Campanha do Março Lilás faz alerta sobre a prevenção da
doença, que está entre as principais causas de morte por tumor entre mulheres
no Brasil, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer)
SAÚDE | Hysa Conrado, do R7
15/03/2022 - 02H00
Infecção por HPV pode ser identificada antes de causar o
câncer de colo de útero
Infecção por HPV pode ser identificada antes de causar o
câncer de colo de útero
FREEPIK
O câncer do colo de útero pode ser uma doença silenciosa no
início, mas ocupa a quarta posição no ranking de tumores que mais matam
mulheres no Brasil, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Além disso,
com exceção do câncer de pele, é o terceiro mais comum entre as mulheres.
A alta incidência está associada ao HPV, vírus sexualmente
transmissível responsável pela infecção que causa o câncer na região, que
infecta pelo menos 80% das mulheres com vida sexual ativa, de acordo com o
Inca.
O ginecologista Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês e
do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, explica que, apesar de ser o
principal responsável pela doença, nem todos os tipos de HPV são considerados
oncogênicos, isto é, com potencial para causar o câncer.
“Como qualquer vírus, ele inclui seu material genético na
célula e utiliza os aparelhos internos da célula para produzir novos vírus.
Alguns desses HPVs – existem mais de 200 tipos diferentes – acabam alterando a
forma como as células lêem o DNA e essa alteração pode transformá-la em uma
célula de câncer que passa a se replicar de maneira desordenada”, explica o
médico.
Pupo destaca que o simples fato de ter o vírus no corpo não
quer dizer que a mulher possa desenvolver o câncer. Para isso, é necessário,
além de que esse HPV seja do tipo oncogênico, que a infecção seja recorrente e
persista ao longo de anos.
Cólicas menstruais intensas podem ser sintoma de
endometriose
Além disso, se identificada em estágio inicial por meio de
exames preventivos como o Papanicolau, a infecção pode ser tratada antes que se
transforme em um tumor.
“Com o tempo, esse HPV causa uma pequena alteração celular,
muitas vezes identificada pelo Papanicolau, que é uma lesão não visível a olho
nu. Em um primeiro momento, não é necessário fazer nada, apenas acompanhá-la e
esse quadro pode se reverter sozinho. Se isso não acontecer em um prazo de um a
dois anos, é possível cauterizar ou de alguma forma fazer uma destruição dessas
células”, explica o ginecologista.
No entanto, se nada for feito para tratar essa lesão ou
mesmo se ela passar despercebida pelos exames preventivos, ela pode evoluir
ainda para dois estágios antes de se transformar em um tumor maligno com
potencial para invadir outras células.
“O [terceiro estágio] já é considerado um carcinoma e é
obrigatoriamente cirúrgico. O médico deve remover o fragmento do colo do útero
que está doente e examinar no laboratório para confirmar se não há outro lugar
em que a célula já não esteja invadindo”, explica Pupo.
Sintomas e tratamento
Os principais sintomas do câncer de colo do útero são
sangramento durante e após a relação sexual, e corrimento com odor fétido e de
aspecto sanguinolento. No entanto, antes dessas manifestações, as pequenas
lesões causadas pelo HPV são possíveis de identificar por meio do exame de
Papanicolau.
Caso o diagnóstico seja feito de forma tardia e a lesão já
tenha se transformado em um câncer, o tratamento vai depender da evolução do
tumor e do tamanho em que ele se encontra. Além da remoção da parte adoecida do
colo – ou mesmo de todo o útero – por meio da cirurgia, também pode ser necessário que a paciente
passe por tratamentos quimioterápicos.
“Há os estadiamentos do câncer, que vai de um a quatro. No
estágio três, ele está indo para o sistema linfático, no quarto ele já está
acometendo órgãos ao redor, como a bexiga, o reto e os ligamentos que seguram o
útero no lugar. Conforme o câncer cresce nessa região e se espalha, ele se
torna não operável, a cirurgia é menos eficaz do que usar o tratamento com
quimio e radioterapia”, ressalta Pupo.
Prevenção
A principal forma de prevenir este tipo de câncer é a vacina
contra o HPV, disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para meninas de 9 a
14 anos, e meninos na faixa etária entre 11 e 14 anos. O imunizante protege
contra os tipos 16 e 18 do HPV, responsáveis por 70% dos casos de câncer do
colo do útero, segundo o Inca.
“Quem é vacinado tem o risco praticamente próximo de zero em
relação ao desenvolvimento de câncer do colo do útero. Então a vacinação é
fundamental e é uma campanha mundial, porque se todo mundo se vacinar é
possível erradicar este tipo câncer”, afirma o ginecologista.
O Inca destaca que o tabagismo e o uso prolongado de pílulas
anticoncepcionais também podem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer.
Além disso, o uso de preservativo durante as relações sexuais também é
importante para frear a circular e a contaminação pelo HPV.
Somado a isto, o Ministério da Saúde recomenda a realização
dos exames ginecológicos preventivos, como o Papanicolau, para mulheres a
partir dos 25 anos de idade.
“Abaixo dessa idade é um período ainda muito precoce para
que o HPV cause alguma alteração que leve ao câncer. Temos casos esporádicos de
pacientes que evoluem para uma lesão cancerígena antes dos 25 anos, como
mulheres imunossuprimidas, seja por transplantes, seja por tratamentos
quimioterápicos, seja por HIV, por exemplo, então é importante iniciar o
acompanhamento mais cedo nesses casos”, explica Pupo. Para este grupo citado
pelo médico, a vacina também é recomendada até os 45 anos.
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