Células com câncer (CIPhotos/Thinkstock)
Raios laser microscópicos podem destruir as células
responsáveis pela metástase, dizem cientistas. Entenda a descoberta
Por Claudia Gasparini access_time 17 set 2017, 16h14 -
Publicado em 17 set 2017, 15h21 more_horiz
São Paulo — A guerra contra o câncer pode ganhar, em breve,
um exército de pequenos (mas poderosos) aliados: raios laser minúsculos capazes
de atrapalhar a disseminação de células cancerosas pelo organismo.
Capaz de revolucionar o tratamento da doença, a descoberta
foi divulgada por Vladimir Zharov, da Universidade do Arkansas, e Mark
Stockman, da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos.
Segundo a revista “The Economist”, os pesquisadores têm
testado a hipótese de que uma “chuva” de raios microscópicos pode buscar e
destruir células tumorais circulantes (CTC).
As CTCs se originam do tumor primário e, caso sejam negligenciadas,
podem se alojar em diversas partes do corpo e desenvolver cânceres secundários.
O processo é conhecido como metástase.
O laser microscópico usado nos testes de Zharov e Stockman
foi batizado como “spaser”, uma abreviação de “Surface-Plasmon Amplification by
Stimulated Emission of Radiation” — em tradução livre, amplificação de plásmons
de superfície por emissão estimulada de radiação.
Os tais “plásmons de superfície” são nuvens de elétrons que
oscilam em uma superfície condutora elétrica, e são produzidas em resposta ao
estímulo da luz.
Como os raios agem?
Os spasers têm 22 nanômetros (ou bilionésimos de um metro)
de diâmetro e são compostos por um núcleo de ouro e uma capa de sílica com
corantes fluorescentes. A parte externa do dispositivo também contém ácido
fólico.
Esse último componente serve como uma bússola para encontrar
a disseminação da doença. Ao contrário das células saudáveis, as células da
metástase normalmente são recobertas por moléculas receptoras de folato.
Revestido por ácido fólico, o spaser “gruda” nessas células e acaba sendo
absorvido por elas.
O próximo passo é identificá-las. Ao lançar uma luz laser de
baixa potência sobre o organismo do paciente com câncer, é possível ver as
células cancerosas unidas aos spasers brilharem. Isso ajuda a revelar sua
localização.
Quando se aplica um laser mais forte, os pequenos
dispositivos se transformam em armas destrutivas: estimulados pela luz, eles
produzem plásmons que ganham temperatura, criam bolhas de vapor e finalmente
explodem as células.
O sistema tem sido testado em animais, com resultados
promissores. Os dois pesquisadores agora se preparam para fazer experimentos
com seres humanos. Se tudo der certo, eventuais cânceres secundários poderão
ser contidos enquanto se luta contra o câncer principal.
Ainda não há como determinar quão completa seria a
destruição de CTCs causada pelos raios. Porém, até uma eliminação parcial
dessas células pode ajudar a inibir a metástase e, assim, contribuir
decisivamente para o tratamento.
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