Sabrina
Parlatore, 42, ex-VJ da MTV, superou o câncer de mama e dá palestras sobre o
assunto
27 jan 2017, 20h00
Uma noite de 2015, eu estava assistindo à televisão e, distraída, passei
a mão no colo. Senti uma bolinha no meu peito, que não doía, mas fui dormir
preocupada. Na manhã seguinte, liguei para minha médica, que me pediu exames e
me encaminhou ao mastologista. De cara, ele me disse que as chances de ser
câncer eram 40%, mas precisávamos esperar o resultado da biópsia. Tentei me
acostumar com a ideia, mas a verdade é que nunca estamos preparados para um
diagnóstico de câncer.
Seis dias depois, recebi o resultado: câncer de mama. Fui sozinha à
consulta e não acreditava no que estava acontecendo. Eu me lembrava da minha
mãe dizendo que jamais teria algo do gênero porque não tínhamos histórico na
família. O tumor estava em estágio inicial e dava para tratar. Saí do
consultório aos prantos. Procurei outros médicos, mas o parecer era sempre o
mesmo. Optei pelo primeiro especialista, que não indicava a mastectomia, o
método de retirar a mama de uma vez. Segundo ele, poderíamos retirar só o local
onde estava o tumor e uma pequena área em volta, sem sofrer qualquer alteração
estética.
Fiz a cirurgia menos de um mês depois do diagnóstico, e me senti mais
saudável com aquilo fora de mim – na prática, não tinha mais câncer. Foi a
melhor parte do tratamento, apenas um corte pequeno na auréola, nem ficou
cicatriz. Tomei anestesia geral pela primeira vez na vida, fechei os olhos e,
quando acordei, estava resolvido. Fisicamente eu estava igual. A quimioterapia,
em compensação, foi arrasadora. Eu sentia meu corpo morrer, em vários momentos
achei que não aguentaria. Não respirava direito, tinha arritmia, tontura,
enxaqueca e insônia, além de um cansaço descomunal. Fiquei exposta a infecções,
tomava remédio para o estômago todas as manhãs e enxaguava a boca dez vezes por
dia com bicarbonato de sódio para evitar aftas. Às vezes, minha língua queimava
e eu não conseguia engolir. A quimioterapia me tirou o direito de viver, tive
mais medo das consequências dela do que do câncer em si.
Durante esse período, recebia muito carinho e me senti muito amada por
minha família. Minha mãe havia pesquisado sobre o que era bom comer durante a
quimioterapia, aprendeu as receitas e fazia lancheiras que eu levava ao
hospital. Parentes distantes estreitaram o contato – criei até um grupo de
whatsapp com todo mundo, chamado ''Contagem regressiva'' para o final do
tratamento. Eu mandava vídeos da quimioterapia, áudios e fotos e o retorno
deles era um apoio a mais. O ambiente onde eu fazia o tratamento era
maravilhoso, o que também ajudou muito.
"O câncer de mama ainda é
cercado de falta de informação"
Foram dezesseis sessões e, durante o tratamento, perdi os pelos do
corpo, menos o cabelo. Usei uma touca que fecha os vasos sanguíneos do bulbo
capilar para que a química não penetre totalmente no couro cabeludo. Mesmo
assim, cerca de 30% a 40% do meu cabelo caiu e cresceu encaracolado depois.
Perdi as sobrancelhas e os cílios, estávamos no verão e o suor caía direto nos
olhos. Quando passei para a radioterapia, pouco mais de sete meses depois do
diagnóstico inicial, a médica me garantiu que o pior já tinha passado. Foram 33
sessões de radiação, mas como são diárias e duram só dez minutos, parecem ser
rápidas. Com o tempo, a pele fica queimada, como uma exposição ao Sol.
Ao longo do tratamento, percebi que poderia ser uma voz para o combate e
prevenção do câncer de mama. Hoje, após encarar um dos momentos mais difíceis
da minha vida, me encontro muito feliz com o aqui e o agora. Minha mãe me diz
que nunca me viu tão bem na vida.
A gente não precisa passar por uma dor para aprender algo, podemos
aprender com a história de outras pessoas. Eu, por exemplo, deixei de ser uma
pessoa tão ansiosa, preocupada com o futuro. Minha fé está mais forte. Quero
compartilhar isso com outras pessoas. Ajudar mulheres a buscarem informação e
tratamento.
O câncer me fez enxergar a vida de uma forma diferente. Revi minha vida
afetiva, social e profissional. Assim que terminei o tratamento, eu me separei,
mas até hoje, meu ex-marido e eu somos muito amigos. Eu estou me sentindo mais
segura, mais tranquila, vivendo o presente e aproveitando mais a vida. Dizem
que a felicidade é um estado de espírito, e eu estou realmente muito feliz com
o presente.
Depoimento
colhido por Mabi Barros
Foto por Felipe Cotrim
Foto por Felipe Cotrim
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