BBC Brasil - Daniela Fernandes
Da BBC, em Paris
Da BBC, em Paris
- Eric Gaillard/Reuters
Descoberta de novos
riscos envolvendo implantes nos seios ocorre cinco anos após o escândalo das
próteses da marca francesa PIP
Um estudo realizado pelo Instituto do
Câncer da França, divulgado nesta terça-feira (17), revela que implantes nos
seios podem causar um tipo raro de tumor no sistema linfático. Em razão das
conclusões dos especialistas, o governo francês estuda atualmente a proibição
de próteses mamárias no país.
Os pesquisadores do Instituto
Nacional do Câncer (INC) da França revelaram a existência de uma nova doença, o
"linfoma anaplásico de grandes células associado a um implante mamário
(LAGC-AIM)" e propõe que esse tipo de câncer seja incluído na
classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Existe uma relação claramente
estabelecida entre o surgimento dessa doença e o uso de um implante
mamário", diz o relatório do instituto francês. "Esse tipo de câncer
não foi diagnosticado em nenhuma mulher sem próteses nos seios."
Os oncologistas franceses estimam que
o risco desse linfoma nas mulheres com implantes mamários é 200 vezes maior do
que na população feminina em geral.
Eles ressaltam, no entanto, que a
frequência dessa complicação médica é muito baixa. Desde 2011, apenas 18
mulheres desenvolveram esse tipo de câncer na França (uma delas já morreu),
segundo o INC.
Vigilância
O estudo foi realizado a pedido das
autoridades francesas da área de saúde após o rápido aumento de casos desse
tipo de câncer em um período relativamente curto.
Apesar do número de pessoas afetadas
ainda ser bem limitado, o que preocupa as autoridades é a velocidade da
progressão: o total de novos casos passou de dois em 2012 para 11 no ano
passado.
A ministra da Saúde, Marisol
Touraine, declarou nesta terça-feira que as mulheres com implantes nos seios
"não precisam retirá-los" e nem devem ficar "excessivamente
preocupadas". "Nossa vigilância é total", disse a ministra,
acrescentando que nenhuma marca de prótese mamária está sendo visada
especificamente em relação à descoberta desse novo tumor.
Touraine também afirmou que as
informações às mulheres que desejam colocar implantes nos seios será reforçada.
Alerta obrigatório
A Agência Nacional de Segurança do
Medicamento (ANSM) da França já anunciou que as mulheres que desejam colocar
próteses nos seios deverão ser "obrigatoriamente alertadas sobre esse novo
risco, apesar de ele ser baixo", afirmou, em entrevista ao jornal Le
Parisien, François Hébert, diretor-geral adjunto da agência.
Segundo ele, documentos informativos
e alertas sobre a questão já foram enviados aos médicos do país. "Se for
necessário proibir os implantes, nós o faremos", disse o diretor da ANSM.
A agência francesa realizará uma
reunião com especialistas até o final deste mês para decidir sobre o assunto. A
eventual proibição das próteses dependerá das conclusões dos pesquisadores.
"Os sinais são convincentes. Os
casos aumentam. Estamos trocando informações com a FDA (Food and Drugs
Administration) americana", afirma o professor Benoît Vallet,
diretor-geral da Saúde, que determina as políticas públicas francesas na área.
"Os profissionais da saúde devem ficar muito mais vigilantes diante desse
risco. As mulheres que usam próteses devem ser examinadas por um médico todos
os anos."
Escândalo
A descoberta de novos riscos
envolvendo próteses mamárias ocorre apenas cinco anos após o escândalo das
próteses da marca francesa PIP, que chocou o país. Elas eram fabricadas com um
gel de silicone não autorizado para fins médicos e que continha aditivos de
combustível não testados para uso clínico.
A PIP era o terceiro maior fabricante
mundial de próteses mamárias e exportava para inúmeros países, incluindo o
Brasil.
Segundo a ANSM, cerca de 400 mil
mulheres na França têm próteses nos seios, sendo 80% delas por motivos
estéticos.