Para médico que atendeu o ex-presidente José Alencar nos EUA, meta deve ser controlar a doença e prolongar a vida com qualidade
Chris Bertelli, iG Saúde | 17/04/2012 16:28:57
O maior especialista em cirurgia oncológica da atualidade. É desta forma que o neozelandês Murray F. Brennan é apresentado por colegas também respeitados internacionalmente, como o oncologista Paulo Hoff, o especialista que trata o câncer de Lula e também cuidou da presidenta Dilma e do ex-presidente José Alencar.
Brennan é vice-presidente de programas internacionais do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, um dos maiores centros de pesquisa e tratamento do câncer dos Estados Unidos e do mundo.
Especializado em sarcomas de tecidos moles, cânceres de pâncreas e de estômago, além de tumores endócrinos (aqueles que envolvem glândulas como a adrenal, a tireoide e as células das ilhotas pancreáticas), foi a ele que o ex-vice presidente José Alencar recorreu ao ser diagnosticado com um sarcoma na região do abdome, no final de 2006.
Um encontro sobre o qual ele não quis dar detalhes.
“Não posso falar sobre meus pacientes, nem lá [nos EUA] nem aqui.”
Brennan está em São Paulo para participar do Intersections – International Cooperative Cancer Symposium, um encontro entre médicos norte-americanos e brasileiros para discutir o futuro do tratamento e do diagnóstico da doença, no Hospital Sírio-Libanês. O médico conversou com o iG Saúde sobre os principais avanços e desafios impostos pela doença que deve se tornar a principal causa de morte no mundo nas próximas décadas. Confira a entrevista.
iG: Você acha que um dia poderemos falar em cura de todos os cânceres?
Murray F. Brennan: Três coisas são importantes em se tratando de câncer: saber que ele é muitas doenças em uma; que alguns tipos são possíveis de serem curados, como o câncer de mama, por exemplo; e que antes de falarmos em cura, precisamos torná-lo uma doença com a qual as pessoas possam conviver por muito tempo.
iG: Qual o maior desafio no tratamento dessa doença hoje?
Murray F. Brennan: Talvez o maior desafio esteja em tratar os cânceres comuns, como o de pulmão. Sabemos que se conseguirmos fazer com que as pessoas parem de fumar, podemos mudar consideravelmente os índices da doença. Sabemos que nem todos os cânceres de pulmão são causados pelo cigarro, mas a maioria é. E o triste é que temos uma prevenção que funciona (deixar de fumar), mas não temos bons tratamentos que funcionem. Então, se não temos bons tratamentos, mas temos a prevenção, que as pessoas não fazem, precisamos ter bons diagnósticos. Acho esse tipo de situação o grande desafio.
iG: Há limites no tratamento do câncer?
Murray F. Brennan: Eu sou um otimista. Eu acredito que todas as coisas são solucionáveis. Mas eu também entendo que algumas situações levarão o dobro de tempo e custarão o dobro. Pensando bem, acho que sou um otimista realista.
iG: Quais as grandes vantagens dos tratamentos de hoje?
Murray F. Brennan: Há várias. Historicamente, o único tratamento era a cirurgia. Hoje temos radiação, quimioterapia e imunoterapia. Atualmente tratamos alguns tipos de câncer com cirurgias pequenas, que antigamente eram grandes cirurgias e traziam muitos problemas para os pacientes. Podemos operar uma área menor, fazer menos operações, cirurgias mais focadas. Quando comecei a lidar com tumores, a amputação era o único tratamento. Hoje ela raramente é feita. O grande passo foi deixar os tratamentos menos agressivos e mais efetivos. Atualmente também conseguimos identificar tumores raros, que tem apenas um elemento genético rastreável. Isso é um grande avanço.
iG: O senhor vê potencial nas vacinas contra o câncer?
Murray F. Brennan: As vacinas vêm sendo uma promessa nos últimos 30 ou 40 anos, mas quase todas falharam. As vacinas clássicas não têm sido de grande ajuda. No entanto, o Ipilimumab (um novo medicamento utilizado no tratamento de melanomas) é uma forma diferente de pensar em vacina, por exemplo. Não é como tomar uma vacina contra sarampo, que você aplica em todo mundo e elimina a doença. O remédio manda informações ao corpo. Todos temos uma célula que previne as demais de reconhecer o câncer. Se colocarmos essa célula de lado, e deixarmos o corpo reconhecer o câncer e atacá-lo, melhor. É dessa forma que o medicamento age. É um tipo diferente de vacina. Por outro lado, sabemos também que o HPV causa o câncer cervical em mulheres, e nós podemos vaciná-las contra a doença. Nesse caso, a vacina funciona. E ainda assim muitas mulheres não tomam a vacina.
iG: Qual a melhor forma de prevenir o câncer hoje em dia ?
Murray F. Brennan: Temos várias maneiras de prevenção. Uma delas é a adoção de hábitos saudáveis. Mas também temos a vacina contra o HPV, por exemplo, que previne o câncer cervical principalmente em mulheres jovens. Parar de fumar previne o câncer de pulmão, por exemplo. Programas de exercício ajudam a evitar o câncer de mama. Então temos múltiplas opções.
iG: O que o senhor pensa sobre a medicina alternativa?
Murray F. Brennan: É muito importante fazermos a distinção entre medicina alternativa e complementar. A primeira exclui a medicina tradicional e a segunda trabalha junto com ela e, como o próprio nome já diz, a complementa. Ela pode ajudar o paciente a lidar melhor com o câncer que tem. Nós temos estudos de pessoas sendo submetidas a tratamento de câncer de mama, em que um grupo faz exercícios e outros não. O que faz exercícios vive muito melhor do que o que não faz. Assim como os estudos que fizemos com pacientes que receberam massagens nos mostram que a sensação de bem-estar advinda desse tratamento se estende por vários dias após a massagem em si. Isso permite que ele enfrente melhor o tratamento e os efeitos colaterais. Não é nada mágico, é algo bem simples.
Chris Bertelli, iG Saúde | 17/04/2012 16:28:57
O maior especialista em cirurgia oncológica da atualidade. É desta forma que o neozelandês Murray F. Brennan é apresentado por colegas também respeitados internacionalmente, como o oncologista Paulo Hoff, o especialista que trata o câncer de Lula e também cuidou da presidenta Dilma e do ex-presidente José Alencar.
Brennan é vice-presidente de programas internacionais do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, um dos maiores centros de pesquisa e tratamento do câncer dos Estados Unidos e do mundo.
Especializado em sarcomas de tecidos moles, cânceres de pâncreas e de estômago, além de tumores endócrinos (aqueles que envolvem glândulas como a adrenal, a tireoide e as células das ilhotas pancreáticas), foi a ele que o ex-vice presidente José Alencar recorreu ao ser diagnosticado com um sarcoma na região do abdome, no final de 2006.
Um encontro sobre o qual ele não quis dar detalhes.
“Não posso falar sobre meus pacientes, nem lá [nos EUA] nem aqui.”
Brennan está em São Paulo para participar do Intersections – International Cooperative Cancer Symposium, um encontro entre médicos norte-americanos e brasileiros para discutir o futuro do tratamento e do diagnóstico da doença, no Hospital Sírio-Libanês. O médico conversou com o iG Saúde sobre os principais avanços e desafios impostos pela doença que deve se tornar a principal causa de morte no mundo nas próximas décadas. Confira a entrevista.
iG: Você acha que um dia poderemos falar em cura de todos os cânceres?
Murray F. Brennan: Três coisas são importantes em se tratando de câncer: saber que ele é muitas doenças em uma; que alguns tipos são possíveis de serem curados, como o câncer de mama, por exemplo; e que antes de falarmos em cura, precisamos torná-lo uma doença com a qual as pessoas possam conviver por muito tempo.
iG: Qual o maior desafio no tratamento dessa doença hoje?
Murray F. Brennan: Talvez o maior desafio esteja em tratar os cânceres comuns, como o de pulmão. Sabemos que se conseguirmos fazer com que as pessoas parem de fumar, podemos mudar consideravelmente os índices da doença. Sabemos que nem todos os cânceres de pulmão são causados pelo cigarro, mas a maioria é. E o triste é que temos uma prevenção que funciona (deixar de fumar), mas não temos bons tratamentos que funcionem. Então, se não temos bons tratamentos, mas temos a prevenção, que as pessoas não fazem, precisamos ter bons diagnósticos. Acho esse tipo de situação o grande desafio.
iG: Há limites no tratamento do câncer?
Murray F. Brennan: Eu sou um otimista. Eu acredito que todas as coisas são solucionáveis. Mas eu também entendo que algumas situações levarão o dobro de tempo e custarão o dobro. Pensando bem, acho que sou um otimista realista.
iG: Quais as grandes vantagens dos tratamentos de hoje?
Murray F. Brennan: Há várias. Historicamente, o único tratamento era a cirurgia. Hoje temos radiação, quimioterapia e imunoterapia. Atualmente tratamos alguns tipos de câncer com cirurgias pequenas, que antigamente eram grandes cirurgias e traziam muitos problemas para os pacientes. Podemos operar uma área menor, fazer menos operações, cirurgias mais focadas. Quando comecei a lidar com tumores, a amputação era o único tratamento. Hoje ela raramente é feita. O grande passo foi deixar os tratamentos menos agressivos e mais efetivos. Atualmente também conseguimos identificar tumores raros, que tem apenas um elemento genético rastreável. Isso é um grande avanço.
iG: O senhor vê potencial nas vacinas contra o câncer?
Murray F. Brennan: As vacinas vêm sendo uma promessa nos últimos 30 ou 40 anos, mas quase todas falharam. As vacinas clássicas não têm sido de grande ajuda. No entanto, o Ipilimumab (um novo medicamento utilizado no tratamento de melanomas) é uma forma diferente de pensar em vacina, por exemplo. Não é como tomar uma vacina contra sarampo, que você aplica em todo mundo e elimina a doença. O remédio manda informações ao corpo. Todos temos uma célula que previne as demais de reconhecer o câncer. Se colocarmos essa célula de lado, e deixarmos o corpo reconhecer o câncer e atacá-lo, melhor. É dessa forma que o medicamento age. É um tipo diferente de vacina. Por outro lado, sabemos também que o HPV causa o câncer cervical em mulheres, e nós podemos vaciná-las contra a doença. Nesse caso, a vacina funciona. E ainda assim muitas mulheres não tomam a vacina.
iG: Qual a melhor forma de prevenir o câncer hoje em dia ?
Murray F. Brennan: Temos várias maneiras de prevenção. Uma delas é a adoção de hábitos saudáveis. Mas também temos a vacina contra o HPV, por exemplo, que previne o câncer cervical principalmente em mulheres jovens. Parar de fumar previne o câncer de pulmão, por exemplo. Programas de exercício ajudam a evitar o câncer de mama. Então temos múltiplas opções.
iG: O que o senhor pensa sobre a medicina alternativa?
Murray F. Brennan: É muito importante fazermos a distinção entre medicina alternativa e complementar. A primeira exclui a medicina tradicional e a segunda trabalha junto com ela e, como o próprio nome já diz, a complementa. Ela pode ajudar o paciente a lidar melhor com o câncer que tem. Nós temos estudos de pessoas sendo submetidas a tratamento de câncer de mama, em que um grupo faz exercícios e outros não. O que faz exercícios vive muito melhor do que o que não faz. Assim como os estudos que fizemos com pacientes que receberam massagens nos mostram que a sensação de bem-estar advinda desse tratamento se estende por vários dias após a massagem em si. Isso permite que ele enfrente melhor o tratamento e os efeitos colaterais. Não é nada mágico, é algo bem simples.
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