Uma única célula geneticamente modificada é capaz
de destruir até 100.000 células cancerígenas. (//iStock)
Um painel da FDA acaba de recomendar a aprovação de uma terapia que
altera as células de pacientes com leucemia para combater o câncer
Por Da Redação http://veja.abril.com.br/saude/a-um-passo-da-aprovacao-terapia-mudara-o-tratamento-do-cancer/
Um painel da FDA, agência americana que regulamenta
alimentos e medicamentos, recomendou nesta quarta-feira a aprovação da
primeira terapia 100% individual contra câncer no país. O
tratamento em questão, fabricado pela Novartis e chamado CTL019, altera as próprias células do paciente, transformando-as no que os
cientistas chamam de “droga viva”, de acordo com informações do jornal
americano The New York Times, “programada”
para combater a leucemia. O aval inédito deixa o medicamento um passo mais
próximo da aprovação pela agência e abre caminho para uma nova era na medicina.
Em decisão unânime (10 a 0) o
comitê da FDA afirmou que os benefícios da terapia superam seus riscos e
recomendou sua aprovação para o tratamento de leucemia linfoblástica
aguda de células B resistente ao tratamento ou com recidiva em crianças e
jovens com idade entre 3 e 25 anos. Esse é o câncer mais comum diagnosticado
em crianças, que representa aproximadamente 25% dos
diagnósticos da doença em pacientes com menos de 15 anos. No entanto, o
tratamento beneficiaria apenas os 15% dos casos nos quais a doença não
responde ou volta.
Como funciona?
A terapia, desenvolvida
por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e
posteriormente licenciada à Novartis, envolve a remoção de milhares de
células T, um tipo de glóbulo branco, do paciente, por um centro médico
aprovado. Em seguida, essas células são congeladas e enviadas a uma
fábrica da farmacêutica onde o processo de modificação é realizado por meio de
uma técnica de engenharia genética que emprega uma forma inativa de HIV, o
vírus causador da aids, para levar o novo material genético às células e
reprograma-las.
Esse
processo “turbina” as células T para que elas se liguem à proteína CD-19,
presente na superfície de quase todas as células B – componente natural do
sistema imunológico que se torna maligno na leucemia – e as ataquem. As
células T geneticamente modificadas, chamadas receptoras de antígeno quimérico,
são aplicadas na corrente sanguínea dos pacientes, onde se multiplicam e
começam a combater o câncer. Uma única célula é capaz de destruir até 100.000
células cancerígenas. Essa capacidade deu a elas o apelido de “serial killers”.
Em
estudos, a re-engenharia dessas células demorava cerca de quatro meses e muitos
pacientes faleceram antes do tratamento ficar pronto. Mas, durante a reunião do
painel, a Novartis afirmou que esse período foi reduzido para apenas 22 dias.
No entanto, como toda abordagem
que usa o próprio sistema imunológico do
paciente para combater o câncer, seus efeitos colaterais são
graves. Alguns pacientes apresentaram febre desenfreada,
pressão sanguínea no limite e congestionamento pulmonar. Outra ressalva dos
especialistas foi em relação a possíveis danos futuros, ainda desconhecidos
nesse tipo de terapia.
Por outro lado, uma única dose da nova terapia mostrou resultados
surpreendentes: longas remissões e
possíveis curas para pacientes que
tinham suas esperanças esgotadas após todos os tratamentos disponíveis terem
falhado.
Disponibilidade e preço
Como os efeitos colaterais
demandam cuidados específicos, a Novartis afirmou que, se aprovado, o
tratamento será inicialmente disponibilizado em cerca de 30centros treinados nos Estados Unidos. A companhia
afirmou também que planeja submete-lo em outros mercados, como na União
Europeia, até o final deste ano. No Brasil, a aprovação deverá demorar mais
tempo.
Embora a companhia não tenha
mencionado o preço, analistas ouvidos pelo The New York Times estimam que um tratamento assim
possa custar mais de 300.000 dólares (cerca de 960.000 reais).
Novo tratamento para leucemia tem resultados
surpreendentes
Mais de 90% dos pacientes com leucemia terminal submetidos ao método
entraram em remissão. A técnica, que consiste em modificar geneticamente as
células-T, foi divulgada durante o encontro anual da Associação Americana para
o Avanço da Ciência, nos Estados Unidos
Por Da Redação
access_time16 fev 2016, 18h20 - http://veja.abril.com.br/saude/novo-tratamento-para-leucemia-tem-resultados-surpreendentes/
Uma nova terapia
contra o câncer está sendo considerada extraordinária após mostrar sucesso em
94% dos pacientes com leucemia terminal que foram submetidos a ela. A técnica,
que consiste em reprogramar as células-T para atacar o câncer, foi divulgada em
dois estudos apresentados no encontro anual da Associação Americana para o
Avanço da Ciência, realizado em Washington, nos Estados Unidos, entre os dias
11 e 15 de fevereiro.
Em um dos
estudos, realizado por pesquisadores do Fred Hutchinson Cancer Research Centre,
nos Estados Unidos, 26 pacientes com leucemia linfoblástica aguda em estado
terminal, que não haviam respondido aos tratamentos tradicionais, foram
submetidos à terapia. No ensaio, “células-T assassinas”, que agem destruindo
tecidos infectados em nosso corpo, foram retiradas dos pacientes. Em seguida,
elas foram modificadas geneticamente para projetar um novo mecanismo de
segmentação – com o nome técnico de “receptores quiméricos de antígenos” – que
atacasse o câncer.
Um ano e
meio após este procedimento, 24 pacientes estavam em remissão completa, ou
seja, não apresentavam mais sinais de câncer no corpo. “Estes primeiros dados
são sem precedentes. Estes pacientes não haviam respondido a nenhum tratamento
e obter tal taxa de resposta em casos tão avançados da doença é extraordinário.
Uma dose única desta terapia colocou mais do que 90% dos pacientes em remissão
completa, situação em que não se pode detectar qualquer destas células de
leucemia”, disse Stanley Riddell, principal autor do estudo.
Apesar
dos resultados animadores, especialistas ressaltam que o experimento ainda é
apenas um pequeno passo. Isso porque os efeitos colaterais deste tipo de
tratamento são gravíssimos. Os pacientes podem desenvolver síndrome de
liberação de citocinas, que pode causar febre, hipotensão e neurotoxicidade.
Dois pacientes do estudo morreram devido a tais complicações
Os
autores ressaltam que em função do estado de saúde dos pacientes, que tinham
entre dois e cinco meses de expectativa de vida antes do experimento, esses
resultados podem ser aceitáveis. Mas não seriam em caso de pacientes com
tumores mais leves. Além disso, por enquanto, a terapia mostrou-se efetiva
apenas em tumores líquidos como os de sangue. Ainda não se sabe quais seriam os
resultados em cânceres sólidos, como o de mama.
Outro
estudo envolvendo a manipulação genética de células-T também foi apresentado no
encontro e mostra que elas podem durar anos em nosso corpo. No experimento,
Chiara Bonini, hematologista do Instituto Científico São Rafael, em Milão, na
Itália, injetou uma terapia imune – que incluiu células-T – em dez pacientes
que haviam passado por transplante de medula. Exames realizados 14 anos após o
tratamento mostraram que as células-T injetadas ainda estavam no organismo dos
pacientes. Estes resultados indicam o potencial duradouro de terapias
imunológicas.
“As
células-T são como um medicamento vivo com o potencial de persistir no corpo
por toda a nossa vida. Por exemplo, quando você recebe uma vacina na infância
vocês estará protegido contra aquela doença pelo resto da vida. Por quê? Isso
acontece porque a célula-T encontra o antígeno e se ativa, ela mata o agente
patogênico. Mas ela também persiste no corpo como uma célula de memória. Agora
imagine traduzir esse efeito para a imunoterapia do câncer, ou seja, ter
células-T de memória que se lembram do câncer e estão prontos para atacá-lo
sempre que ele retornar”, explica Chiara.