Beatriz Falcão mostra exemplar do seu
livro em estante de livraria em Brasília (Foto: Raquel Morais/G1)
Escrita ajudou Beatriz Falcão a superar a doença. Série do G1 mostra
pessoas que alcançaram um sonho, superaram uma dificuldade ou mudaram de vida
em 2017.
Por Raquel
Morais, G1 DF
21/12/2017 06h00 Atualizado há 3 horas
Diagnosticada
com um câncer de mama em 2015, a brasiliense Beatriz Falcão, de 30 anos, teve
que aprender a viver sem o cabelo e o seio esquerdo, ao mesmo tempo em que
tentava lidar com os olhares de pena.
Essa
experiência, que ela um dia quis esquecer, foi eternizada no livro "Somos
Blindadas – câncer de mama sem tabu", um bem-humorado "manual de
sobrevivência" à doença, lançado neste ano.
"[O dia do
diagnóstico] foi o pior dia da minha vida, sendo bem honesta. Mas eu decidi, no
dia 21 de maio de 2015, que eu não deixaria o câncer me abalar. Eu iria usar
esse momento como algo positivo, de autoconhecimento mesmo."
Virei a página em
2017 é uma
série de reportagens do G1 que vai
contar histórias de pessoas que, como Beatriz, superaram uma dificuldade,
realizaram um sonho ou mudaram de vida neste ano que termina.
A suspeita da
doença partiu da mãe dela, que é neuropediatra e notou, por causa de um decote,
que a filha tinha um nódulo na mama esquerda. Formada em letras, Beatriz dava
aulas de francês e fazia revisão de textos, em um ritmo de trabalho sempre
acelerado.
"Imaginei,
de imediato, a careca. Eu tinha um cabelo na cintura. Foi a primeira imagem que
veio [à cabeça]", conta Beatriz.
"Eu não
conseguia ouvir mais nada que a médica falava. Só ouvia a palavra câncer,
câncer, câncer. Saí um pouco do ar naquele momento."
Beatriz antes do diagnóstico, com
cabelo comprido (Foto: Arquivo pessoal)
A confirmação
de um "carcinoma ductal invasivo de alto grau" a obrigou a fazer uma
pausa. Por uma semana, até que conseguisse ter certeza de que o câncer estava
restrito à mama esquerda, a jovem, então com 28 anos, ficou "aérea".
"Eu me
obriguei a mudar de postura. Falei 'vamos enfrentar isso, Beatriz, você tem
muita vida pela frente, mil sonhos, muita coisa para conquistar, isso vai ser
só um capitulozinho da sua vida'."
A escrita
surgiu, então, como terapia. Os rascunhos ganharam espaço durante a
quimioterapia, no período pós-cirúrgico e também na fase de radioterapia.
Em "Somos
Blindadas", Beatriz lança mão dos próprios medos e memórias para dizer a
outras mulheres que manter a cabeça "boa" e adotar uma postura
positiva ajudam no tratamento. No livro, ela se expõe sem restrições.
"Eu não
conseguia parar de escrever. A moça do xerox não aguentava mais me ver, porque
toda semana eu tirava uma cópia do livro", conta, entre risos.
"A minha
história está aqui", emenda, apontando para um exemplar. "Quando eu
estava escrevendo, eu pensava no que a Beatriz poderia enxergar de positivo
nisso tudo. A escrita foi a minha forma de enxergar uma maneira positiva de
passar por aquilo."
Como sobreviver ao câncer?
O livro de
Beatriz é dividido em três partes, todas ilustradas com fotos da jovem.
No primeiro
momento, ela fala sobre a importância da "blindagem" e de como uma
mulher com câncer de mama pode se fortalecer para o tratamento.
A ajuda dos
amigos, a busca pela espiritualidade, a boa alimentação e a prática de
exercícios físicos, diz ela, são essenciais durante o processo.
Na segunda
parte da obra, Beatriz fala sobre sua experiência com a quimioterapia e a
radioterapia e, ainda, sobre a cirurgia de retirada da mama. Ela também
"ensina" outras pacientes a lidarem com os olhares de pena.
"Foram
muitas as situações, principalmente quando eu usava lencinho e estava sem
sobrancelha e sem cílios", conta.
"São
muitos os olhares de pena quando você está sem as suas molduras
estéticas", diz Beatriz.
"Eu saí
careca para restaurante, para balada, para o laboratório onde eu tirava sangue
toda semana. As pessoas encaravam."
Beatriz conta
que não conseguiu se adaptar à peruca e que, ao longo do tratamento, foi
descobrindo como lidar com cada nova fase do cabelo.
“As nossas
madeixas têm estágios de crescimento: cabelinho de recém-nascido no primeiro
mês, look de guerra com dois meses e Halle Berry em uns seis, sete meses”,
escreveu.
“Para cobrir
toda a cabeça, são aproximadamente três meses após a última dose de
quimioterapia. Em um ano e meio, o cabelo está na altura do queixo, meio
repicado, à la Chitãozinho e Xororó", completou.
'Eu saía careca', conta Beatriz (Foto:
Arquivo pessoal)
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