Estadão Conteúdo15/08/2016
O gasto do Ministério da Saúde com tratamentos contra câncer
cresceu 66% nos últimos cinco anos, saltando de R$ 2,1 bilhões em 2010 para R$
3,5 bilhões em 2015, segundo levantamento da pasta feito a pedido do Estado. O
montante inclui recursos para procedimentos como cirurgias oncológicas,
quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e cuidados paliativos.
Também cresceu, no período analisado, o número de pacientes
com câncer atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS). Nos últimos cinco anos, o
volume de doentes em tratamento na rede pública passou de 292 mil para 393 mil.
Os números são reflexos do aumento de casos de câncer no
País nos últimos anos e do lançamento de novas terapias e medicamentos de alto
custo contra a doença. Eles indicam um desafio para os gestores do sistema: com
o envelhecimento da população, a tendência é que os casos da doença cresçam
ainda mais e exijam um investimento maior nas áreas de prevenção, detecção e
tratamento.
"As causas do câncer são divididas em podem ser
prevenidas ou não. Entre as que tem prevenção está o envelhecimento da
população. A expectativa de vida no Brasil aumentou por causa das melhores
condições sanitárias, de acesso aos serviços da saúde, prevenção e educação. A
célula normal, com o envelhecimento, vai reduzindo o poder de vigilância e
reparo contra as agressões. O processo de defesa passa a ser mais lento e a
célula maligna ganha esta corrida", explica Maria Paula Curado,
coordenadora do grupo de epidemiologia do A.C. Camargo Cancer Center.
Isso explica por que a incidência de câncer é maior em
pessoas mais velhas. "Vários cânceres aumentam com a idade, como o de
mama, os tumores gastrointestinais, alguns hematológicos", diz Auro del
Giglio, coordenador do HCor Onco e da oncologia clínica do Instituto Brasileiro
de Controle do Câncer (IBCC) e professor titular de hematologia e oncologia da
Faculdade de Medicina do ABC.
Segundo os especialistas, mesmo entre os cânceres que podem
ser prevenidos, a idade avançada acaba aumentando o risco de desenvolvimento da
doença, porque o tempo de exposição a fatores cancerígenos, como tabaco, é
maior. "O câncer é uma doença com período de latência longo, ou seja, a
carcinogênese ocorre pelo menos dez anos antes do aparecimento do tumor.
Portanto, a prevenção e redução dos fatores de risco podem reverter as chances
de desenvolvimento da doença", afirma Maria Paula.
Políticas
Para tentar reduzir o impacto do câncer sobre a população e
sobre o orçamento público, os governos devem investir em políticas de
diagnóstico precoce e promoção da saúde, dizem os especialistas.
"Tem de falar sobre a doença, estimular a educação para
a saúde, reduzir a obesidade, fazer leis que restrinjam ainda mais o tabagismo,
colocar a prevenção do câncer ao alcance da população e dar vazão aos casos
detectados. Não adianta diagnosticar precocemente e não ter como tratar
rapidamente", diz Giglio.
Para Maria Paula, o sistema de saúde deve buscar maior
eficiência. "Uma rede pública eficiente de saúde deve ter indicadores de
avaliação periódicos, como a sobrevida dos pacientes tratados, a mortalidade e
a tendência de incidência. Avaliar o sistema quanto ao número de casos iniciais
tratados e a sobrevida desses casos dá a fotografia da saúde do paciente com
câncer", opina.
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