Mulheres de vários pontos do estado contam como dão apoio emocional aos
filhos. Psicanalista ressalta que mães também precisam de espaço para expressar
as próprias angústias.
Por Cristina
Boeckel, G1 Rio
12/05/2018 06h00 Atualizado há menos de 1 minuto
Mães de crianças com câncer do RJ
esbanjam força durante tratamento dos filhos
No dia 12 de
julho do ano passado, a dona de casa Ariadna Costa, de 28 anos, levou o maior
susto da vida: a filha caçula, Millena, de 6 anos, estava com leucemia. Para
ela e outras mães, este domingo (13) é mais do que especial: é a data que
lembra como é importante ser forte para ajudar os filhos a vencer um câncer.
O G1 conversou com três mulheres que contaram sobre
a importância do apoio para quem enfrenta uma doença grave já no começo da vida
e mudaram completamente a rotina em busca da cura em outra cidade.
Moradora de
Angra dos Reis, Ariadna foi obrigada a deixar as duas filhas mais velhas com
parentes e veio para o Rio de Janeiro, para Millena ser tratada no Hospital do
Fundão, na Ilha do Governador.
“Nós chegamos
aqui no dia 11 de julho; no dia 12 eu tive o diagnóstico do que ela tinha, e no
dia 13 ela começou a fazer a quimioterapia. Aí o médico falou para mim: ‘A sua
filha está com leucemia e precisa fazer o tratamento’, e me explicou as coisas
que ela ia ter que fazer. Porém no começo eu não entendi nada porque eu fiquei
muito nervosa. Nunca imaginei que fosse um dia passar por isso, e estou aqui
com ela”, contou.
Para Cristiane
Ferreira, moradora de Queimados e mãe de Tamires, de 19 anos, já são 4 anos
lutando contra um câncer no cérebro. O caminho do diagnóstico passou por
diversas unidades de saúde até ter o tumor detectado por uma tomografia e uma
ressonância. A adolescente passou por uma cirurgia no Instituto do Cérebro.
“Treze dias
depois levei para tirar os pontos. O médico me chamou para conversar no dia
seguinte. Voltei no outro dia e ele falou: ‘De hoje em diante vai se tratar no
Inca’. Eu perguntei: ‘Por que no Inca?’ E ele falou porque ela tinha um
câncer”, explicou Cristiane, emocionada.
Lucely
Rodrigues deixou o trabalho em Campos dos Goytacazes, no norte do estado, para
acompanhar o tratamento do filho, Pedrinho, de 4 anos. Ele trata uma leucemia
no Instituto Nacional do Câncer. Para ela, o susto foi duplo: a filha mais
velha, de 9 anos, já tinha sofrido com um câncer na perna dois anos antes.
“Foi muito
difícil para mim porque a minha família tem vários casos assim. Inclusive em
2016 eu tive aqui com a minha filha, a dela foi um tumor na perna, e foi muito
difícil. Eu perdi o meu pai, minha avó, a minha mãe com essa doença. Foi aquele
choque”, ressaltou Lucely, destacando que mesmo com a intercorrência na família
não esperava que o caçula ficasse doente.
Ariadna,
Cristiane e Lucely vieram de outros municípios do Estado do Rio de Janeiro e
estão abrigadas com os filhos durante o tratamento na Casa Ronald McDonald, na
Tijuca, na Zona Norte, que recebe crianças com câncer que precisam de
atendimento nas unidades de referência da capital.
Força para seguir
De acordo com
Ana Sabrosa, diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise no Rio
de Janeiro, as crianças veem no olhar não somente da mãe, mas também de todos os
familiares, a possibilidade de recuperação. Apesar da ideia de que as mães
devem ser fortes no sofrimento, elas devem ter espaço para expressar as suas
angústias.
“A criança vê
nos olhos da mãe espelhada uma ideia de esperança, da possibilidade de cura. O
olhar dos familiares mostra a chance que ela vai ter de lutar, de brincar.
Independentemente de um sofrimento, tem algo nesse vínculo que vai precisar ser
regado com muita tranquilidade e com a busca até de um especialista se for
preciso", explicou a psicanalista.
A religião tem
papel fundamental na vida de Lucely para se manter firme. “Eu peço muito força
a Deus. Eu sou uma pessoa evangélica e peço força porque só Ele para me ajudar.
Família, eu quase não tenho”.
Mesmo com pouca
idade, a filha de Ariadna é a responsável por ajudá-la a manter o ânimo: “Ela
sempre me passou mais força do que eu para ela”.
Millena conta o
que diz quando percebe a mãe esmorecer.
“Eu falo que o
meu tratamento vai acabar, minha quimioterapia, meus exames e vou embora”, ressaltou
Millena, que sente saudades da família que ficou em Angra dos Reis.
Com o lema “não
tem tempo ruim”, ela cortou os cabelos para apoiar a filha.
“Eu sempre
gostei de cabelo curto, mas agora, outra vez, eu estou passando força para a
minha filha. O cabelinho dela caiu todo de novo, então é tudo de novo”, contou
Cristiane, que não deixou a vaidade de lado e pintou os fios curtos de
vermelho.
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