Autora: Allison Gandey
Publicado em 19/06/2008
Chicago, Illinois — Dois grandes estudos de metanálise sugerem que pacientes que relatam uma boa qualidade de vida têm chance de sobrevida significativamente maior. Os trabalhos foram apresentados durante o 44° Encontro Anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e apontaram que o relatório feito pelo próprio paciente pode ser um indicador prognóstico e, talvez, um critério com valor indicador de sobrevida.
Dra. Angelina Tan, da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, chefe da pesquisa, disse ao Medscape Oncology que “a sobrevida de pacientes com câncer parece ter relação com a qualidade de vida” e acrescentou, ao apresentar o resultado da primeira metanálise, “se os médicos identificarem os pacientes que não apresentem boa evolução, poderão intervir e acreditamos que essa intervenção melhorará não apenas a sensação de bem estar do paciente, mas também seu tempo de vida.”.
Dra. Joanna Brell, do Ireland Cancer Center, em Cleveland, Ohio, chamou atenção para os estudos durante a sessão “destaques do dia” e disse estar bastante satisfeita com o tamanho da amostra. Sugeriu, ainda, que esses resultados formam uma nova e importante premissa que deve ser investigada.
Dra. Brell disse também que seria ótimo poder contar com um instrumento que medisse a qualidade de vida do paciente e pudesse quantificar os sentimentos que eles tentam explicar aos seus médicos.
A debatedora da sessão, Dra. Jamie Von Roenn, da Northwestern University, de Chicago, Illinois, disse que “agora nos movemos na direção certa”, concordando com essa atitude e aplaudindo a ASCO que nunca havia dado tantas atribuições ao tratamento dos pacientes como agora.
Estudo com mais de 3.700 pacientes
O estudo de metanálise do grupo da Dra. Tan envolveu mais de 3.700 pacientes de 24 centros de tratamento oncológico e coletou dados sobre a qualidade de vida no cotidiano através de um escala específica de 100 pontos.
O modelo de riscos proporcionais de Cox foi utilizado para o ajuste dos efeitos sobre os escores encontrados, raça, local, idade e sexo. Os pesquisadores descobriram que a qualidade de vida cotidiana é um fator prognóstico importante e independente na sobrevida global.
Segundo os pesquisadores, a magnitude do efeito foi igual, independentemente do local da doença, incluindo aparelho digestivo, geniturinário, pulmão, mama e cérebro.
Dra. Tann relatou que “o bem estar do paciente deve ser considerado como uma variável importante e relacionada com a sua sobrevida” e complementou, “se o paciente relata uma qualidade de vida com pontuação inferior a 5 em uma escala de 0 a 10 (ou menor que 50, em escalas que variam do 0 a 100), sua sobrevida média é inferior àquele que não relatou este déficit”.
A pesquisadora indicou ainda que uma alta qualidade de vida cotidiana não é um indicador de longevidade, mas uma baixa qualidade está relacionada com um risco de óbito duas vezes maior em 1, 2 ou 3 anos.
Segundo estudo com mais de 10.000 pacientes
Os resultados da segunda metanálise foram apresentados por Chantal Quinten do departamento de qualidade de vida da European Organization for Research and Treatment of Cancer (EORTC) de Bruxelas, Bélgica.
Essa pesquisadora estudou 30 ensaios clínicos randomizados com mais de 10.000 pacientes – que preencheram um questionário de avaliação da qualidade de vida da EORTC – e seus dados de sobrevida. Os pesquisadores avaliaram a qualidade de vida relacionada à saúde através de 15 escalas padronizadas e os dados clínicos incluíram idade, sexo, metástases à distância, classificação da OMS e localização da doença.
Os pesquisadores avaliaram a significância prognóstica dos dados através do modelo de riscos proporcionais de Cox. Foram aplicados modelos de validação (bootstrap resampling) para verificar a estabilidade dos modelos estatísticos.
Variáveis clínicas com possibilidades prognósticas
Estado físico global
Funcionamento cognitivo
Estado de saúde
Fadiga
Náusea e vômitos
Dor
Dispnéia
Perda de apetite
Conforme conclusão dos pesquisadores, parâmetros de qualidade de vida fornecem informações sobre o prognóstico do câncer de 11 locais diferentes.
Os autores solicitam que mais pesquisas sejam realizadas para confirmação desse achado e, uma vez validado, sugerem que a qualidade de vida seja considerada uma variável de estratificação em ensaios clínicos futuros.
Dra. Tan concordou com a inclusão de dados sobre a qualidade de vida em futuros ensaios clínicos oncológicos terapêuticos e que estudos adicionais são necessários.
Ela reconheceu ao Medscape Oncology que restam ainda muitos desafios a serem cumpridos e disse que pretende trabalhar com objetivo de identificar “como e quando os clínicos podem fornecer o melhor apoio aos sentimentos de bem estar de seus pacientes”.
44º Encontro Anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO). Abstract 9515 e 9516. Apresentado em 2 de junho de 2008.
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