Visitas de cães a hospitais melhora pressão e ansiedade dos pacientes,
diz estudo
POR CLARISSA
PAINS / LUIZA SOUTO
24/10/2015
7:00
A pequena Beatriz Kubo, de 6 anos, brinca
no Graacc com o cachorro Joe, ao lado da mãe, Érica - Arquivo pessoal
SÃO PAULO e RIO — Diagnosticado com
câncer em 2011, o ator Reynaldo Gianecchini vez ou outra visita o Grupo de
Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), do qual é embaixador, na
Zona Sul da capital paulista. Quando o galã chega ao local, a meninada ali em
tratamento esquece, por um instante, a doença e corre para o ator. Com a menina
Beatriz Anderson Kubo, de 6 anos e há dois com leucemia, é diferente. Ela se
diverte com a visita do ator, mas o colírio de seus olhos mesmo é Joe, um
golden retriever de 11 anos, que visita os pacientes da unidade todas as
quintas-feiras. Há dez anos, o animal vem ensinando a familiares e médicos que
a ajuda para o tratamento pode chegar das mais variadas formas.
— A cada 21 dias, Beatriz faz
quimioterapia por oito horas seguidas, e seu acompanhante é o Joe. Dia desses,
o Gianecchini veio e ela nem deu bola. Minha filha fica emocionada quando o
cachorro chega: faz carinho, abraça, conversa. Ela fica melhor nos dias em que
está com ele — celebra a mãe da menina, Érika Kubo, de 39 anos.
Joe faz parte do projeto Amicão,
conduzido por Angela Borges, de 56 anos, e Luci Lafusa, de 60. Em 2005, elas
assistiram em um programa americano que os animais podiam ajudar no tratamento
de doenças, visitando pacientes. De lá para cá, Joe e outros cinco cachorros
interagem com pacientes e suas famílias em cinco hospitais especializados na
capital paulista.
— O cão não cura, mas faz com que o
paciente libere o hormônio da alegria, que é a endorfina. E a maioria das
pessoas gosta de cachorro. Então, quem não se apaixona? — comenta Luci.
Um estudo da Academia Americana de
Pediatria publicado esta semana na revista “Science” comprova a percepção. Os
pesquisadores coletaram dados de pressão sanguínea, frequência de batimentos e
nível de ansiedade em crianças antes e depois de elas receberem a visita de
“cães terapeutas”. A conclusão foi de que os meninos e meninas que participaram
da Terapia Assistida com Animais (TAA) permaneceram com quadros mais estáveis
do que os que não participaram.
Foi analisado o comportamento do
organismo de 68 crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos diagnosticadas com
câncer. Destes, 39 faziam terapia com animais e 29 não. Além de melhorar o
estado deles, a terapia com cães ajudou a diminuir os níveis de ansiedade dos
parentes que acompanhavam as sessões.
— Este estudo será um marco na
compreensão dos benefícios do vínculo vital entre pessoas e animais — pontuou a
principal autora do estudo, Amy McCullough, diretora nacional de pesquisas e
terapias da Associação Humana Americana. — Esperamos que os resultados aumentem
ainda mais o acesso a animais em ambientes hospitalares, e que o treinamento
dos cães seja aperfeiçoado para melhorar o bem-estar das crianças e das
famílias que enfrentam os desafios do câncer infantil.
Para Sergio Petrilli,
superintendente-médico e um dos fundadores do Graacc, não há dúvidas quanto aos
benefícios dessas sessões terapêuticas.
— Está provado que isso só melhora a
aderência da criança ao tratamento, e nos ajuda no processo. O câncer hoje é
uma doença curável. Mas, se antes costumava-se tratar a qualquer preço, hoje
podemos promover um menor impacto sobre a criança — analisa o oncologista.
MENOS REMÉDIOS PARA DOR
Um trabalho na mesma linha é
desenvolvido pela ONG Patas Therapeutas, comandada pela psicanalista Silvana
Fedeli Prado, de 50 anos. Além de contar com 50 cães de diferentes raças, ela
tem a ajuda de quatro gatos, dois coelhos e uma ave. Entre as oito instituições
de diferentes segmentos em que atua, estão o Hospital Infantil Darcy Vargas e a
ala de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia, ambas em São Paulo.
— No dia em que os animais vão a esses
hospitais, as crianças tomam menos remédio para a dor. É como se a gente
fizesse um resgate para o mundo externo — emociona-se Silvana.
— Os animais, em especial cães devido à
docilidade, são de grande ajuda para a reabilitação de qualquer doença. Mas
principalmente para o câncer, porque é um tratamento muito doloroso, invasivo e
longo. Os cachorros fazem com que as crianças participem mais e de uma forma
melhor — comenta Rilder Campos, presidente da instituição.
Em geral, as ONGs aceitam voluntários e
não há distinção de raça para os animais. Mas os cães precisam passar por
exames de comportamento e saúde, recebendo uma higienização antes de entrar nos
hospitais. Seus donos também são avaliados, tanto em relação ao tempo que têm
para visitar os pacientes, quanto ao fato de estarem ou não preparados para
lidar com eles.
Leia
mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/animais-ajudam-tratar-criancas-com-cancer-17865810#ixzz3phI8ChsC
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