quinta-feira, 26 de outubro de 2017

‘Angelina fez mais pelo câncer de mama que a sociedade médica’


Acompanhe o 'Estúdio VEJA' sobre conscientização e prevenção do câncer de mama neste Outubro Rosa
access_time12 out 2017, 20h50 - Publicado em 12 out 2017, 19h07

câncer de mama e sua prevenção, causas e tratamentos é o tema da conversa da repórter Natalia Cuminale com o doutor e presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Antônio Frasson. Na entrevista, o mastologista ressaltou a contribuição da atriz Angelina Jolie no combate à doença. 

“Angelina Jolie foi um fenômeno mundial. Ela fez mais pelo câncer de mama do que todas as sociedades médicas nos últimos 50 anos”, afirma Frasson. O mastologista explicou que as ações da atriz popularizaram exames para detectar mutações que levam a esse câncer.

Antes, no Brasil, o teste BRCA, que avalia a presença de genes que predispõem ao desenvolvimento de câncer precoce, custava 12 mil reais. Hoje sai em torno de 1.500 reais. Nos Estados Unidos, graças à luta de Angelina, o custo é de 149 dólares.
Além disso, Frasson mostrou que há boas e más notícias em relação a esta doença no país. Apesar do número de casos deste tipo de câncer ter aumentado entre mulheres jovens, houve muitos avanços nas técnicas de cirurgia para remoção do tumor e reconstrução da mama. Ele completa afirmando que alimentação saudável, atividade física regular e manter o peso ideal são hábitos preventivos.


terça-feira, 17 de outubro de 2017

Terapia genética para o câncer deve chegar ao Brasil em 2018


Após tentar vários tratamentos, Márcia D'Umbra, 50, passou por um tratamento experimental com terapia celular em Israel. 'Era uma situação de total risco', relata. (Foto: Marcelo Brandt/G1)

Salto estratégico na oncologia, a terapia capaz de ensinar células do sistema imune a lutar contra o tumor deve chegar ao país no ano que vem. Hospital em São Paulo já prepara infraestrutura.



Por Carolina Dantas e Monique Oliveira, G1
17/10/2017 05h00  Atualizado há menos de 1 minuto

A estratégia de editar geneticamente nossas células de defesa para que elas "aprendam" a combater o câncer parece não estar tão longe do alcance dos brasileiros. Aprovada nos Estados Unidos comercialmente no final de agosto, a terapia que promete ser um salto importante na oncologia está na mira de vários centros no país e um deles reuniu condições para trazer a terapia no ano que vem -- depois de levar pacientes brasileiros para instituições de excelência fora do país.

Foi o que aconteceu com Márcia D'Umbra, de 50 anos, que venceu um melanoma agressivo após se submeter a este tipo de tratamento em Israel

Enquanto o Inca (Instituto Nacional do Câncer), público, que tem estudos em cobaias com a terapia desde os anos 1990, busca financiamento para levar a terapia adiante, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, privado, anuncia que deve fazer os primeiros tratamentos experimentais no Brasil em 2018. O hospital separou uma sala especial para isso e já tem pesquisadores nos Estados Unidos em treinamento. A ideia é ser o primeiro centro de terapia genética do câncer na América Latina.

O investimento do Einstein para começar a terapia por aqui está avaliado em US$ 7 milhões (mais de R$ 22 milhões) -- com US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,3 milhões) destinados a uma sala especial de esterilização. "É uma estimativa genérica porque, mais importante que a infraestrutura, vão ser os investimentos em pesquisa", diz Wilson Pedreira, diretor do Centro de Oncologia do Einstein.

Fora do país, o custo dos tratamentos para os pacientes gira em torno de US$ 300 mil (cerca de R$ 945 mil), como mostra detalhamento abaixo.

G1 entrou em contato com o Hospital Sírio Libanês e com o A.C Camargo, outros centros de referência no tratamento do câncer no Brasil, e nenhum dos dois apresentou projetos a curto prazo para implementar essas novas terapias. "As barreiras são financeiras e tecnológicas", disse Yana Novis, coordenadora de onco-hematologia do Centro de Oncologia do Hospital Sírio- Libanês.

A primeira das novas terapias para o câncer que deve chegar ao Einstein é a TIL, indicada para o melanoma. Mais para frente, serão disponibilizados protocolos de CART-CELL, imunoterapia que tem apresentado bons resultados em leucemias. Essas terapias, no entanto, ainda deverão ser regulamentadas por órgãos reguladores e comitês de pesquisa.

De qualquer modo, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, não se trata de anunciar uma terapia longínqua, fruto de um otimismo um tanto precipitado: de fato, a imunoterapia genética, façanha que desde os anos 1980 tem sido apontada como o "sonho" da medicina no câncer, pode ser a diferença entre a remissão e a cura no tratamento de tumores no país.

Trata-se de um salto estratégico muito mais que apenas mais uma novidade em tratamentos. A medicina com a imunoterapia genética tem a possibilidade de fazer com que o corpo "aprenda" a combater o tumor caso ele volte -- técnica que é bem diferente de eliminar células cancerígenas por meio de cirurgia ou quimioterapia.

"Essa é uma terapia que ficou quente nos últimos anos porque os resultados em leucemia foram muito promissores", diz Martin Hernan Bonamino, pesquisador do Inca e coordenador do grupo de câncer da Fiocruz.
"É o mesmo conceito hoje da Aids, o câncer pode deixar de ser letal e ser controlável. As terapias estão caminhando nesse sentido", diz Wilson Pedreira, diretor do Centro de Oncologia do Einstein.
"São as células-soldado do sistema imune que entram em ação contra o tumor”, diz Antonio Carlos Buzaid, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, especializado em melanoma.

Não à toa o número de estudos clínicos que estão investigando a nova estratégia é alto e, se considerarmos os números de estudos ainda em andamento, a probabilidade de novas descobertas serem feitas nos próximos anos é ainda maior.

Em consulta feita no dia 20 de setembro no clinicaltrials.gov, plataforma que cadastra estudos clínicos em todo mundo, havia o registro de 382 estudos clínicos com CART-Cell, com 195 deles recrutando pacientes e 75 deles completados.

Como qualquer nova terapia, contudo, os desafios também são novos -- muitos deles desconhecidos da oncologia até agora.

As principais estratégias
Disponível apenas para alguns tipos de câncer, são três as principais estratégias de terapias celulares: CART-Cell, disponível para leucemia; T CELL "Engendrado", pesquisada para melanoma e sarcoma; e TIL, usada também para o melanoma. Confira como funciona cada uma delas:
1 - CART-Cell

A estratégia da CART-Cell consiste em habilitar linfócitos T, células de defesa do corpo, com receptores capazes de reconhecer o tumor. O ataque é contínuo e específico e, na maioria das vezes, basta uma única dose.

Indicações até agora: Linfomas e leucemia linfoide aguda (o câncer mais comum em crianças). Nas leucemias em crianças, a taxa de sucesso dessa terapia é alta (superior a 50%, em média).

Onde o processo está mais avançado: Estados Unidos.

Preço: Os processos são experimentais. Nos Estados Unidos, no entanto, é possível pagar para entrar no protocolo. Por lá, a terapia sai por US$ 300 mil (cerca de R$ 945 mil) em média.

2 - T CELL 'Engendrado'
O processo é parecido com o do CART-Cell. A diferença aqui é que, enquanto a célula de defesa reconhece antígenos (partícula que deflagra a produção de um anticorpo específico) na superfície do tumor, o T CELL engendrado é capaz de reconhecer antígenos mais profundos que são processados e apresentados na superfície da célula cancerosa.

Onde está sendo estudado: National Institute of Health (Estados Unidos).
Indicações com mais sucesso até agora: Melanoma (câncer grave de pele) e Sarcoma sinovial (tumor das partes moles).

Estimativa de custo: Não há ainda. Os resultados são bem preliminares mas há pacientes aparentemente curados com essa técnica.

3 - Terapia 'TIL'
O processo consiste em retirar o tumor do paciente e extrair as células de defesa (linfócitos T que infiltram o tumor), cultivá-las em laboratório, expandir em grande quantidade e depois reinjetá-las no paciente.

Ao contrário do CART-Cell, não há terapia genética e o processo tende a ser mais seguro (embora ainda seja bem mais complicado que as terapias convencionais).

Onde está sendo estudada: Israel, Holanda e Estados Unidos; no Brasil, o Hospital Israelita Albert Einstein planeja para o próximo ano iniciar os tratamentos dos primeiros pacientes.

Indicação: Melanoma, com taxa de cura em torno de 30% dos casos
Preço estimado: US$ 200 mil em Israel ( cerca de R$ 630 mil)

Um caso de cura


A americana Ava Christianson (Foto: Reprodução/Facebook/Bethany George Christianson)

Ava Christianson já tinha passado por várias rodadas de quimioterapia e estava pronta para mais uma. Acabou se tornando um dos casos mais repercutidos de cura pela nova terapia chamada de CAR T-Cell.

O procedimento, de acordo com reportagem do "The Washington Post", demorou cinco minutos no Centro Clínico dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) -- na época, a garota tinha 8 anos e convivia com a doença desde os 4 anos. A remissão da doença começou um mês depois.

O rápido procedimento passado por Christianson é a injeção de suas próprias células T, parte fundamental do nosso sistema imunológico. Elas foram modificadas para rastrear e matar as células tumorais.



Christianson era a paciente teste de nº de 18 do NIH, que ainda é o centro-chefe das pesquisas sobre o novo tratamento. Os resultados positivos direcionaram à aprovação pela FDA, órgão similar à Anvisa dos EUA. A Novartis, empresa que possui a patente, informa que a taxa de remissão nestes casos é, em média, de 83%.

Brasileiros buscam solução fora
Já existem pacientes brasileiros que viajaram para o exterior atrás de uma cura com a terapia. Márcia D'Umbra, de 50 anos, sobreviveu a um melanoma agressivo após se submeter ao tratamento do TIL, em Israel, há 5 anos. "Quando vou ao consultório, o médico brinca: estou quase achando que você está curada". "Era a única chance que ela tinha", diz Antonio Buzaid, do Einstein, que ajudou Márcia a conseguir o tratamento em Israel.

"Depois de Israel, não tinha mais o que fazer no meu caso. Era uma situação de total risco", diz Márcia.

Antes da viagem a Israel, Márcia tentou todos os protocolos clínicos para o tratamento do melanoma no Brasil. Passou por quimioterapia e por medicamentos de ponta disponíveis para a condição, como o ipilunumab. A família também chegou a procurar um tratamento nos Estados Unidos, mas Márcia não correspondia a todos os critérios para entrar no protocolo.

Com o melanoma em metástase, Márcia chegou a ter dois tumores no sistema nervoso central. Cinco anos após a terapia em Israel, ela conta da vida normal que passou a levar, livre dos tumores que tinham se espalhado por seu corpo.

"Quando eu fiquei doente, eu tinha metástase cerebral, eu não podia mais dirigir, eu perdi todo o domínio da minha vida, de tudo. Hoje eu tenho uma vida normal", relembra.

As dificuldades do tratamento
Apesar de já estar disponível para algumas condições e se revelar promissor, na prática, o processo do tratamento da terapia genética é bastante complexo e desafiador. Por esse motivo, poderá levar algum tempo até que o procedimento esteja disponível para mais tipos de câncer.

Veja abaixo algumas das barreiras ainda a serem vencidas:

Efeitos colaterais: estudo publicado na "Nature Review Clinical Oncology” alerta para efeitos colaterais letais da terapia -- como a toxicidade neurológica e o inchaço no cérebro. Uma outra questão é a chamada "síndrome de liberação de citoquinas (SIR)", resposta imune progressiva que causa sintomas semelhantes à gripe, mas com potencial fatal nos pacientes.

Especificidade: para garantir o sucesso da terapia, os cientistas modificam o linfócito T para que ele seja capaz de reconhecer uma estrutura específica do tumor. Isso é, ao mesmo tempo, o motivo do sucesso e do eventual fracasso da terapia, pois caso essa estrutura utilizada para "ativar" o linfócito não seja de fato específica e, por algum motivo, o paciente tenha a presença desses antígenos em alguma outra parte do corpo, a terapia perde a sua especificidade. Resultado: a célula de defesa também poderá atacar células do corpo saudáveis, uma vez que o linfócito está treinado para reconhecer especificamente essa estrutura e não o tumor por inteiro.

"Esse é um processo muito complexo e é por esse motivo que a terapia não está disponível para mais condições", diz Antonio Carlos Buzaid, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, especializado em melanoma. "Não é para todo mundo porque ela será desenhada para tumores específicos".

"Um estudo clínico que testou a terapia para o controle de câncer de mama com antígeno HER 2 acabou não funcionando por esse motivo. Uma paciente que tinha um pouquinho desses receptores no pulmão morreu com o órgão totalmente destruído em horas".

Precocidade: de acordo com Yana Novis, coordenadora de onco-hematologia do Centro de Oncologia do Hospital Sírio- Libanês, ainda não há tempo suficiente em testes para avaliar os efeitos do tratamento a longo prazo no corpo humano.

"Muito importante quando se mexe com engenharia genética é tentar entender o que esse tipo de terapia pode, quem sabe, trazer de impacto no futuro", disse.

"Os estudos são todos precoces e os pacientes precisam ser acompanhados em um período de tempo mais longo. Precisamos ver se além de trazer a cura, podemos trazer algum outro impacto na vida do paciente", explicou.

"Isso porque quando você está ativando todo um sistema imune para combater um câncer, você não tem tanto controle sobre ele. É uma preocupação que todos têm com CAR-T. Pode ser que não aconteça nada, pode ser que esse sistema imunológico desregulado por nós de uma maneira a curar uma doença, possa causar outra no futuro”, aponta.

Logística: Atualmente, as terapias celulares estão sendo voltadas especificamente para cada paciente. "Isso é um desafio logístico importante, as células têm que viajar, ser modificadas e devolvidas. O reparo leva de 20 a 30 dias", relata o oncologista do Inca.

Novo x convencional
Na forma convencional, o tratamento dos cânceres sanguíneos é feito com quimioterapia. Já no caso de câncer com órgãos sólidos, de acordo com o oncologista Márcio Paes, pode-se pode fazer uma cirurgia para a retirada do tumor e também usar a radioterapia.

"Realmente é um tratamento ainda muito tóxico. Cai o cabelo, causa fraqueza, náuseas. A radioterapia pode dar uma sensação de queimadura e fadiga", explica, sobre os métodos convencionais.

Por outro lado, o médico diz que o mecanismo das novas terapias pode causar um efeito inflamatório, porque o corpo "luta" contra si mesmo.

"Para os tratamentos novos há uma expectativa muito boa de que possam causar poucos efeitos colaterais. Mas há riscos, pode haver reações graves que podem levar o paciente à UTI. O efeito é uma reação inflamatória grave, mas sem queda de cabelo, por exemplo".

"É um tratamento menos tóxico e com uma taxa de resposta positiva maior", completa.

Regulamentação
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informa que não houve um pedido formal para o uso da terapia genética no Brasil. Com isso, as terapias celulares seriam aplicadas em caráter experimental – nesse caso, sob a supervisão do Conep (Comitê Nacional de Ética em Pesquisa), que deve aprovar o protocolo em que cada terapia será utilizada.

Para deixarem de ser experimentais, os serviços deverão pedir aprovação na Anvisa e também passar pela Comissão de Novos Procedimentos do Conselho Federal de Medicina.

Além disso, mesmo quando aprovadas, as terapias celulares só serão usadas em pacientes que não responderem aos tratamentos tradicionais, já que se trata de um processo mais invasivo e extremamente complexo.

Preços e o desafio para o SUS
Os preços para terapia celulares fora do país estão avaliados em US$ 300 mil (cerca de R$ 945 mil) em média -- um valor que tem por base o preço do transplante de medula óssea.

Segundo Martin Bonamino, do Inca, apesar de aparentemente altos, os custos da terapia não estão tão fora do conjunto de terapias mais modernas para o câncer -- medicamentos como o "Trastuzumabe", por exemplo, terapia biológica usada para o tratamento do câncer de mama, tem por custo uma variaçao de preço entre R$ 20 a 30 mil mensais. O medicamento geralmente é usado por 18 meses. Já a maior parte das terapias celulares em andamento tem potencial para serem utilizadas uma única vez.

Bonamino indica que o maior desafio será a chegada dessas terapias no sistema público. Para serem ofertados no SUS, diz ele, uma alternativa seria a fabricação dessas terapias no Biomanguinhos (laboratório público ligado à Fiocruz). "É fundamental que a gente tenha a capacidade de também produzir essa terapia por aqui", diz.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Um quarto dos pacientes com câncer usou maconha medicinal nos EUA, diz estudo


Primeira clínica de maconha medicinal foi inaugurada em janeiro de 2016, em Nova York (Foto: REUTERS/Shannon Stapleton)

Maconha é usada para alívio de sintomas do tratamento. Estudo publicado na revista 'Cancer', no entanto, mostra que muitos não estão sendo orientados por médicos, o que pode gerar riscos.
  

Por G1
25/09/2017 09h10  Atualizado há 2 horas

Um quarto dos pacientes sobreviventes do câncer (24%) fizeram uso da maconha medicinal no último ano para aliviar sintomas físicos e psicológicos nos Estados Unidos, informa estudo publicado nesta segunda-feira (25) na revista científica "Cancer", publicação da American Cancer Society.

A pesquisa também mostrou que uma legislação mais permissiva em muitos estados americanos contribuiu para esse número. O estudo mostrou que 24% usaram maconha no último ano -- o que estima o uso associado ao tratamento do câncer -- e 21% no último mês.

Os dados foram consistentes com análise de urina feita por pesquisadores, que mostrou que 14% havia feito uso de cannabis na última semana.

Se considerado o uso em alguma vez no passado, sem um período determinado, mais da metade (66%) informaram o consumo.

Atualmente, mais da metade dos estados nos Estados Unidos aprovam leis que permitem o uso da maconha medicinal de alguma forma. O estudo mostra que, se a disponibilidade da planta começar a crescer, mais pacientes terão acesso à maconha para o tratamento do câncer.

O principal uso da erva entre pacientes oncológicos se dá para o alívio de náuseas na quimioterapia, mas há outros usos não totalmente mapeados por estudos clínicos.

Foi também com o objetivo de entender esse uso que o pesquisador Steven Pergam e sua equipe entrevistaram 926 pacientes no Seattle Cancer Center Alliance.

O grupo descobriu que, além do uso para sintomas físicos (dor e náuseas), pacientes com câncer também utilizaram a cannabis por razão psicológicas: para lidar com o estresse, depressão e insônia.

Falta de informação e problemas
A pesquisa demonstrou também que a maioria dos pacientes nesse grupo teve um forte interesse em aprender sobre maconha durante o tratamento -- e 74% procurou informações sobre o assunto em associações de cuidados com o câncer.

De acordo com os pesquisadores, embora quase todos os entrevistados desejassem que seus médicos fornecessem mais informações sobre o assunto, a maioria relatava que eles eram mais propensos a obter informações de fontes fora do sistema de saúde.

"Os pacientes com câncer desejam, mas não estão recebendo informações de seus médicos de câncer sobre o uso de maconha durante o tratamento", diz Pergam, em nota sobre o estudo.
O pesquisador espera que mais estudos ajudem a avaliar os riscos e benefícios da cannabis nessa população e que a comunidade científica ajude médicos a informar mais sobre o tema -- já que o uso da maconha pode não ser benéfico para todos os pacientes e gerar efeitos colaterais indesejados.

"A informaçao é importante, porque se não educarmos nossos pacientes sobre maconha, eles continuarão a obter suas informações em outro lugar."

O uso da maconha medicinal no Brasil
No Brasil, é permitido a importação de um derivado da cannabis, o canabidiol (CBD), para casos em que não há outros tratamentos disponíveis. É possível a importação de outros produtos, com o THC como base, desde que pedido a importação diretamente na agência, com laudo médico e receita.

Neste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também incluiu a maconha na lista de plantas medicinais, mas não liberou o uso, que continua proibido no Brasil.
A inclusão apenas reconhece o potencial da erva para pesquisas futuras e regulamentações de medicamentos, o que permite desburocratizar processos de aprovação no futuro.
Em janeiro de 2017, a agência aprovou o registro do primeiro medicamento à base de maconha no país, indicado para a esclerose múltipla.

Na Justiça, alguns pacientes que não tiveram condições para comprar medicamentos importados e tinham doenças graves, conseguiram autorização para o autocultivo.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

A caneta que consegue identificar um câncer em 10 segundos


Dispositivo portátil permitiria que cirurgia para retirada de tumor seja feita de forma mais rápida, segura e precisa.

Por BBC
08/09/2017 06h47  Atualizado há 1 hora

Cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, desenvolveram uma caneta que pode identificar células cancerígenas em dez segundos. Segundo eles, o dispositivo portátil permitiria que a cirurgia para a retirada seja feita de forma mais rápida, segura e precisa.

Os cientistas esperam que a tecnologia seja mais uma ferramenta à disposição dos médicos para evitar a reincidência do câncer.

O estudo foi publicado na revista científica Science Translational Medicine. Testes indicam que a caneta oferece um resultado preciso em 96% das vezes. O MasSpec Pen se aproveita do metabolismo singular das células cancerígenas. A química interna dessas células, que crescem e se espalham muito rápido, é muito diferente da de um tecido saudável.

Como funciona
A caneta toca em um tecido cancerígeno e libera uma minúscula gotícula de água. As substâncias químicas presentes nas células vivas se movem, então, para a gotícula, que é sugada de novo pelo objeto para análise. Em seguida, a caneta é conectada a um espectrômetro de massa - um equipamento que pode medir a massa de milhares de substâncias químicas a cada segundo. O resultado é uma espécie de "impressão digital química", a partir da qual os médicos podem concluir se se trata de um tecido saudável ou de um tumor.

Esse é maior desafio dos cirurgiões: descobrir a fronteira entre um câncer e um tecido normal. Isso porque, apesar de em muitos casos ser fácil detectar um tumor, em outros, o limiar entre o tecido doente e o saudável não é tão visível. Retirar apenas uma parte do tecido pode fazer com que as células cancerosas remanescentes deem origem a um novo tumor. Mas remover muito tecido pode causar graves danos, especialmente em órgãos como o cérebro.

Em entrevista à BBC, Livia Eberlin, professora-assistente de química na Universidade do Texas, em Austin, disse: "O que é emocionante sobre essa tecnologia é o quão claro ela atende a uma necessidade clínica".
"A ferramenta é, ao mesmo tempo, sofisticada e simples. E vai poder ser usada pelos cirurgiões em breve", acrescentou.

Testes
A tecnologia foi testada em 253 amostras como parte do estudo. O plano é continuar os testes para aprimorar o dispositivo antes de usá-lo durante cirurgias no ano que vem. 

Atualmente, o objeto é capaz de analisar um pedaço de tecido de 1,5 mm de diâmetro. Mas os pesquisadores já desenvolveram canetas muito mais aprimoradas e que podem examinar um pedaço de tecido tão pequeno quanto 0,6 mm de diâmetro.

Enquanto a caneta por si só é barata, o espectrômetro de massa é caro e volumoso.

"O obstáculo é o espectrômetro de massa, com certeza", disse Eberlin. "Estamos desenvolvendo um espectrômetro de massa um pouco menor, mais barato e adaptado para este fim, que possa ser transportado dentro e fora dos quartos com relativa facilidade", completou.

Segundo James Suliburk, um dos pesquisadores e chefe de cirurgia endócrina no Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, "sempre estamos em busca de formas de oferecer ao paciente uma cirurgia mais precisa, mais rápida ou mais segura". "Essa tecnologia combina todos esses fatores", afirmou.

O MasSpec Pen faz parte de uma série de dispositivos com o objetivo de melhorar a precisão cirúrgica.
Uma equipe do Imperial College de Londres desenvolveu uma faca que "cheira" o tecido que corta para determinar se está removendo o câncer.

Já uma equipe da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, está usando lasers para analisar quanto de um câncer cerebral pode ser removido.

Para Aine McCarthy, da Cancer Research UK (órgão britânico de pesquisa contra o câncer), "pesquisas emocionantes podem fazer com que os médicos descubram se um tumor é cancerígeno ou não mais rapidamente, além de conhecer suas características". "Com base nessa análise, eles podem decidir sobre o melhor tipo de tratamento".