terça-feira, 18 de setembro de 2012

Novo método detecta alterações em cromossomos de pacientes com câncer


Um grupo de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos desenvolveu um novo método que permite diagnosticar alterações nos cromossomos de pacientes com câncer – em especial leucemias – com sensibilidade e rapidez drasticamente superior às técnicas de citogenética usadas convencionalmente.

O estudo, publicado na revista Blood, envolveu pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e do Centro de Terapia Celular (CTC), em Ribeirão Preto. Coordenado por Marco Antônio Zago, o CTC é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

De acordo com o artigo, a detecção de anomalias nos cromossomos permite prever a potencial resposta à terapia e, por isso, é considerada um dos principais sistemas para orientar o tratamento clínico.

“Detectar alterações nos cromossomos com a máxima rapidez e precisão é importante para que possamos diagnosticar o câncer e escolher melhor tratamento para o paciente, disse Rodrigo Calado, um dos autores do artigo, pesquisador do CTC e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo Calado, o método convencional de citogenética, usado para detectar alterações no cromossomos, demora alguns dias para fornecer o resultado e analisa apenas 20 células do tumor, aproximadamente. Esse número limitado de células aumenta as chances de falsos negativos. “Com o método que desenvolvemos, podemos analisar de 20 mil a 30 mil células do tumor em um ou dois dias. Com isso, podemos encontrar alterações cromossômicas de forma muito mais precisa”, disse.

Enquanto na técnica convencional de citogenética os cientistas precisam examinar as células uma a uma no microscópio, o novo método permite que até 30 mil células sejam analisadas rapidamente ao passarem por citômetro de fluxo – um equipamento existente em muitos laboratórios para outras finalidades.

“No citômetro de fluxo, a cada segundo centenas de células passam diante de um feixe de laser que identifica os florocromos que são utilizados para analisar os cromossomos. As anomalias são assim rapidamente detectadas”, afirmou.

Calado, que voltou ao Brasil em 2011, depois de uma temporada de oito anos nos Estados Unidos como pesquisador dos NIH, já havia utilizado o método nos laboratórios norte-americanos com a finalidade de avaliar os telômeros, que são as extremidades dos cromossomos.

“Tínhamos muita dificuldade com as limitações dos métodos de citogenética, porque víamos um número pequeno de células e, especialmente em casos como a mielodisplasia – um tipo de leucemia –os resultados eram muito imprecisos e várias alterações cromossômicas passavam despercebidas. Assim, tivemos a ideia de utilizar o método de avaliação dos telômeros para fazer uma análise de alterações quantitativas do cromossomo como um todo”, explicou.

Para conseguir tal adaptação, os cientistas desenvolveram uma nova forma de preparar as células a fim de analisar os cromossomos – o que exige uma operação mais sofisticada que a preparação convencional – e aprimoraram os softwares de análise dos dados.

“O resultado foi um método de fácil aplicação, porque utilizamos o citômetro de fluxo, que é um equipamento que já existia e que é encontrado em muitos laboratórios. Com isso, o novométodo pode ser rapidamente utilizado na rotina”, disse.

Em sua aplicação original, o citômetro de fluxo é utilizado para analisar os telômeros, que são importantes marcadores de envelhecimento das células – processo que está ligado a uma série de doenças.

“O equipamento é utilizado em um método que serve para identificar telômeros muito curtos, o que permite detectar doenças como fibrose pulmonar e anemia plástica. O encurtamento telomérico é o melhor de todos os biomarcadores de envelhecimento”, afirmou Calado.

Agência Fapesp

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