quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Mães de crianças com câncer do RJ contam como buscam força para manter os filhos firmes no tratamento


Mulheres de vários pontos do estado contam como dão apoio emocional aos filhos. Psicanalista ressalta que mães também precisam de espaço para expressar as próprias angústias.

Por Cristina Boeckel, G1 Rio
12/05/2018 06h00  Atualizado há menos de 1 minuto


Mães de crianças com câncer do RJ esbanjam força durante tratamento dos filhos

No dia 12 de julho do ano passado, a dona de casa Ariadna Costa, de 28 anos, levou o maior susto da vida: a filha caçula, Millena, de 6 anos, estava com leucemia. Para ela e outras mães, este domingo (13) é mais do que especial: é a data que lembra como é importante ser forte para ajudar os filhos a vencer um câncer.

G1 conversou com três mulheres que contaram sobre a importância do apoio para quem enfrenta uma doença grave já no começo da vida e mudaram completamente a rotina em busca da cura em outra cidade.

Moradora de Angra dos Reis, Ariadna foi obrigada a deixar as duas filhas mais velhas com parentes e veio para o Rio de Janeiro, para Millena ser tratada no Hospital do Fundão, na Ilha do Governador.

“Nós chegamos aqui no dia 11 de julho; no dia 12 eu tive o diagnóstico do que ela tinha, e no dia 13 ela começou a fazer a quimioterapia. Aí o médico falou para mim: ‘A sua filha está com leucemia e precisa fazer o tratamento’, e me explicou as coisas que ela ia ter que fazer. Porém no começo eu não entendi nada porque eu fiquei muito nervosa. Nunca imaginei que fosse um dia passar por isso, e estou aqui com ela”, contou.

Para Cristiane Ferreira, moradora de Queimados e mãe de Tamires, de 19 anos, já são 4 anos lutando contra um câncer no cérebro. O caminho do diagnóstico passou por diversas unidades de saúde até ter o tumor detectado por uma tomografia e uma ressonância. A adolescente passou por uma cirurgia no Instituto do Cérebro.

“Treze dias depois levei para tirar os pontos. O médico me chamou para conversar no dia seguinte. Voltei no outro dia e ele falou: ‘De hoje em diante vai se tratar no Inca’. Eu perguntei: ‘Por que no Inca?’ E ele falou porque ela tinha um câncer”, explicou Cristiane, emocionada.

Lucely Rodrigues deixou o trabalho em Campos dos Goytacazes, no norte do estado, para acompanhar o tratamento do filho, Pedrinho, de 4 anos. Ele trata uma leucemia no Instituto Nacional do Câncer. Para ela, o susto foi duplo: a filha mais velha, de 9 anos, já tinha sofrido com um câncer na perna dois anos antes.

“Foi muito difícil para mim porque a minha família tem vários casos assim. Inclusive em 2016 eu tive aqui com a minha filha, a dela foi um tumor na perna, e foi muito difícil. Eu perdi o meu pai, minha avó, a minha mãe com essa doença. Foi aquele choque”, ressaltou Lucely, destacando que mesmo com a intercorrência na família não esperava que o caçula ficasse doente.

Ariadna, Cristiane e Lucely vieram de outros municípios do Estado do Rio de Janeiro e estão abrigadas com os filhos durante o tratamento na Casa Ronald McDonald, na Tijuca, na Zona Norte, que recebe crianças com câncer que precisam de atendimento nas unidades de referência da capital.

Força para seguir
De acordo com Ana Sabrosa, diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise no Rio de Janeiro, as crianças veem no olhar não somente da mãe, mas também de todos os familiares, a possibilidade de recuperação. Apesar da ideia de que as mães devem ser fortes no sofrimento, elas devem ter espaço para expressar as suas angústias.

“A criança vê nos olhos da mãe espelhada uma ideia de esperança, da possibilidade de cura. O olhar dos familiares mostra a chance que ela vai ter de lutar, de brincar. Independentemente de um sofrimento, tem algo nesse vínculo que vai precisar ser regado com muita tranquilidade e com a busca até de um especialista se for preciso", explicou a psicanalista.

A religião tem papel fundamental na vida de Lucely para se manter firme. “Eu peço muito força a Deus. Eu sou uma pessoa evangélica e peço força porque só Ele para me ajudar. Família, eu quase não tenho”.

Mesmo com pouca idade, a filha de Ariadna é a responsável por ajudá-la a manter o ânimo: “Ela sempre me passou mais força do que eu para ela”.

Millena conta o que diz quando percebe a mãe esmorecer.

“Eu falo que o meu tratamento vai acabar, minha quimioterapia, meus exames e vou embora”, ressaltou Millena, que sente saudades da família que ficou em Angra dos Reis.

Com o lema “não tem tempo ruim”, ela cortou os cabelos para apoiar a filha.
“Eu sempre gostei de cabelo curto, mas agora, outra vez, eu estou passando força para a minha filha. O cabelinho dela caiu todo de novo, então é tudo de novo”, contou Cristiane, que não deixou a vaidade de lado e pintou os fios curtos de vermelho.
·         RIO DE JANEIRO


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