James Gallagher - @JamesTGallagherRepórter
de ciência e saúde
tratamento de diversos tipos de câncer
Uma
recente descoberta sobre o nosso sistema imunológico pode se tornar uma arma
para tratar todos os tipos de câncer.
Uma
equipe de cientistas da Universidade de Cardiff, no País de Gales, desenvolveu
um método em laboratório que destrói o câncer de próstata, mama, pulmão e
outros tipos.
Os
achados, divulgados na publicação científica Nature Immunology, ainda não foram
testados em pacientes, mas têm um "enorme potencial", afirmam os
pesquisadores.
Para
especialistas que não participaram da pesquisa, ainda que o trabalho esteja num
estágio inicial, ele é bastante promissor.
O que eles descobriram?
Nosso
sistema imunológico é a defesa natural do corpo contra infecções, mas ele
também ataca células cancerosas.
A equipe da Universidade de Cardiff
estava em busca de maneiras novas e "não convencionais" de fazer com
que o sistema imunológico atacasse naturalmente tumores.
Eles encontraram uma célula-T (ou
linfócito T) com um novo tipo de "receptor" que identifica e ataca
células cancerosas, ignorando as saudáveis.
A diferença nesta célula imunológica
é que ela pode escanear o corpo em busca de ameaças que devem ser eliminadas e
atacar uma ampla variedade de cânceres.
"Há uma possibilidade de que ele
possa tratar todos os pacientes", afirmou o professor Andrew Sewell à BBC.
"Antes ninguém acreditava que isso fosse possível."
Como ela funciona?
As células T têm
"receptores" na superfície que permitem a elas "enxergar"
em um nível químico.
Os pesquisadores da Universidade de
Cardiff descobriram que a célula T e seu receptor podem encontrar e destruir
uma gama de células cancerosas no pulmão, na pele, no sangue, no cólon, na mama,
nos ossos, na próstata, no ovário, no rim e na coluna cervical.
E fazem isso deixando intocados os
tecidos "normais".
ancerosas
O modo exato como que isso acontece
ainda está sendo pesquisado.
Esse receptor da célula T em
particular interage com uma molécula chamada MR1, presente na superfície de
todas as células do corpo humano.
Acredita-se que a MR1 seja a
responsável por sinalizar ao sistema imunológico o metabolismo disfuncional em
curso dentro de uma célula cancerosa.
"Somos os primeiros a descrever
a célula T que encontra o MR1 nas células cancerosas — isso não tinha sido
feito antes, foi a primeira vez", disse à BBC o pesquisador Garry Dolton.
Por que essa
descoberta é relevante?
Terapias com células T já existem e o
desenvolvimento de imunoterapias contra o câncer tem sido um dos avanços mais
empolgantes nesse campo.
O mais famoso exemplo é o chamado
CAR-T, uma droga viva produzida por meio de engenharia genética em células T
para procurarem e destruírem o câncer.
O CAR-T pode trazer resultados
incríveis que levam alguns pacientes do estágio de doença terminal para a
completa remissão.
Essa abordagem é, no entanto,
extremamente específica e funciona com apenas um número limitado de cânceres
onde há um alvo claro para treinar a "mira" das células T.
E também enfrenta dificuldades em
combater "cânceres sólidos" — aqueles que formam tumores em vez de
sangue canceroso como a leucemia.
Já os pesquisadores da Universidade
de Cardiff afirmam que o receptor da célula T pode levar a um tratamento de
câncer "universal".
Mas como isso
funciona na prática?
A ideia é extrair uma amostra de
sangue do paciente em tratamento contra o câncer.
As células T seriam extraídas e
modificadas geneticamente a fim de reprogramá-las para constituir o receptor
que encontra o câncer.
Essas células aperfeiçoadas seriam
cultivadas em largas quantidades em laboratório e depois reinseridas no
paciente. É o mesmo processo usado na terapia CAR-T.
No entanto, essa pesquisa da Universidade
de Cardiff foi testada apenas em animais e células em laboratório, e testes em
humanos demandam mais etapas de segurança.
O que dizem outros
especialistas?
Lucia Mori e Gennaro De Libero, da
Universidade de Basileia, na Suíça, afirmam que essa pesquisa tem um
"enorme potencial", mas ainda é cedo para afirmar que ela poderia
funcionar para todos os tipos de câncer.
enfermo
são reprogramados para reconhecerem as células cancerosas
"Estamos muito empolgados com as
funções imunológicas dessa nova população de células T e o uso potencial do
receptor na terapia de células tumorais", dizem.
Daniel Davis, professor de imunologia
da Universidade de Manchester, na Inglaterra, afirmou que "por ora, ainda
é uma pesquisa em estágio bastante inicial e nem perto de se tornar um
tratamento real para pacientes".
"Mas não há dúvidas de que é uma
descoberta bastante empolgante, tanto para o avanço do nosso conhecimento sobre
o sistema imunológico quanto para o desenvolvimento de novos tratamentos."