Médicos recriam, em animais, os tumores dos pacientes. O modelo é usado
para testar os remédios mais eficazes para cada caso
20/04/18 - 18h00
Uma
experiência pioneira no Brasil está sendo conduzida no Hospital A C Camargo
Cancer Center, em São Paulo. Lá, pacientes começam a ter adicionado ao
tratamento um recurso que vem sendo chamado de “avatar do câncer”. Uma amostra
do tumor de cada um é reproduzida e cresce implantada em um camundongo, sob a
pele ou no órgão correspondente do animal, funcionando como um espelho da
doença. Em casos difíceis, a estratégia é valiosa. Por meio dela, os médicos
podem experimentar contra aquele tumor específico remédios que podem ser mais
eficazes e observar seu comportamento, inclusive agressividade, mas de forma
que o corpo do paciente fique preservado de eventuais prejuízos que as
tentativas possam trazer.
A
aplicação clínica no A C Camargo começou há cerca de um ano e meio, em
pacientes com tumores tradicionalmente mais agressivos, como melanoma (tipo de
câncer de pele) e algumas variedades de tumor de rim. “O trabalho é inicial,
mas os resultados são muito interessantes”, afirma a médica Vilma Regina
Martins, superintendente de pesquisas da instituição, referência no combate à
enfermidade no País.
“Os
resultados obtidos até agora são muito interessantes” Vilma
Martins, médica do AC Camargo Cancer Center
O
que anima os médicos são especialmente as respostas que podem ser observadas em
relação aos medicamentos. No avatar são testadas medicações novas, em geral com
tempo de uso mundial insuficiente para conclusões definitivas sobre sua
eficácia de maneira generalizada. Além disso, em muitos casos esses remédios
funcionam muito bem para um paciente, mas não dão resultado, ou pelo menos não
tão bons, para outro, apesar de o tipo de tumor ser o mesmo. “Os mini-tumores
fazem parte da oncologia de precisão. Quanto mais personalizado o tratamento,
melhor”, explica Luiz Henrique Araújo, pesquisador do Instituto Nacional do
Câncer, no Rio de Janeiro. Em trabalho recente, o médico George Vlachoginannis,
do Instituto de Pesquisa do Câncer, de Londres, atestou a eficácia do recurso.
“Os modelos em animais funcionam como o tumor do humano. Por isso, são muito
eficientes para que possamos estimar as reações dos pacientes”, disse à ISTOÉ.
C.P.
Espelho
perfeito
Como são feitas as amostras
Como são feitas as amostras
• São extraídas células do tumor do paciente
• São injetadas em camundongos, de preferência no órgão
correspondente ao atingido no paciente
• Após um período variável, o animal desenvolve tecido tumoral
bastante semelhante ao registrado no doente