Por: Jennifer Ouellette
19 de abril de 2016 às 10:58
19 de abril de 2016 às 10:58
As células do câncer têm uma maneira
aterrorizante e engenhosa de passar até mesmo através dos menores vasos
sanguíneos e se espalhar por todo o corpo humano, de acordo com um novo estudo
realizado por
pesquisadores do Massachusetts General Hospital (MGH). Descobrir
como impedi-las de fazer isso pode ajudar a conter esta doença mortal.
O câncer se espalha por todo o corpo – em um processo conhecido como
metástase – quando determinadas células se rompem do tumor primário e entram na
corrente sanguínea. A metástase está associada à maior parte (90%) das
mortes relacionadas ao câncer.
Cientistas achavam que os aglomerados dessas células eram grandes demais
para passar através de vasos capilares ultrafinos. Os pesquisadores do MGH
descobriram que este não é o caso.
Esta é a parte aterrorizante: os
aglomerados podem se reorganizar no formato de um
fio, como esferas encadeadas, quando se deparam com um gargalo. Depois de
passarem por vasos finos, as células simplesmente retomam o formato de
aglomerado. A equipe publicou as descobertas no Proceedings of the National
Academy of Sciences.
“Esta informação muda a narrativa
padrão de como a metástase [começa], e nos permite desenvolver formas melhores
de combatê-la”, diz o autor Sam Au em um
comunicado.
De acordo com Au, este comportamento estranho parece estar ligado à
interação entre as células de câncer no aglomerado. Células interagem umas com
as outras o tempo todo; neste caso, as ligações são tão fortes que o aglomerado
pode facilmente se reconfigurar, sem danificar as células individuais ou
impedi-las de se proliferar no futuro.
Separando os aglomerados
Os cientistas já suspeitavam que os aglomerados de “células
tumorais circulantes” (CTCs) têm papel fundamental na propagação do
câncer. Por exemplo, estudos anteriores mostraram a presença de aglomerados bem
grandes nas veias dos braços de pacientes falecidos, longe do local do tumor
original.
Isso significa que os aglomerados devem ter passado até mesmo pelos
menores vasos sanguíneos, conhecidos como capilares. Mas os cientistas não
tinham ideia de como os aglomerados – muito maiores do que esses vasos –
conseguiam esse feito.
O motivo: essas células são muito raras, e é extremamente difícil
separá-las dos bilhões de outras células flutuando na corrente sanguínea.
É o velho problema da agulha no palheiro, dificultando estudá-las de perto.
Para separar os aglomerados, a equipe do MGH contou com avanços recentes
na microfluídica, área da ciência que lida com o comportamento de fluidos em
canais microscópicos. Ela permite criar “laboratórios em um chip” que podem
processar rapidamente grandes volumes de sangue.
Com estes chips microfluídicos, é possível identificar aglomerados de
câncer através de um processo chamado de “esgotamento negativo”. Você remove
sucessivamente 999 bilhões de células, depois 999 milhões de células, depois
999 mil células, e assim por diante, até chegar ao um punhado de células
tumorais.
Estudo
No ano passado, o coautor Mehmet
Toner usou um chip desses para determinar que os aglomerados eram mais
comuns na corrente sanguínea do que se acreditava
anteriormente.
Para o estudo mais recente, a equipe usou duas abordagens. Primeiro, eles
gravaram canais no chip que se afunilam em pontos-chave, formando gargalos mais
ou menos com a mesma largura de vasos capilares. Em seguida, eles filmaram o
movimento dos aglomerados de CTC dentro desses canais:
Em segundo lugar, a equipe do hospital injetou aglomerados de células
humanas de câncer nos vasos sanguíneos de peixes-zebra embrionários. Eles foram
escolhidos porque seus vasos transparentes facilitam a obtenção de imagens, e
também porque têm vasos aproximadamente do mesmo tamanho de capilares humanos.
Em ambos os casos, os aglomerados simplesmente se desdobraram em uma
cadeia longa para passar através do gargalo, e depois se reorganizaram em um
aglomerado de novo. Isto acontecia mesmo com grandes grupos com mais de 20
CTCs.
A boa notícia: isto fornece uma pista para possivelmente limitar a sua
propagação. “Se nós pudermos mudar essa força entre as células, seja quebrando
aglomerados ou impedindo-os de se desdobrar, poderíamos controlar a sua
capacidade de passar por vasos estreitos”, diz Au.