terça-feira, 20 de novembro de 2018

Como falar sobre o câncer com filhos e netos


ConversaSobre o câncer: crianças percebem quando há algo errado, portanto não piore a situação com uma mentira que não se sustentará por muito tempo  Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Chemotherapy#/media/File:Chemotherapy_iv.jpg


Mesmo que a notícia vá causar apreensão e angústia, não finja que está tudo bem
Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro

18/11/2018 06h00  

Além de ser um dos maiores desafios pessoais que se possa enfrentar, o câncer também traz um impacto enorme na vida familiar. Quando os filhos são adultos, supõem-se que vão reagir com maturidade e ajudar, embora nem sempre isso ocorra. Mas como abordar a questão com crianças e adolescentes? Mesmo que a notícia vá causar apreensão e angústia, não finja que está tudo bem. É o que prega a cartilha do National Cancer Institute, entidade norte-americana que é referência para a doença. Até os pequenos percebem quando há algo errado, portanto não piore a situação com uma mentira que não se sustentará por muito tempo. Também não se afaste de seus netos, nem deixe que seus filhos interrompam essa convivência, a não ser quando estiver cansado/a demais por causa do tratamento. Todos poderão ter que assumir novos papéis e responsabilidades, é fundamental abordar o problema abertamente.

O que as crianças devem saber: em primeiro lugar, que não têm qualquer culpa – o câncer não aconteceu por causa de algo que fizeram ou disseram. Explique que estar doente não significa que você vai morrer e que, além disso, os cientistas trabalham para descobrir novos remédios para combater a doença. Faça com que entendam que é normal se sentir triste, zangado ou com medo, que os sentimentos não precisam ser reprimidos e devem ser compartilhados. Em alguns casos, a criança pode se ressentir de não receber a mesma atenção de antes e apresentar regressão no comportamento, ou ir mal na escola. Não se furte de pedir auxílio em casa: filhos ou netos podem lavar a louça, arrumar seus quartos ou simplesmente fazer companhia. Como os adolescentes podem se retrair, sugira que conversem com outras pessoas do seu círculo: amigos ou adultos que possam dar esclarecimentos. Não deixe que se sintam excluídos e, na medida do possível, faça com que participem das decisões.

Voltando aos filhos que são adultos, principalmente aqueles que sempre viram pai e mãe como autênticas fortalezas à prova de qualquer intempérie: às vezes também é difícil para os pais pedirem ajuda, esse é um aprendizado para os dois lados. Eles devem ficar cientes do tratamento, dos medicamentos e efeitos colaterais, para que tenham a real dimensão do tempo e cuidado que devem dispensar. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima que, entre 2018 e 2019, o Brasil tenha 1,2 milhão de novos casos de câncer. Apesar de tantas emoções envolvidas, pense em suas diretivas antecipadas de vontade: como gostaria de ser cuidado pela equipe médica se a doença evoluir para um quadro incurável e terminal. Embora 90% das pessoas digam que é importante conversar com os familiares sobre os cuidados no fim da vida, apenas 27% afirmam tê-lo feito.

https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2018/11/18/como-falar-sobre-o-cancer-com-filhos-e-netos.ghtml

domingo, 4 de novembro de 2018

Após terapia experimental, médicos dizem que mulher em estágio terminal está livre do câncer



Direito de imagemARQUIVO PESSOAL Image caption Judy Perkins recebera o prognóstico de que viveria apenas três meses, mas tratamento experimental lhe permitiu não apenas sobrerviver, mas viajar e praticar canoagem (Foto: Arquivo Pessoal)

Judy Perkins havia recebido o prognóstico de que viveria apenas três meses mais; dois anos depois, ela vive com saúde graças a dose de 90 bilhões de suas próprias células, uma iniciativa que ainda precisa ser testada em grande escala.
Por BBC
04/06/2018 18h22  Atualizado há 13 horas

A vida de uma mulher com câncer de mama em estágio considerado terminal foi salva por um tratamento pioneiro, que consiste na aplicação de 90 bilhões de células imunológicas cujo objetivo é combater o tumor.

Segundo pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer, nos EUA, o tratamento ainda é experimental, mas pode ter efeito transformador em todas as terapias de combate ao câncer.

A mulher em questão é a americana Judy Perkins, 49 anos, que havia recebido, dois anos atrás, o prognóstico de que teria apenas três meses de vida restantes. A moradora da Flórida tinha câncer de mama em estágio avançado, que estava se espalhando - já havia tumores do tamanho de uma bola de tênis em seu fígado e em outras partes do corpo - e não havia mais perspectiva com tratamentos convencionais.

Hoje, porém, não há vestígios do câncer em seu corpo, segundo médicos. E Judy tem aproveitado a vida viajando e praticando canoagem.

"Cerca de uma semana depois (do tratamento pioneiro), eu comecei a sentir algo. Eu tinha um tumor no peito e conseguia senti-lo encolher", diz Judy à BBC. "Uma ou duas semanas depois, ele desapareceu."

Ela lembra que, ao fazer o primeiro exame após passar pelo tratamento, viu a equipe médica "saltitando de empolgação".
Foi quando ela soube que teria uma chance de cura.

'Droga viva'
O tratamento a que Judy foi submetido consiste em uma "droga viva", feita a partir das próprias células dela, em um dos centros de referência de pesquisa de câncer do mundo.

"É o tratamento mais altamente personalizado que se possa imaginar", diz à BBC o médico Steven Rosenberg, chefe de cirurgias no Instituto Nacional do Câncer dos EUA.

A terapia ainda dependerá de uma grande quantidade de testes até que possa ser amplamente usada, mas começa da seguinte forma: o tumor do paciente é analisado geneticamente, para que sejam identificadas as raras mutações que podem tornar o câncer visível ao sistema imunológico do corpo – e que podem, portanto, ser formas de combater os tumores.

No caso de Judy, das 62 anormalidades genéticas do seu câncer, apenas quatro eram potencialmente atacáveis pelo sistema imunológico.

Na verdade, o sistema imunológico já está, naturalmente, combatendo os tumores, mas está perdendo as batalhas.

Por isso, o passo seguinte dos pesquisadores é analisar os glóbulos brancos (as células imunológicas do corpo) para extrair as que são capazes de atacar o tumor.

Essas células serão, então, reproduzidas em enormes quantidades em laboratório.
Judy recebeu 90 bilhões de suas próprias células, junto com medicamentos que "retiram os freios" do sistema imunológico.

Com isso, "as mesmas mutações que provocam o câncer acabam se tornando seu calcanhar de Aquiles", diz Rosenberg.

'Mudança de paradigma'
Vale lembrar, porém, que os resultados animadores vêm por enquanto desse único caso isolado, e pesquisas em populações maiores serão necessárias para confirmar a validade do tratamento.
O desafio, até agora, na terapia imunológica contra o câncer é que ela às vezes funciona muitíssimo bem em alguns pacientes, mas sem beneficiar a maioria dos doentes.

"(O tratamento) é altamente experimental, e estamos apenas começando a aprender a aplicá-lo, mas potencialmente ele vale para qualquer câncer", afirma Rosenberg.

"Ainda há muito trabalho a fazer, mas há potencial para uma mudança de paradigma no tratamento de câncer - uma droga sob medida para cada paciente. É muito diferente de qualquer outro tratamento."

Os detalhes do caso de Judy Perkins foram publicados no periódico "Nature Medicine".
Para o médico Simon Vincent, diretor de pesquisas da organização Breast Cancer Now, os resultados são "extraordinários".

"É a primeira oportunidade de ver esse tipo de imunoterapia (agindo) contra o tipo mais comum de câncer de mama", diz ele.
"Potencialmente, pode-se abrir uma área completamente nova de tratamento para um grande número de pessoas."


Nobel de Medicina premia americano e japonês por terapia contra o câncer


O japonês Tasuku Honjo e o americano James P. Allison, que dividem o Nobel de Medicina 2018 — Foto: Ryosuke Ozawa/Kyodo News via AP e Christoph Schmidt/dpa via AP
James P. Allison e Tasuku Honjo ganharam o prêmio de R$4 milhões nesta segunda-feira (01). Os cientistas descobriram um tipo de terapia contra o câncer que faz com que células de defesa do organismo voltem a atacar tumores.
Por Lara Pinheiro
01/10/2018 06h33  Atualizado há 20 minutos

James P. Allison e Tasuku Honjo são os ganhadores do Prêmio Nobel 2018 de Medicina. A Academia Sueca anunciou nesta segunda-feira (01) que o americano e o japonês irão dividir o prêmio de 9 milhões de coroas suecas, equivalente a R$ 4.098.402.

Os dois desenvolveram pesquisas, separadamente, sobre duas proteínas produzidas por tumores — a CTLA-4 e a PD-1 — que paralisam o sistema imune do paciente durante o tratamento de câncer.

"Os tumores produzem as proteínas, chamadas de checkpoints, que bloqueiam o linfócito T, que é a célula mais importante do sistema imune que ataca o tumor. Essas drogas [pesquisadas] retiram esse bloqueio e recuperam o poder de ataque dos linfócitos que estavam paralisados por essas proteínas", explica o oncologista Fernando Maluf, diretor associado do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

O imunologista James P. Allison, 70, da Universidade do Texas, estudou a proteína CTLA-4. Ele descobriu que um bloqueio da proteína poderia retirar o freio sobre os linfócitos T, fazendo com que as células voltassem a atacar o tumor. Em 1994, Allison realizou o primeiro experimento em ratos, que ficaram curados após o tratamento.

Em 2010, um estudo clínico mostrou efeitos "impressionantes", segundo a Academia sueca, em pacientes com melanoma (um tipo de câncer de pele) avançado, que não haviam sido observados antes.

Já o imunologista Tasuku Honjo, 76, da Universidade de Kyoto, no Japão, estudou uma outra proteína, a PD-1, que também atuava sobre os linfócitos T, só que de forma diferente. Após experimentos em laboratório, um estudo realizado em 2012 também demonstrou eficácia em tratar pacientes com diversos tipos de câncer.