quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Médicos americanos sugerem mudanças na definição de câncer

TARA PARKER-POPE
DO "NEW YORK TIMES"
29/07/2013

Um grupo de especialistas conselheiros do Instituto Nacional de Câncer dos EUA recomendou mudanças na forma de detectar e tratar o câncer, incluindo alterações na definição da doença e até a eliminação da palavra de alguns diagnósticos comuns.

As sugestões foram publicadas nesta segunda-feira no "Journal of the American Medical Association".

Condições pré-malignas, como o carcinoma ductal in situ na mama --que muitos médicos não consideram como câncer--, deveriam ser rebatizadas sem a palavra carcinoma, dizem os especialistas.

Assim, os pacientes ficariam com menos medo e teriam menos risco de procurar tratamentos desnecessários e com maior risco de efeitos colaterais, como a remoção das mamas.

O grupo, que inclui alguns dos principais pesquisadores da área, também sugeriu que muitas lesões detectadas em exames de mama, próstata, tireoide e pulmão não deveriam ser chamadas de câncer, mas de Idle (a sigla, que quer dizer indolente em inglês, significa lesões indolentes de origem epitelial).

Algumas dessas mudanças devem levar anos para acontecer e parte dos especialistas discorda profundamente delas, mas o relatório pode mudar o tom do discurso sobre o câncer.

"Precisamos de definições de câncer do século 21 em vez das do século 19 que temos usado", afirmou Otis Brawley, da American Cancer Society, não envolvida no relatório.

O motivo por trás do pedido de mudanças é a preocupação com as centenas de milhares de pessoas se submetendo a procedimentos desnecessários e arriscados para tratar lesões pré-malignas ou tumores de crescimento tão lento que podem nunca causar dano.

O advento de exames muito sensíveis nos últimos anos aumentou a chance de achar os chamados "incidentalomas" -lesões encontradas durante exames de imagem que nunca teriam causado problemas.
O problema é que uma vez que a lesão é descoberta, os médicos se sentem obrigados a fazer biópsia, tratar e removê-la. Segundo o Instituto Nacional de Câncer dos EUA, o excesso de diagnóstico e tratamento é um problema nacional de saúde.

"Ainda temos dificuldade de convencer as pessoas que achados em testes como mamografia e PSA nem sempre são doenças malígnas que vão matá-las", afirma Harold Varmus, vencedor do Nobel e diretor do instituto.

O problema em mudar a nomenclatura, segundo Larry Norton, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, é que os médicos não sabem dizer com certeza aos pacientes quais tumores não vão progredir e quais vão matá-los.

"Qual carcinoma ductal in situ de mama vai se tornar um câncer agressivo e qual não vai? Gostaria que soubéssemos. Não temos uma forma precisa de olhar um tecido e ver com certeza que é um tumor indolente."

Norton afirma, no entanto, que é preciso melhorar a comunicação com o paciente. "A terminologia é só um termo descritivo e precisa ser explicada. Mas não dá para mudar centenas de anos de literatura médica só mudando a terminologia."

O grupo de trabalho do Instituto Nacional de Câncer também pediu mais pesquisas para identificar tumores benignos e de crescimento lento e os agressivos. O sobrediagnóstico e novos testes moleculares para distinguir tumores indolentes dos agressivos também devem ser alvos de mais estudos.

"Nossos pesquisadores não estão só procurando novas formar de diagnóstico precoce, mas pensando sobre quais fatores determinam se um tumor é agressivo ou não uma vez que ele é encontrado. Isso é bem diferente do pensamento de 20 anos atrás, quando achar um câncer significava um risco enorme de morrer", diz Varmus.

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