sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Saiba o que existe de mais avançado no tratamento do câncer de mama

 

Conquistas mais recentes trazem medicamentos que agem diretamente na célula doente ou estimulam o sistema imune a atacar o câncer

https://noticias.r7.com/saude/saiba-o-que-existe-de-mais-avancado-no-tratamento-do-cancer-de-mama-31102020

 


Cada avanço no tratamento serve para um tipo específico de câncer de mama

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O câncer de mama não é uma doença única, existem diferentes tumores e, portanto, há tratamentos e avanços que contemplam um tipo específico dentre eles. As conquistas mais recentes são no âmbito da terapia-alvo, que age diretamente nas células cancerígenas sem afetar as que estão saudáveis e da imunoterapia, que estimula o próprio sistema imunológico a atacar o câncer.

Noam Ponde, oncologista clínico do A.C.Camargo Cancer Center, afirma que no mês passado, durante o Congresso Europeu, houve um grande avanço, com a apresentação de uma pesquisa que mostrou a eficácia de um medicamento chamado abemaciclib para tratar pacientes com tumores luminais -que têm receptores de estrógeno e progesterona - na fase inicial, quando não há metástase.

Esse tipo de tumor corresponde a mais de 70% dos cânceres de mama, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer).

"Antes, eles eram usados só para pacientes com câncer metastático [quando o tumor já se espalhou para outras partes do corpo]. O estudo mostrou que quando esse remédio é usado por dois anos junto com a terapia endócrina aumenta a chance de cura para mulheres com alto risco de reaparecimento da doença", explica.

O especialista explica que esse medicamento faz parte dos chamados inibidores de ciclina, um tipo de terapia-alvo que impede a divisão e multiplicação das células cancerosas.

Ainda em 2019, foram obtidas conquistas para tratar mulheres com câncer metastático do tipo HER2. Assim chamado em referência à proteína que ele expressa, esse tumor representa 20% dos cânceres de mama.

"Tivemos a aprovação de três drogas nos Estados Unidos: neratinib, tucatinib e trastuzumab-deruxtecan. Os três são terapia-alvo, mas de catecorias distintas", detalha Ponde.

O oncologista esclarece que o útimo medicamento citado pertence à classe dos anticorpos monoclonais, que agem em um receptor específico da célula cancerígena, "É como um míssil teleguiado e joga dentro da célula a quimioterapia, então você consegue uma eficácia maior e toxicidade menor", compara.

"Estudos mostraram que pacientes que já haviam feito outros tratamentos e receberam essas drogas apresentaram uma diminuição do tumor e, além disso, a doença ficou sob controle por um tempo mais longo do que o esperado", destaca.

Também ano passado, o Brasil aprovou a primeira imunoterapia destinada para pacientes com câncer de mama no país, feita com um medicamento injetável chamado atezolizumabe.

O mecanismo de ação da imunoterapia consiste em "destravar" o sistema imune, que é bloqueado por alguns tipos de câncer. Essa liberação permite que as células de defesa do organismo reconheça e destrua o câncer, conforme descreve Ponde.

"O problema é que, com o fortalecimento do sistema imunológico, outras partes do corpo acabam sendo atacadas, como pulmão, pâncreas e glândula tireoide, então tem risco de hipotireoidismo", explica.

Além disso, a abrangência da imunoterapia para o câncer de mama é muito limitada: seu uso está aprovado por órgãos reguladores só para pacientes que possuem câncer de mama triplo-negativo (que não possuem receptores hormanais nem a proteína HER2), metastático e a expressão de uma molécula chamada PDL-1, que impede o combate às células cancerosas.

"Existem dados promissores [sobre a eficácia para outros tipos de cânceres de mama], mas precisa de aprovação do FDA [Food and Drug Administration, a agência reguladora americana], que significa muita coisa no contexto de novos tratamentos", frisa o oncologista.

'Brasil está atrasado'

Questionado sobre o panorama brasileiro para o tratamento dos tumores de mama, o especialista enfatiza o atraso - na aprovação, comercialização, incorporação de novos medicamentos no SUS (Sistema Único de Saúde) e obrigatoriedade de cobertura por convênios.

"Uma caixa de abemaciclib custa R$ 18 mil por mês e os planos de saúde não são obrigados a pagar. Imagine a angústia de você receber o diagnóstico, ter o tratamento disponível, mas não poder pagar. Só consegue se processar o convênio, o que é absurdo", ressalta

"Nesse momento está havendo uma consulta pública sobre a inclusão dos inibidores de ciclina no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde), o que tornaria a cobertura obrigatória", informa.

A inclusão no SUS está ainda mais distante e, por enquanto, não passa de uma utopia. "Nesse momento nem se pensa nisso. Esse ano o SUS integrou uma droga chamada pertuzumabe que as pessoas já tomam há 9 anos para tratar o tumor do tipo HER2", exemplifica.

 

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