Conquistas mais recentes trazem medicamentos que agem diretamente na
célula doente ou estimulam o sistema imune a atacar o câncer
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- Brenda Marques, do R7
- 31/10/2020 - 02h00
Cada avanço no tratamento serve para
um tipo específico de câncer de mama
Freepik
O câncer de mama não é uma doença
única, existem diferentes tumores e, portanto, há tratamentos e avanços que
contemplam um tipo específico dentre eles. As conquistas mais recentes são no
âmbito da terapia-alvo, que age diretamente nas células cancerígenas sem afetar
as que estão saudáveis e da imunoterapia, que estimula o próprio sistema
imunológico a atacar o câncer.
Noam Ponde, oncologista clínico do
A.C.Camargo Cancer Center, afirma que no mês passado, durante o Congresso
Europeu, houve um grande avanço, com a apresentação de uma pesquisa que mostrou
a eficácia de um medicamento chamado abemaciclib para tratar pacientes com
tumores luminais -que têm receptores de estrógeno e progesterona - na fase
inicial, quando não há metástase.
Esse tipo de tumor corresponde a mais
de 70% dos cânceres de mama, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de
Câncer).
"Antes, eles eram usados só para
pacientes com câncer metastático [quando o tumor já se espalhou para outras
partes do corpo]. O estudo mostrou que quando esse remédio é usado por dois
anos junto com a terapia endócrina aumenta a chance de cura para mulheres com
alto risco de reaparecimento da doença", explica.
O especialista explica que esse
medicamento faz parte dos chamados inibidores de ciclina, um tipo de
terapia-alvo que impede a divisão e multiplicação das células cancerosas.
Ainda em 2019, foram obtidas
conquistas para tratar mulheres com câncer metastático do tipo HER2. Assim
chamado em referência à proteína que ele expressa, esse tumor representa 20%
dos cânceres de mama.
"Tivemos a aprovação de três
drogas nos Estados Unidos: neratinib, tucatinib e trastuzumab-deruxtecan. Os
três são terapia-alvo, mas de catecorias distintas", detalha Ponde.
O oncologista esclarece que o útimo
medicamento citado pertence à classe dos anticorpos monoclonais, que agem em um
receptor específico da célula cancerígena, "É como um míssil teleguiado e
joga dentro da célula a quimioterapia, então você consegue uma eficácia maior e
toxicidade menor", compara.
"Estudos mostraram que pacientes
que já haviam feito outros tratamentos e receberam essas drogas apresentaram
uma diminuição do tumor e, além disso, a doença ficou sob controle por um tempo
mais longo do que o esperado", destaca.
Também ano passado, o Brasil aprovou
a primeira
imunoterapia destinada para pacientes com câncer de mama no país,
feita com um medicamento injetável chamado atezolizumabe.
O mecanismo de ação da imunoterapia
consiste em "destravar" o sistema imune, que é bloqueado por alguns
tipos de câncer. Essa liberação permite que as células de defesa do organismo
reconheça e destrua o câncer, conforme descreve Ponde.
"O problema é que, com o
fortalecimento do sistema imunológico, outras partes do corpo acabam sendo
atacadas, como pulmão, pâncreas e glândula tireoide, então tem risco de
hipotireoidismo", explica.
Além disso, a abrangência da
imunoterapia para o câncer de mama é muito limitada: seu uso está aprovado por
órgãos reguladores só para pacientes que possuem câncer de mama triplo-negativo
(que não possuem receptores hormanais nem a proteína HER2), metastático e a
expressão de uma molécula chamada PDL-1, que impede o combate às células
cancerosas.
"Existem dados promissores
[sobre a eficácia para outros tipos de cânceres de mama], mas precisa de
aprovação do FDA [Food and Drug Administration, a agência reguladora
americana], que significa muita coisa no contexto de novos tratamentos",
frisa o oncologista.
'Brasil
está atrasado'
Questionado sobre o panorama
brasileiro para o tratamento dos tumores de mama, o especialista enfatiza o
atraso - na aprovação, comercialização, incorporação de novos medicamentos no
SUS (Sistema Único de Saúde) e obrigatoriedade de cobertura por convênios.
"Uma caixa de abemaciclib custa
R$ 18 mil por mês e os planos de saúde não são obrigados a pagar. Imagine a
angústia de você receber o diagnóstico, ter o tratamento disponível, mas não poder
pagar. Só consegue se processar o convênio, o que é absurdo", ressalta
"Nesse momento está havendo uma
consulta pública sobre a inclusão dos inibidores de ciclina no rol da ANS
(Agência Nacional de Saúde), o que tornaria a cobertura obrigatória", informa.
A inclusão no SUS está ainda mais
distante e, por enquanto, não passa de uma utopia. "Nesse momento nem se
pensa nisso. Esse ano o SUS integrou uma droga chamada pertuzumabe que as
pessoas já tomam há 9 anos para tratar o tumor do tipo HER2", exemplifica.
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