Surgem no País as primeiras iniciativas de radioterapia ultra
hipofracionada contra tumor na próstata, que reduz o número de sessões em
87,50%
Por Estadão Conteúdo
access_time19 jul 2018, 19h14 - Publicado em 19
jul 2018, 19h10
São Paulo – Uma nova técnica tem
permitido reduzir o número de sessões de radioterapia contra o câncer de próstata. Para a doença, geralmente são
previstas 40 sessões. Com o tratamento chamado de hipofracionamento moderado,
chegou-se a 20. Agora, surgem no País as primeiras iniciativas de radioterapia
ultra hipofracionada contra esse tipo de tumor, que reduz o número de sessões
para cinco.
Nesse
formato, são aplicadas altas doses de radiação sobre o tumor, o que permite
menos aplicações. A abordagem, também conhecida como hipofracionamento extremo
ou SBRT, já é adotada contra alguns tipos de câncer, como o de pulmão. Mas é
nova quando se trata do de próstata – segundo mais prevalente entre os homens.
Estima-se que, neste ano, serão 68.220 novos casos da doença.
A opção começou a ser oferecida
nos últimos meses no Hospital Sírio-Libanês e
no Mãe de Deus, em Porto Alegre. Já no A. C. Camargo Cancer Center, os dois
primeiros casos de SBRT foram feitos este mês. “Os benefícios são menor tempo
de tratamento, menos transtorno (do paciente) com deslocamento e, muito
provavelmente, melhora do índice de controle bioquímico da doença”, afirma
Antônio Cássio Pelizzon, líder da equipe de radioterapia do A. C. Camargo.
O Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, também se prepara para aderir ao
hipofracionamento extremo para o câncer de próstata, após a instalação de um
equipamento inédito no País, o acelerador linear Halcyon. Além de permitir
menos sessões, torna cada sessão mais rápida – cai de 25 minutos para oito. “Em
vez de tratar quatro pacientes por hora, posso tratar seis. Isso amplia o
acesso, agrega valor e reduz o custo da inovação”, diz Rodrigo Hanriot,
coordenador de radioterapia do hospital.
Por
enquanto, o hipofracionamento extremo é indicado para tumores restritos à
próstata, de risco baixo ou intermediário. Pacientes com problemas crônicos no
trato urinário não são bons candidatos – estudos mostram que, especialmente
nesse grupo, pode haver efeitos colaterais (como ardor e aumento da frequência
urinária), diz Andrea Barleze da Costa, gestora de Radioterapia do Mãe de Deus.
O
hipofracionamento moderado ganhou força após dez estudos clínicos de fase 3
(alto nível de evidência), conduzidos em grandes centros de pesquisa,
demonstrarem que a técnica é tão eficaz quanto a convencional. Para Arthur
Accioly Rosa, da Sociedade Brasileira de Radioterapia, o modelo é uma mudança
de paradigma.
Eficiente,
a técnica se tornou tendência em vários países. Mas, como diz Elton Leite, do
Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), a popularização no País envolve
questões ligadas a equipamentos e modelos de remuneração. Para aplicar altas
doses de radiação com segurança, é preciso tecnologia que permita monitorar a
localização precisa do tumor.
Uma opção
é o IGRT ( radioterapia guiada por imagem), pouco disponível no Brasil e sem
ressarcimento pelo SUS e pelas operadoras. Outra é o Calypso, recém-instalado
pelo Sírio, que trabalha com emissão de sinais – dispositivos implantados na
próstata avisam (25 vezes por segundo) se está no alvo e, diante de um desvio,
a radiação é interrompida.
De modo
geral, a radioterapia no País é paga conforme o total de sessões – se há menos,
o valor cai. “É um verdadeiro paradoxo”, diz João Luís Fernandes da Silva, do
Departamento de Radioterapia do Sírio. Por isso, hospitais têm negociado
pacotes com operadoras para todo o tratamento.
Jornada
Quando
José Nei Garcez, de 80 anos, descobriu que tinha câncer de próstata, em março
de 2017, iniciou uma jornada em busca de tratamento. Morador de Dom Pedrito
(RS), na fronteira com o Uruguai, passou por médicos de outras duas cidades
antes de ser indicado para o hipofracionamento extremo no Hospital Mãe de Deus.
Após uma
semana, voltou para casa. “Se fossem muitos dias, era capaz de adoecer mais.
Estava com saudade de casa, dos filhos”, diz. “O tratamento em menos tempo foi
grande vantagem para o aspecto emocional”, conta a filha Clarisse, de 41 anos.
Ele, que faz tratamento hormonal a cada três meses, diz não sentir efeito
colateral. “Hoje me sinto ótimo. Foi um sucesso.”
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