terça-feira, 22 de setembro de 2015

'Science': A aposta nas células-tronco tumorais


Pesquisadores esperam que testes clínicos provem teoria controversa e ofereça novos tratamentos

A Science, renomada revista científica, publicou recentemente um artigo de Jocelyn Kaiser sobre um estudo que vem sendo feito no combate ao câncer. Robert Weinberg é um dos pesquisadores de câncer mais conhecidos do mundo, graças em grande parte a seu trabalho pioneiro na identificação de genes que baseiam o desenvolvimento de tumores. 
Ele já viu a esperança para tratamentos de câncer ir e vir. 

“Estou nesse ramo, para o bem ou para o mal, há 40 anos. Muitas das coisas nas quais trabalhamos se mostraram relativamente inúteis na clínica.” Mas, aos 72 anos, ele está otimista de novo. “Essa é realmente a primeira vez onde eu estou posicionado para ajudar a efetuar o desenvolvimento de um agente ou de agentes que realmente vão beneficiar pacientes de câncer,” diz ele.

O pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts está agora arriscando parte de sua considerável reputação, e quase US$ 200 milhões que investidores deram a uma empresa da qual ele é um co-fundador, em uma ousada teoria que dividiu o campo do câncer. Weinberg e outros argumentam que tumores contém um pequeno número de células que são distintas porque elas parecem com as células-tronco que dão origem a tecidos normais. Eles acreditam que essas sementes do câncer, capazes de resistir à quimioterapia e voltar meses ou anos depois do  tratamento, podem explicar os trágicos recaídas que as pessoas costumam experimentar. Acredita-se que ao mirar especificamente nessas células tronco tumorais, será possível manter a doença sob controle.

A Verastem Inc., empresa de Weinberg em Needham, Massachusetts, é uma das várias que estão lançando uma nova rodada de testes clínicos para descobrir se a teoria realmente funciona. Além da promessa de mudar o tratamento de câncer, tos riscos financeiros são enormes. A OncoMed Pharmaceuticals Inc., outra líder nessa área, poderia ganhar US$ 5 milhões em financiamento adicional de grandes empresas farmacêuticas se seus testes obtiverem sucesso.

Mas como Weinberg e outros no campo reconhecem, pode ser difícil traçar conclusões definitivas dessas experiências. Diferente da quimioterapia tradicional, não se espera que as drogas que estão passando por testes diminuam rapidamente os tumores, porque elas são desenvolvidas para matar só os minúsculos subgrupos de células que semeiam e reabastecem o principal tumor. Logo, detectar se as drogas estão funcionando na maneira que se pretende não é simples. Realmente, para tumores sólidos, os pesquisadores carecem de análises simples, rigorosas para medir o número de células-tronco tumorais. De acordo com o modelo de célula-tronco tumoral, a quimioterapia mata o grosso das células cancerígenas mas raras células-tronco tumorais permanecem intactas. Essas células em seguida semeiam um novo crescimento do tumor. Matar as células-tronco poderia levar à regressão do tumor com o tempo, mas combinar uma droga que detenha as células-tronco tumorais com a quimioterapia poderia ser ainda mais rápido.

Os estudos também enfrentam um forte ceticismo: muitos ainda não acreditam que as células tumorais existam como um tipo de célula diferente de outras células tumorais, e alguns sugerem que as empresas estão alardeando ou pelo menos simplificando demais a premissa. Uma vitória na clínica poderia solucionar parte da controvérsia. “Eu acho que o ônus está sobre todos nós na comunidade que estamos desenvolvendo terapias de células-tronco tumorais para mostrar sem dúvida que essas terapias realmente funcionam,” diz Max Wicha da Universidade de Michigan, Ann Arbor.


Por enquanto, pacientes com câncer, pesquisadores e investidores em empresas como a Verastem vão esperar ansiosamente pelos dados para começar os exames clínicos. Para quem se interessa em tratamentos, os resultados poderão trazer esperança. Porém, para pesquisadores que debatem a realidade das células cancerígenas, elas podem não trazer uma resolução. Jeremy Rich da Cleveland Clinic em Ohio, que está estudando células-tronco no câncer de cérebro, afirma: “Até mesmo se obtivermos um grande sucesso, o que não acredito que vai acontecer, não acho que haverá uma resposta em preto e branco”. 

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