quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Virei a página em 2017: jovem vence câncer de mama e escreve 'manual de sobrevivência' bem-humorado


Beatriz Falcão mostra exemplar do seu livro em estante de livraria em Brasília (Foto: Raquel Morais/G1)

Escrita ajudou Beatriz Falcão a superar a doença. Série do G1 mostra pessoas que alcançaram um sonho, superaram uma dificuldade ou mudaram de vida em 2017.


Por Raquel Morais, G1 DF
21/12/2017 06h00  Atualizado há 3 horas

Diagnosticada com um câncer de mama em 2015, a brasiliense Beatriz Falcão, de 30 anos, teve que aprender a viver sem o cabelo e o seio esquerdo, ao mesmo tempo em que tentava lidar com os olhares de pena.

Essa experiência, que ela um dia quis esquecer, foi eternizada no livro "Somos Blindadas – câncer de mama sem tabu", um bem-humorado "manual de sobrevivência" à doença, lançado neste ano.
"[O dia do diagnóstico] foi o pior dia da minha vida, sendo bem honesta. Mas eu decidi, no dia 21 de maio de 2015, que eu não deixaria o câncer me abalar. Eu iria usar esse momento como algo positivo, de autoconhecimento mesmo."

Virei a página em 2017 é uma série de reportagens do G1 que vai contar histórias de pessoas que, como Beatriz, superaram uma dificuldade, realizaram um sonho ou mudaram de vida neste ano que termina.

A suspeita da doença partiu da mãe dela, que é neuropediatra e notou, por causa de um decote, que a filha tinha um nódulo na mama esquerda. Formada em letras, Beatriz dava aulas de francês e fazia revisão de textos, em um ritmo de trabalho sempre acelerado.

"Imaginei, de imediato, a careca. Eu tinha um cabelo na cintura. Foi a primeira imagem que veio [à cabeça]", conta Beatriz.

"Eu não conseguia ouvir mais nada que a médica falava. Só ouvia a palavra câncer, câncer, câncer. Saí um pouco do ar naquele momento."


Beatriz antes do diagnóstico, com cabelo comprido (Foto: Arquivo pessoal)

A confirmação de um "carcinoma ductal invasivo de alto grau" a obrigou a fazer uma pausa. Por uma semana, até que conseguisse ter certeza de que o câncer estava restrito à mama esquerda, a jovem, então com 28 anos, ficou "aérea".

"Eu me obriguei a mudar de postura. Falei 'vamos enfrentar isso, Beatriz, você tem muita vida pela frente, mil sonhos, muita coisa para conquistar, isso vai ser só um capitulozinho da sua vida'."
A escrita surgiu, então, como terapia. Os rascunhos ganharam espaço durante a quimioterapia, no período pós-cirúrgico e também na fase de radioterapia.

Em "Somos Blindadas", Beatriz lança mão dos próprios medos e memórias para dizer a outras mulheres que manter a cabeça "boa" e adotar uma postura positiva ajudam no tratamento. No livro, ela se expõe sem restrições.

"Eu não conseguia parar de escrever. A moça do xerox não aguentava mais me ver, porque toda semana eu tirava uma cópia do livro", conta, entre risos.

"A minha história está aqui", emenda, apontando para um exemplar. "Quando eu estava escrevendo, eu pensava no que a Beatriz poderia enxergar de positivo nisso tudo. A escrita foi a minha forma de enxergar uma maneira positiva de passar por aquilo."

Como sobreviver ao câncer?
O livro de Beatriz é dividido em três partes, todas ilustradas com fotos da jovem.
No primeiro momento, ela fala sobre a importância da "blindagem" e de como uma mulher com câncer de mama pode se fortalecer para o tratamento.

A ajuda dos amigos, a busca pela espiritualidade, a boa alimentação e a prática de exercícios físicos, diz ela, são essenciais durante o processo.

Na segunda parte da obra, Beatriz fala sobre sua experiência com a quimioterapia e a radioterapia e, ainda, sobre a cirurgia de retirada da mama. Ela também "ensina" outras pacientes a lidarem com os olhares de pena.

"Foram muitas as situações, principalmente quando eu usava lencinho e estava sem sobrancelha e sem cílios", conta.

"São muitos os olhares de pena quando você está sem as suas molduras estéticas", diz Beatriz.

"Eu saí careca para restaurante, para balada, para o laboratório onde eu tirava sangue toda semana. As pessoas encaravam."

Beatriz conta que não conseguiu se adaptar à peruca e que, ao longo do tratamento, foi descobrindo como lidar com cada nova fase do cabelo.

“As nossas madeixas têm estágios de crescimento: cabelinho de recém-nascido no primeiro mês, look de guerra com dois meses e Halle Berry em uns seis, sete meses”, escreveu.

“Para cobrir toda a cabeça, são aproximadamente três meses após a última dose de quimioterapia. Em um ano e meio, o cabelo está na altura do queixo, meio repicado, à la Chitãozinho e Xororó", completou.



'Eu saía careca', conta Beatriz (Foto: Arquivo pessoal)

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