quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Atividade Física e os Efeitos Colaterais de Tratamento do Câncer

Autores: Sandra Helena Correia Diettrich e Carlos Roberto de Rezende Miranda

Publicado: Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005.

RESUMO
O objetivo deste estudo foi identificar evidências científicas sobre a eficácia de programas de atividade física no combate aos efeitos colaterais resultantes dos tratamentos de câncer. Para tanto, selecionou-se alguns estudos que vêm buscando discutir essa problemática nos últimos anos. Os achados na literatura vêm indicando alguns benefícios de programas de atividade física em pacientes sob tratamento de câncer, entre eles, aumento da força muscular e da capacidade funcional, controle do peso corporal, redução da fadiga, melhora da auto-estima e do humor e conseqüentemente melhora da qualidade de vida. Contudo, as pesquisas realizadas até o presente momento apontam algumas falhas metodológicas sendo: a) avaliação das condições físicas baseadas apenas em relatos dos pacientes; b) programas de atividades físicas sem supervisão e/ou orientação profissional; c) pouco tempo de duração do programa não acompanhando todo o tratamento e d) programas de atividades físicas que englobam apenas atividades aeróbias, desconsiderando atividades de resistência e/ou alongamento. Não obstante dos resultados positivos encontrados sobre a eficácia dos programas de atividade física para combater os efeitos colaterais dos tratamentos de câncer, as lacunas metodológicas existentes nos estudos abordados, indicam a necessidade de novas pesquisas sobre este tema.

1 INTRODUÇÃO.
O câncer é uma doença que aparece responsável como uma das primeiras causas de morte no país e, infelizmente, esse não é o único problema dos pacientes que são acometidos pela doença, sendo os tratamentos utilizados para combatê-lo, muitas vezes, acompanhados de efeitos colaterais que comprometem a qualidade de vida dos pacientes por longos períodos.

O tratamento de câncer, de forma geral, de acordo com o grau de evolução da doença, é pautado em intervenções cirúrgicas, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia e os efeitos colaterais do tratamento implicam, na maioria das vezes, em sensação de extrema fadiga, em geral, associada à perda de peso e à redução da força muscular, bem como, quadros de depressão afetando o aspecto psicológico do paciente.

Nesse sentido, alguns estudos parecem indicar preliminarmente que a prática da atividade física em pacientes em tratamento de câncer pode reduzir consideravelmente os efeitos colaterais do referido tratamento.

2 DESENVOLVIMENTO.
Os tratamentos de câncer são responsáveis por efeitos colaterais que interferem na qualidade de vida do paciente e implicam na maioria das vezes em sensação de extrema fadiga, em geral associada à perda de peso e à redução da força muscular, bem como, quadros de depressão afetando o aspecto psicológico do paciente. Em se tratando do tratamento de quimioterapia, os efeitos colaterais mais freqüentes são náuseas, vômitos, fadiga e queda de cabelo, que podem variar de um paciente para o outro.

Aproximadamente 75% dos indivíduos que sobrevivem ao câncer relatam sensações extremas de fadiga durante a radioterapia ou quimioterapia, em geral associadas à perda de peso e à redução da força muscular e da resistência cardiovascular. Para o Instituto Nacional do Câncer a fadiga é a sensação de cansaço extremo devido à combinação de sintomas físicos e mentais. Essa sensação é praticamente universal no estágio final da doença, no entanto, é o sintoma para o qual se tem as soluções menos satisfatórias, sendo que uma das indicações para tentar minimizá-lo é a estimulação de pequenas atividades físicas para preservar a força muscular, sem ser estabelecido, contudo, a medida ou indicação mais precisa dos tipos de atividades ou níveis de intensidades que compreendem os programas indicados.

Schwartz (1999) analisou a relação entre fadiga, exercício físico e qualidade de vida em vinte e sete pacientes com câncer de mama que começaram o tratamento de quimioterapia, sendo todas as medidas obtidas antes e depois do referido tratamento. O estudo demonstrou que mulheres que adotaram o programa de exercício apresentaram um aumento significante nas habilidades funcionais e pouco ganho de peso.

Mock et al (2001) tiveram como proposta descrever padrões de fadiga diária em mulheres com câncer de mama que estavam recebendo entre o primeiro e terceiro ciclo de quimioterapia adjuvante, separadas em grupos de praticantes e não praticantes de exercício físico. O grupo de praticantes recebeu instruções para seguir e manter oito semanas de programa de exercícios diários em casa, sendo avaliado em pré e pós-testes de exercícios físicos. O resultado do estudo demonstrou padrões distintos de fadiga entre os grupos, sendo que as mulheres que adotaram o programa de exercícios apresentaram menos dias de níveis de fadiga alta e mais dias de níveis de fadiga baixa e na pior das hipóteses tiveram nível médio de fadiga, ao contrário de mulheres que não se exercitaram.

Battaglini et al (2003), após efetuarem um estudo de revisão sobre os efeitos do exercício físico sobre o câncer, ressaltam que muitos pesquisadores sugerem o exercício físico como a solução de reabilitação para a baixa energia em pacientes com câncer. Os autores citados acima relatam que algumas complicações podem ocorrer quando os pacientes não são ativos durante e após o tratamento de câncer. Com a redução ou a ausência da atividade física, ocorrem mudanças nas propriedades dos músculos, causando atrofia muscular e redução da densidade óssea, em que a soma desses dois fatores diminui a força músculo esquelética e a performance, contribuindo para o risco de fraturas ósseas e prejuízos músculo esqueléticos. Atrofia músculo esquelético e mudanças na propriedade do músculo contribuem para o declínio da eficiência cardiovascular, que refletem no aumento de taxas do coração e aumento de pressão sanguínea. A combinação da redução da eficiência cardiovascular com o aumento de nível de colesterol e declínio dos níveis de HDL decorrentes da inatividade contribui para o aumento de riscos cardiovasculares. A inatividade física diminui também a função pulmonária, diminuindo a função do músculo respiratório.

A revisão de literatura efetuada por Battaglini et al (2003) demonstra ainda que os declínios da capacidade funcional são experimentados por um terço dos pacientes de câncer e podem ser atribuídos a condições hipocinéticas desenvolvidas por prolongada inatividade física. A condição hipocinética pode causar a redução da eficiência dos sistemas de energia, bem como, pode ter alguns efeitos sobre os níveis de hormônios devido ao desequilíbrio homeostático.

Alguns estudos (Courneya, 1999, 2000, 2002; Dimeo, 1999, Mackey & Jones, 2000) parecem indicar preliminarmente que a prática da atividade física pode atuar em sentido adverso da condição hipocinética em pacientes em tratamento de câncer, podendo reduzir consideravelmente os efeitos colaterais do referido tratamento.

Courneya et al., (2000) descrevem que o exercício tem efeito positivo em ampla extensão nos parâmetros de qualidade de vida, depois que os pacientes foram diagnosticados como tendo câncer. Os autores, ao efetuarem revisão de literatura em 24 estudos sobre exercício físico e qualidade de vida após o diagnóstico de câncer, publicados entre 1980 e 1997, observaram que a maioria dos estudos examinou a relação câncer de mama em estágio precoce e exercício aeróbio e concluíram que o exercício físico tinha consistentes efeitos positivos na qualidade de vida, incluindo bem estar físico, funcional, psicológico e emocional.

Os benefícios da atividade física em pacientes com câncer estão relacionados de acordo com Courneya (2001) ao: aumento da força muscular e da capacidade funcional, controle do peso corporal, redução da fadiga, melhora da auto-estima e do humor e, conseqüentemente, melhora da qualidade de vida.

Conforme revisão efetuada por Courneya (2002), mais de 40 estudos têm investigado a prática da atividade física e a qualidade de vida nos sobreviventes de câncer; no entanto, poucos deles foram estudos randomizados controlados. Eles investigaram a atividade física, tanto durante a quimioterapia e a radioterapia quanto no pós-tratamento, sendo que o resultado da maioria dos estudos realizados apontou benefícios positivos na qualidade de vida, melhoria da aptidão, melhor composição corporal e redução da fadiga, bem como melhoria do estado de humor tais como: depressão, ansiedade, entre outros. Nesse sentido, a conduta de se manter o paciente em repouso durante o tratamento de câncer parece potencializar os efeitos colaterais do mesmo, sendo o sedentarismo prejudicial para a qualidade de vida do paciente em tratamento.

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Battaglini et al (2003) afirmam que exercício físico tem demonstrado potente intervenção para pacientes com câncer, mas que também pode apresentar alguns riscos. Para que sejam efetivos e seguro, exercícios deveriam, de acordo com os autores, serem prescritos incluindo cinco critérios: a) capacidade individual; b) tipo de exercício; c) intensidade do exercício; d) freqüência e duração do exercício. Os autores ressaltam que programas de treinamento de exercício físico que incluem tanto componentes anaeróbios quanto componentes aeróbios deveriam fazer parte integral no estilo de vida de pessoas que estão em tratamento de cânceres, sobreviventes ou são recorrentes da doença.

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3 REFERÊNCIAS
ACSM – AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2000.
Battaglini C, Battaglini B, Bottarro M. The effects of physical exercise on cancer: a review. 2003. Disponível Internet <> (2003, junho, 22)
Brasil. Ministério Da Saúde. Instituto Nacional De Câncer/Inca Coordenação De Programas De Controle Do Câncer/Pro-Onco. Câncer de Mama. INCA/Pro-Onco, 2002
Caspersen C, Kriska A, Deawoth S. Physical activity epidemiology as applied to eldery populations. Baillière Clinical Rheumatology, 1994; 8: 7-27.
Courneya KS. Exercise interventions during cancer treatment: biopsychosocial outcomes. Exerc. Sports Sci. 2001; 29: 60-64
______.______, & McKenzie DC. Exercise for Breast Cancer Survivors, The Physician and Sportsmedicine, 2002; 30: 8.
_____________, Physical Activity and the Câncer Survivor. Presentation from American Institute for Cancer Research Nutrition After Cancer Conference, 2002. Disponível internet . (2003, março,15)
______________; Mackey JR, Jones LW. Coping with Cancer. Can Exercice Help? The Physician and Sportsmedicine 2000; 28: 5.
Dimeo FC, Stieglitz RD, Novelli F. Effects of physical activity on the fatigue and psychologic status of cancer patients during chemotherapy. Cancer 1999.
Land D & Mattimuller B. Exercise improves physical, mental health of breast câncer patientis. Disponível Internet
. (2003, maio, 14)
Mock V, Pickett M, Ropka ME, Muscari LE, Stewart KJ, Rhodes VA, McDaniel R, Grimm PM, Krumm S, McCorkle R. Fatigue and quality of life outcomes of exercise during cancer treatment. The Johns Hopkins University School of Nursing, Baltimore, 2001.
______.______.______.______, Physical activity, and incidence of cancer in diverse populations: a preliminary report. Am. J. clin. Nutr 1987; 45: 312-317.
Schwartz AL. Fatigue mediates the effects of exercise on quality de life. University of Washington, School of Nursing, Seattle, 1999.

Um comentário:

  1. Sou estudante em Ed. Física e fui convidado a ser personal trainer de uma pessoa portadora de câncer. De imediato recorri à pesquisa para saber quais são os procedimentos a serem tomados, quais exercícios, intensidade e riscos na atividade. O material é bem escasso, mas agradeço a colaboração do blog na minha pesquisa. Continuarei a pesquisa e pretendo contribuir com algo em breve, ressaltando que a satisfação pessoal nesse trabalho estará contando muito mais que qualquer remuneração financeira, visto que esse é o real sentido da ed. física como um todo: a transformação e integração social através da atividade física. Será uma honra, transformar a dor menos presente na vida de uma, ou até mesmo varias pessoas!
    Grato

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