que costuma aparecer em indivíduos de idade mais avançada.

“Portanto, o próprio envelhecimento da população contribui para esse aumento”, raciocina.

“A idade média do diagnóstico é 70 anos. E o Brasil só superou uma expectativa de vida acima das setes décadas a partir do ano 2000”, complementa o especialista, que também é chefe da Unidade de Oncologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza.

Ou seja: se as pessoas vivem mais, é natural que um número maior delas desenvolva um tumor na glândula.

O segundo fator tem a ver com o estilo de vida adotado, especialmente nos lugares mais desenvolvidos.

“Boa parte da comunidade científica acredita que o aumento de casos está diretamente relacionado a mudanças de hábitos nas gerações que nasceram a partir de 1970, como o maior consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em gorduras saturadas, e o aumento na proporção de pessoas sedentárias e obesas”, lista Rocha.

Todas essas alterações estão relacionadas a um aumento geral de enfermidades crônicas não transmissíveis, como a hipertensão, o diabetes e diversos tipos de câncer, como aqueles que acometem o pâncreas.

Falando em diabetes, os pesquisadores têm muitas dúvidas sobre qual a relação entre os dois quadros. Afinal, pacientes com diabetes possuem um risco mais elevado de câncer de pâncreas? Ou é o tumor na glândula produtora de insulina que provoca um descontrole nos níveis de açúcar no sangue?

“Ainda não está certo se o diabetes é causa ou consequência nesse cenário. Mesmo assim, encaramos essa enfermidade como um fator de risco adicional para o câncer de pâncreas”, responde Siqueira.

 

Silenciosa e agressiva

Para completar, uma das grandes barreiras quando o assunto é tumor no pâncreas está no diagnóstico tardio.

“Apenas 15 a 20% dos pacientes são identificados quando a doença está localizada na glândula e não se espalhou para outras partes do corpo”, calcula Siqueira.

Em linhas gerais, detectar o quadro nas primeiras etapas de desenvolvimento é a principal maneira de garantir tratamentos menos invasivos e com maior potencial de cura.

Essa, porém, não é a realidade na maioria das vezes. “Os sintomas do câncer de pâncreas só costumam aparecer numa fase avançada e são muito genéricos, ou seja, se confundem com uma série de outras enfermidades possíveis”, caracteriza Rocha.

Entre as principais manifestações desse tumor, os médicos destacam a perda de peso, a dor no abdômen ou nas costas e mudanças na coloração da pele e dos olhos, que ganham um aspecto amarelado.

Esse último sinal tem a ver com o crescimento do tumor e o aperto de estruturas ao redor, como os ductos que ligam a vesícula biliar ao fígado.

Também não há um exame de rotina que possa flagrar a enfermidade de forma precoce, em moldes parecidos aos da mamografia para câncer de mama e do papanicolau para o de colo de útero.

O último fator por trás da ascensão dos tumores de pâncreas tem a ver com as próprias características dessa condição.

“Ela é uma doença mais agressiva. Mesmo os pacientes que são operados têm uma sobrevida menor em comparação a outros tipos de câncer”, diz Siqueira.

“No câncer de intestino localizado tratável com a cirurgia, por exemplo, há uma chance de cura que supera os 80%. Num tumor de pâncreas que reúne condições parecidas, essa taxa fica em 30%”, completa a oncologista.

 

O contra-ataque da medicina

Mas nem tudo são más notícias quando o assunto é câncer de pâncreas.

“Durante muito tempo, tivemos a ideia que esse era um tumor contra o qual podíamos fazer muito pouco”, lembra Rocha.

“Mas, nos últimos anos, tivemos uma série de avanços que melhoraram esse cenário. Hoje, a chance de cura é seis vezes maior do que há duas décadas, principalmente quando somos capazes de usar as melhores ferramentas para diagnosticar e tratar de forma precoce”, complementa.

Quando o tumor na glândula é detectado nos estágios iniciais, a cirurgia costuma ser a primeira alternativa para lidar com o problema.

Agora, se a doença já evoluiu ou se espalhou para outras partes do organismo, os profissionais de saúde apelam para a quimioterapia ou para a radioterapia.

Em alguns casos, a própria químio consegue diminuir o tumor, o que abre a possibilidade de fazer uma cirurgia para remover as lesões localizadas na glândula.

Opções mais avançadas também começam a entrar em jogo. Uma delas é a imunoterapia, uma classe de medicamentos que estimula o próprio sistema imunológico do paciente a combater as células cancerosas.

“Por ora, esses remédios só estão disponíveis para indivíduos com uma mutação genética específica, o que corresponde a cerca de 1% dos casos”, aponta Siqueira.

Outra novidade recente é o uso das CAR-T Cells, um método já aprovado como tumores de sangue que consiste em extrair células imunológicas do próprio paciente, modificá-las em laboratório e reintroduzi-las no organismo, para que reconheçam e ataquem o tumor.

“Esse, porém, ainda é um tratamento experimental, que precisa ser mais estudado”, pondera a oncologista clínica.

Embora o transplante de pâncreas seja uma opção para os pacientes com diabetes que têm complicações graves, ele não está disponível como tratamento contra o câncer. Isso porque essa cirurgia exige o uso de medicamentos de inibem o sistema imunológico — que, num paciente com esse tumor, fariam as células cancerosas se espalharem mais rapidamente para outras partes do corpo.

Se as perspectivas terapêuticas contra o câncer de pâncreas evoluem, as orientações para prevenir a doença continuam as mesmas.

“A nossa principal recomendação para evitar uma doença dessas é buscar hábitos de vida saudáveis”, sugere Rocha.

“Isso inclui manter um peso adequado, uma alimentação baseada em fontes vegetais e com pouca gordura saturada, praticar atividade física e evitar o tabagismo”, conclui o médico.

 

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c0jl1w5xeppo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Terapia inovadora faz leucemia agressiva entrar em remissão em jovem de 13 anos

11 de dezembro de 2022 - 

Por Rinaldo de Oliveira

Que notícia sensacional! Uma terapia inovadora aplicada em Londres fez a leucemia entrar em remissão em uma jovem de 13 anos. A doença no sangue dela era agressiva e considerada “incurável” pelos médicos.

Mas a garota britânica recebeu células T de doador saudável modificadas geneticamente e um novo horizonte se abriu. A notícia do tratamento pioneiro e vencedor foi dada neste domingo, 11, pelo o Great Ormond Street Hospital for Children (GOSH) de Londres durante a reunião anual da Sociedade Americana de Hematologia.

O hospital informou que Alyssa foi a primeira paciente no mundo a receber essa terapia celular e disse que ela está em casa, se recuperando do tratamento.

“Depois que eu fizer isso, as pessoas saberão o que precisam fazer, de uma forma ou de outra, então fazer isso ajudará as pessoas”, disse Alyssa.

O vídeo

O hospital divulgou um vídeo contando a história da adolescente, identificada como Alyssa, e a sua batalha contra a leucemia linfoblástica aguda de células T – uma forma agressiva de câncer de sangue.

De acordo com o hospital, Alyssa foi diagnosticada com a doença em 2021 e recebeu todas as terapias convencionais atuais, incluindo quimioterapia e um transplante de medula óssea.

Nenhum dos tratamentos funcionou e não havia outros disponíveis sob os protocolos convencionais.

Participou do teste

Alyssa tornou-se então o primeiro paciente a participar de um ensaio clínico em maio deste ano para receber células imunes “geneticamente modificadas” de um doador saudável.

Após 28 dias, Alyssa estava em remissão e recebeu um segundo transplante de medula óssea para ajudar a restaurar seu sistema imunológico, disse o hospital.

Sem este tratamento experimental, a única opção da Alyssa seria o tratamento paliativo.

Robert Chiesa, um consultor do GOSH, disse que embora a reviravolta do seu estado de saúde era “bastante notável”, os resultados ainda precisam ser monitorados e confirmados nos próximos meses.

Como é o tratamento

As equipes médicas do hospital usaram uma técnica de edição de genoma chamada base-editing – método que modifica partes do código DNA das células T de um doador saudável.

As células T são glóbulos brancos e parte crítica do sistema imunológico.

As células T editadas são então aplicadas no paciente, que em seguida atacam e destroem as células T cancerígenas do corpo, sem se destruírem umas às outras.

“É nossa engenharia celular mais sofisticada até agora e abre caminho para outros novos tratamentos e, em última instância, para melhores futuros para as crianças doentes”, disse Waseem Qasim, professor de terapia celular e genética da GOSH.

Novos pacientes

Os médicos agora procuram outros dez pacientes que também esgotaram as opções de tratamento disponíveis, e esperam que esse tratamento possa ser oferecido mais rapidamente às crianças e se tornar uma opção para tratar também outros tipos de leucemia.

O hospital disse que o estudo só aceitaria pacientes elegíveis pelo NHS, o serviço público de saúde do Reino Unido.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Congresso internacional traz avanços no combate ao câncer

Terapias que aumentam a sobrevida de pacientes com tumor colorretal e de mama são os destaques do evento

Paloma Oliveyo

postado em 12/06/2022 06:00

 

(crédito: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT)

Depois de dois anos no formato virtual, o congresso da Associação Norte-Americana de Oncologia Clínica, o Asco, voltou a reunir mais de 40 mil pessoas em Chicago, trazendo importantes novidades para o tratamento de câncer. Segundo especialistas, o evento, encerrado no último dia 7, atendeu às expectativas e mostrou que, apesar da pandemia de covid-19, foi possível avançar nos estudos sobre novas estratégias de tratamento. Também mereceu destaque o debate sobre a desigualdade no acesso aos medicamentos, o que se agravou durante a crise sanitária mundial.

De tumores raros aos mais comuns, ao longo de cinco dias, pesquisadores do mundo todo apresentaram, literalmente, milhares de resultados de estudos, incluindo as sessões de pôsteres. Na avaliação de médicos que participaram do evento, as pesquisas que mais repercutiram na comunidade científica foram relacionadas a câncer colorretal e de mama. Alguns dos artigos sobre essas doenças mostraram importantes ganhos na sobrevida dos pacientes.

Para o oncologista Cristiano Resende, do Grupo Oncoclínicas, a "menina dos olhos" do congresso foi a fase 3 do estudo Destiny, com pacientes de câncer de mama metastático. "O estudo foi apresentado na Plenária, com 100% dos médicos assistindo. Foi ovacionado, o público ficou de pé por um minuto e meio, aplaudindo", relata o médico, que também levou um trabalho ao congresso (Leia mais nesta página). O motivo da comoção foi o aumento significativo da sobrevida livre de doença (quando o câncer está em remissão) e da sobrevida global de pessoas que, até então, não tinham a opção de serem tratadas com uma droga que já se mostrou muito eficaz no tratamento de tumores mamários.

Estima-se que metade das pacientes de câncer de mama possam ser beneficiadas com a descoberta. São pessoas que têm a forma metastática da doença, mas que apresentam baixa expressão de um receptor nas células cancerosas que é alvo do medicamento trastuzumab deruxtecan, uma combinação de anticorpo monoclonal com quimioterápico. "Há alguns anos, esse remédio mudou a prática clínica", observa Resende.

Porém, a substância destina-se apenas às mulheres que têm uma grande quantidade do receptor HER2 nas células doentes. Aquelas cujos testes mostram uma expressão negativa ou duvidosa — classificadas agora de HER2-low (low de baixo, em inglês) não tinham indicação para esse tratamento. Agora, contudo, pesquisadores mostraram que essa população também pode ser tratada com o trastuzumab deruxtecan e ter um ganho significativo. O estudo do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, incluiu 557 voluntárias com o perfil HER2-low. Dessas, 373 receberam o medicamento, e as restantes foram tratadas com a quimioterapia padrão.

Segundo os pesquisadores, comparadas ao segundo grupo, nas mulheres que receberam o trastuzumab deruxtecan, o risco de a doença crescer e se espalhar foi 49% menor. A mortalidade durante o acompanhamento — 18,4 meses — foi 36% menor. "Nosso estudo mostra que a substância pode ser uma nova e altamente efetiva opção de terapia alvo disponível para a nova classificação das pacientes", disse, em um comunicado de imprensa, Shanu Modi, principal autor do estudo.

O medicamento foi aprovado no Brasil neste ano para as pacientes com HER2 positivo. O laboratório já entrou com pedido de inclusão daquelas com perfil HER2-low na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Porém, sendo um remédio novo e muito caro — o tratamento de uma pessoa chega a US$ 50 mil —, ele não é ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e mesmo as usuárias de planos privados podem ter dificuldade de consegui-lo no país.

100% de remissão

Um fato inédito na história do congresso foi a apresentação de um estudo que relatou 100% de remissão de um raro tumor retal em estágio avançado. Pessoas com o chamado dMMR têm uma alteração molecular que dificulta a resposta ao tratamento padrão — quimio e radioterapia. Essa anomalia, que acontece no momento em que a célula faz cópias do DNA, está presente em aproximadamente 5% a 10% de todos os tumores de reto, segundo os autores da pesquisa. Tratados por seis meses com o imunoterápico dostarlimab aplicado via venosa a cada três semanas, todos os participantes do estudo se viram livres do câncer retal dMMR, o que foi comprovado em avaliações radiológicas e endoscópicas.

O número de pacientes envolvidos foi pequeno, 14, mas o suficiente para o trabalho ser reconhecido como um dos mais importantes do congresso. "As respostas nesses primeiros pacientes foram notáveis e excedem o que esperávamos com a quimioterapia padrão mais radiação", comenta a oncologista gastrointestinal Hanna K. Sanoff, que não participou da pesquisa. Segundo a médica do Hospital do Câncer da Carolina do Norte, nos EUA, como esses tumores retais não respondem bem à quimioterapia e à radiação, muitos pacientes precisam ser operados. "Infelizmente, a cirurgia pode resultar em consequências notáveis para a saúde, incluindo danos nos nervos, infertilidade e disfunção intestinal e sexual."

O dostarlimab é uma imunoterapia e deve chegar ao Brasil em agosto, com a indicação para tratamento de câncer de endométrio. No estudo, que, no fim, será feito com 30 pacientes, todos os 14 participantes tinham câncer retal dMMR nos estágios 2 e 3, mais avançados. "Gostaria de destacar que a maioria desses pacientes tinha tumores grandes e volumosos. O padrão de atendimento para eles provavelmente exigiria as três modalidades de tratamento: quimioterapia, radioterapia e cirurgia", disse, na apresentação do estudo, Andrea Cercek, chefe da seção de câncer colorretal do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e um dos autores do artigo, publicado simultaneamente na revista The New England Journal of Medicine. Na publicação, os dados são de 12 pessoas, mas o número subiu posteriormente.

"Nós já tratamos um total de 14 pacientes, e todos — 100% — tiveram uma resposta clínica completa apenas com dostarlimab. Nenhum paciente necessitou de quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. Não houve evolução de grau do tumor. Não foram observadas recorrências da doença", continuou Cercek, ressaltando que é necessário um acompanhamento mais longo dessas pessoas para estabelecer a durabilidade do tratamento. Por enquanto, elas foram avaliadas ao longo de dois anos.

 

Três perguntas para

Fernando Maluf, oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer

A pandemia de covid atrapalhou de alguma forma as pesquisas na área oncológica?

A pandemia atrapalhou a pesquisa e o tratamento de câncer no mundo inteiro, e um dos motivos principais foi o isolamento. O que aconteceu é que o número de pacientes incluídos nos protocolos clínicos caiu drasticamente. Muitos deles acabaram tendo dificuldade de acesso aos centros. No nosso país, houve, em vários locais onde a estrutura de câncer era acoplada a áreas não oncológicas, o direcionamento de leitos para a covid; salas de aplicação de quimioterápicos direcionadas a outras condições; e UTIs lotadas. O que aconteceu foi que, por uma questão estrutural, muitos hospitais tiveram uma redução no atendimento de pacientes de câncer.

Houve muitas expectativas em relação ao Asco 2022, por ser o primeiro congresso presencial desde 2019. Os trabalhos apresentados corresponderam ao que se esperava?

Foi muito bom ser presencial porque a gente consegue, outra vez, o que não consegue on-line, que é interagir com colegas e lideranças do mundo inteiro e desenhar projetos de pesquisa trabalhando como um grupo. Os trabalhos corresponderam às expectativas. Houve estudos de câncer de mama importantes, como o Destiny, que mostrou um ganho de sobrevida livre de progressão muito significativo. Outro estudo com 12 pacientes de tumor de reto que tiveram resposta completa só com o imunoterápico, sem precisar de quimio, rádio ou cirurgia. Além disso, houve consolidação importante, como os radiofármacos, o caso de câncer de próstata metastático resistente à castração; o papel da imunoterapia, aumentando a sobrevida de pacientes com câncer de colo de útero; novas drogas imunoterápicas no tratamento do câncer de bexiga superficial; e a introdução de novos agentes nos cânceres de cabeça e pescoço, aumentando a sobrevivência com a radioterapia. São estudos muito importantes porque podem beneficiar pacientes a curto prazo.

Além de resultados de estudos, o congresso abordou a desigualdade no acesso a medicamentos. Como foi esse debate?

Isso foi assunto de várias mesas do congresso. Não adianta ter tecnologia se ela não chega às pessoas como um todo. Então, acho que existe até do ponto de vista das agências internacionais uma preocupação maior de como a gente consegue garantir equidade no cuidado do paciente oncológico dentro dos próprios países e também entre os países do mundo inteiro. 

 

Aumento dos casos de metástase

A pandemia de covid não fez vítimas somente entre os infectados pelo Sars-CoV-2. Pacientes de câncer foram prejudicados, o que teve como consequência uma redução do diagnóstico em fase inicial, dificultando as chances de cura. Um trabalho brasileiro apresentado na sessão de pôsteres do Congresso da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco) encontrou uma diminuição estatística importante nos atendimentos, ao mesmo tempo em que aumentou o número de pacientes com metástases.

O estudo foi realizado com base nos dados de quase 12 mil pessoas atendidas pelo grupo Oncoclínicas em todo o país, inclusive em Brasília. Os pesquisadores compararam a quantidade de pacientes de câncer de mama que buscaram as clínicas da rede entre 2018/2019 com as que procuraram ajuda médica entre 2020/2021.

"Houve uma diminuição no número de pacientes iniciais (que se consultaram pela primeira vez), passando de 68% para 58%. Ao mesmo tempo, aumentou o número de pacientes com doença metastática, de 12% para 19%", diz o oncologista Cristiano Resende, um dos autores da pesquisa. Ele explica que, embora o estudo não tenha investigado relação de causa e consequência, é muito provável que as estatísticas sejam explicadas pela pandemia, quando muitas pessoas deixaram de sair de casa para fazer os exames de rotina que podem detectar a doença em fase inicial.

"Fica muito claro que isso está relacionado à falta do exame de rastreamento", observa Resende. "Estamos falando de uma doença que, quando metastática, é incurável. Houve um aumento de pacientes com metástases de 7%. Exatamente na faixa etária onde havia mais chances de prevenir, que são as mulheres com mais de 50 anos e na pós-menopausa. Esse também é o grupo de maior risco de covid. Então, acreditamos que muitas pessoas deixaram de fazer os exames devido ao isolamento." 

segunda-feira, 11 de abril de 2022

‘Em três anos o tratamento do câncer viverá uma revolução’, diz oncologista

À frente de projeto de lei para reduzir a burocracia na inclusão de remédios orais contra tumores pelos planos de saúde, Fernando Maluf aponta que, no futuro, doença pode se tornar crônica

Adriana Dias Lopes

29/08/2021 - 04:30

SÃO PAULO — Nos últimos dias, uma grande mobilização popular se formou no país entre os pacientes com câncer. O objetivo é derrubar o recente veto que o presidente Jair Bolsonaro impôs ao projeto de lei que obriga os planos de saúde a pagarem os remédios orais contra a doença. Em poucos dias, um abaixo-assinado liderado Instituto Vencer o Câncer arregimentou 145 mil assinaturas colhidas pela plataforma a Change.org. “A liberação salvaria a vida de 50 mil pessoas anualmente, já que essas medicações são responsáveis por 70% dos tratamentos oncológicos”, diz o oncologista Fernando Maluf, dos hospitais Beneficência Portuguesa e do Albert Einstein, em São Paulo, idealizador do projeto. A seguir, Maluf detalha o impacto da ausência desse tipo de droga no tratamento dos tumores e fala dos tratamentos que chegarão em um prazo curto de tempo e transformarão o perfil da doença no mundo.

Por que os remédios orais são tão importantes no tratamento do câncer?

Sete em cada dez remédios oncológicos são orais. E menos de 5% das farmacêuticas produzem um mesmo medicamento em duas versões, oral e injetável. Significa que estamos sendo privados de mais da metade das medicações disponíveis mundialmente. Essas terapias orais foram criadas para quase todo tipo de tumor. O veto ao projeto de lei que facilita o acesso aos doentes é um erro capaz de ceifar milhares de vida por ano, entre crianças, adolescentes e adultos.

Quais são os obstáculos para eles entrarem no Brasil?

A liberação dos orais pouparia a vida de 50 mil pessoas ao ano no país. Não estou nem me referindo aqui ao Sistema Único de Saúde, um cenário muito mais abrangente e complexo. Falo dos que têm acesso a planos de saúde. Muitas pessoas não sabem do processo de autorização dos remédios orais, completamente diferente em relação aos intravenosos. Quando uma droga é desenvolvida, a empresa farmacêutica submete o estudo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No caso dos remédios intravenosos para câncer, assim que a Anvisa libera, eles ficam disponíveis para o uso de pacientes que tenham convênio médico. Só que para as medicações orais há mais uma etapa, eles têm de passar por uma segunda aprovação, feita pela Agência Nacional de Saúde Suplementar. Esse aval pode levar até três anos para ocorrer. Ou seja, para muitos doentes, não dá mais tempo para receber o tratamento. São remédios caros, que custam de 5 mil a 30 mil reais ao mês, pouquíssimas pessoas podem comprá-los. Não existe isso em lugar nenhum no mundo, só no Brasil. Essa segunda etapa não é baseada em nenhum parâmetro médico. O projeto de lei retira a necessidade de existir essa segunda lista de aprovação. A Anvisa é a responsável pela liberação de remédios, não faz sentido essa burocracia.

Mesmo com os avanços nos conhecimentos da doença, o câncer é ainda a segunda causa de morte no mundo. A medicina um dia vai vencer essa batalha?

As últimas descobertas nos fizeram ver a doença de uma outra forma e justificam o fato da incidência ser cada vez maior. Pelo menos a metade dos tumores está relacionada ao estilo de vida. É muita coisa. De 10% a 15% estão associados à genética e o restante a uma série de fatores, incluindo infecções, como hepatite e HPV. Um dos maiores impactos dos maus hábitos está na má alimentação – consumo exagerado de enlatados, embutidos e gorduras, por exemplo. Uma dieta desregrada pode ter o mesmo peso que o cigarro, para você ter uma ideia. Defendo inclusive a ideia de que os alimentos que estimulam o surgimento do câncer sejam vendidos em embalagens com o alerta de que são nocivos, assim como se faz com o cigarro. Idem para o álcool, outro fator de risco. Comprar uma pinga com uma pessoa morrendo no rótulo inibiria muita gente. O sedentarismo influencia também. A atividade física é protetora, assim como os bons alimentos, como a cúrcuma, o tomate e o chá verde.

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O que devemos esperar de novidades nos tratamentos em um prazo curto de tempo?

Eu diria que muito brevemente, em no máximo em dois ou três anos, o perfil da doença será outro. Teremos uma revolução nos tratamentos do câncer. Há pelo menos duas novidades que me entusiasmam muito. Uma delas são os testes moleculares, os biomarcadores, já disponíveis para alguns tumores, mas que se tornarão ainda mais sofisticados. Como se fosse uma roupa feita por um alfaiate, trata-se de um recurso que permite identificar o câncer de forma individual, com o rastreamento do subtipo do tumor que acomete o doente. Isso torna o tratamento mais preciso, eficaz. Ele vai também servir para avaliar um paciente que tenha se submetido a tratamentos, se ele está ou não de fato curado, e eliminar muitas vezes os infinitos exames que hoje são feitos nessa fase. Esses biomarcadores podem, inclusive, definir que uma pessoa não precisa ser tratada. A depender do tipo do câncer, como muitos de próstata, a melhor opção é essa mesma, não tratar. Apenas observar por exames se a doença evolui ou não e descartar terapias desnecessárias ou inefetivas. Muito em breve teremos também uma sorte de remédios, mais especificamente de anticorpos, ligados a drogas que colam diretamente no tumor e liberam o remédio dentro das células doentes.

Há novidades tão expressivas na área dos diagnósticos?

Teremos dentro desse prazo testes genéticos que rastreiam o câncer cinco anos antes de ele atingir os órgãos. Ou seja, poderemos tratar a doença antes de ela se manifestar pelos exames clínicos convencionais.

O que falta para se chegar à cura total dos cânceres?

Nos últimos dez anos evoluímos drasticamente. Hoje, cerca de 70% dos tumores rastreados no início são curados. A taxa com o câncer de próstata chega a 90%. E com os cânceres avançados, por volta de 40%. Não diria que um dia a doença metastática será erradicada em todos os casos, mas certamente será crônica. Ou seja, conviveremos com ela sem que nos mate.

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Algum tipo de câncer um dia será erradicado?

O câncer de colo de útero e encaixa mais perfeitamente nesse cenário. Pelo simples fato de que existe uma vacina para preveni-lo, que é a do HPV. O vírus é transmitido principalmente pela relação sexual e é o principal causador desses dois tumores. Defendo a tese, inclusive, de que a vacina deveria ser dada nas escolas. A faixa correta da imunização é entre os 9 e 13 anos de idade. E aqui surge um problema. O imunizante é cercado de preconceitos, infelizmente. Vejo relatos de pais com medo de que a vacina influencie de alguma forma vida sexual de seus filhos ou provoque efeitos colaterais. Vacinação associada a rastreamento em massa das doenças e o exame de Papanicolau certamente erradicariam esse tumor que ainda é tão incidente.

A pandemia afetou muito o perfil da doença?

O medo da Covid-19 colocou todas as outras doenças em segundo plano. No caso do câncer o impacto foi brutal. No ano passado especialmente, quando ainda não tínhamos vacinas, o cenário foi pior. As pessoas ficaram com medo de ir ao hospital, muitos descontinuaram os tratamentos e os serviços de check-up foram esvaziados. Estima-se que a mortalidade por câncer tenha crescido pelo menos 20% globalmente. Mas as coisas já estão entrando nos eixos.

O Globo,

https://oglobo.globo.com/saude/em-tres-anos-tratamento-do-cancer-vivera-uma-revolucao-diz-oncologista-1-25174905

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Biossimilares no tratamento do câncer de mama


Tratamentos

Os biossimilares são medicamentos de alta tecnologia e que oferecem oportunidade de ampliação das alternativas terapêuticas para diferentes doenças, incluindo o câncer.

O desenvolvimento e a comercialização desses medicamentos viabilizaram a obtenção desses produtos a custos mais baixos, favorecendo o acesso pela população.

Câncer de mama no Brasil
O câncer é uma doença crônica e degenerativa que acomete pessoas de diferentes idades, etnias, sexos e localizações geográficas. No mundo, é responsável por cerca de 13% de todas as mortes, ou seja, mais de 7 milhões de óbitos por ano. O câncer de mama corresponde a 22% de todos os novos casos e está em primeiro lugar entre os diagnósticos da doença em mulheres, no Brasil. Apesar de infrequente, também pode acometer homens.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) esse tipo de câncer é causado pela multiplicação desordenada das células da mama que, nesse processo, formam um tumor. Existem diferentes tipos de câncer de mama que podem evoluir de variadas formas: alguns mais rápido, outros mais devagar. Recentes estudos oncológicos utilizam quatro classificações para os tipos de câncer de mama, sendo eles o luminal A, luminal B, HER2-positivo e triplo negativo.

Recentemente, as taxas de mortalidade pela doença vêm crescendo significativamente e alguns acreditam que isso se dê por conta do grande número de diagnósticos feitos quando o câncer de mama já se encontra em estágios avançados. O diagnóstico precoce ainda é o maior objetivo quando se pensa em aumentar as taxas de cura e de reabilitação, possibilitando o uso de tratamentos menos agressivos. O tratamento do câncer de mama é complexo e administrado de acordo com o estágio da doença, podendo incluir quimioterapia, cirurgia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia; pode também ser realizada a combinação de uma ou mais dessas terapias.

Biofármacos, biossimilares e o câncer de mama no Brasil
A produção e comercialização dos medicamentos biológicos promoveram um avanço nos tratamentos oncológicos e uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. Quando as patentes de diversos desses medicamentos expiraram, algumas indústrias farmacêuticas se empenharam no desenvolvimento do que chamamos de biossimilares – uma alternativa que possibilitou maior acesso ao tratamento porque diminuiu os custos para os sistemas de saúde.

Fármacos biossimilares são, como diz o nome, medicamentos altamente similares aos medicamentos biológicos de referência, com eficácia e segurança equivalentes, e cuja principal diferença encontra-se no processo de produção. São produtos biológicos complexos com mecanismos de ação extremamente específicos, produzidos a partir de organismos vivos modificados geneticamente e usados para o tratamento de diversas patologias.

 

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