Estudo completo do genoma do câncer ajuda a catalogar, identificar e tratar a doença com mais facilidade do que nunca (Imagem: National Cancer Institute/Unsplash)Por Augusto Dala Costa | Editado por Luciana Zaramela | 26 de Abril de 2022 às 10h16
Uma equipe de pesquisadores da
Universidade de Cambridge e da Cambridge University Hospitals, no Reino Unido,
liderada pela pesquisadora-chefe Serena Nik-Ziainal, analisou os dados de DNA
anônimos do Projeto 100.000 Genomas, que junta dados de pacientes de câncer e
outras doenças raras, para mapear o genoma dos tumores de cerca de 12 mil
britânicos.
A quantidade de dados, inédita até o momento,
permitiu a descoberta de novos padrões genéticos da doença, o que revela causas
ainda pouco compreendidas pela ciência. O diagnóstico e o tratamento de câncer
poderá ser melhorado a partir do estudo, de acordo com os pesquisadores. A
publicação foi feita no periódico científico Science.
O que revela o DNA do câncer
O câncer nada mais é do que uma
corruptela das células saudáveis do nosso corpo, geradas por mutações de DNA
que modificam as células até o ponto de crescerem e se multiplicarem
desenfreadamente. A maioria delas é categorizada com base na localização do
câncer no corpo e no tipo de célula envolvida — agora, a nova pesquisa vem
trazer novos dados importantes a essa catalogação.
Apesar de ser novidade, esse
sequenciamento completo do genoma do câncer já está disponível no National
Health Service (NHS), o sistema público de saúde britânico, apenas para um
número pequeno de tumores, no entanto, o que inclui alguns de sangue. Foram
analisadas milhares de alterações genéticas em cada tumor estudado, detectando
combinações específicas de alterações genéticas — as assinaturas mutacionais —
que podem ser a chave para o desenvolvimento de todas as categorias da doença.
Segundo Serena, o estudo é uma
espécie de escavação arqueológica do câncer: os padrões ou impressões no campo
da doença — como pegadas de dinossauros, de acordo com ela — revelam o que está
acontecendo de errado. Sendo que o câncer de cada pessoa difere, saber que é
possível personalizar o relatório da doença significa que estamos um passo mais
perto de personalizar o tratamento para elas, completa a pesquisadora-chefe.
Alguns padrões conhecidos do câncer foram confirmados pela
pesquisa, e 58 novos foram descobertos: essas assinaturas dão pistas sobre a
possibilidade dos pacientes terem sido expostos a causas ambientas de câncer,
como o tabagismo, por exemplo. Outras fornecem mais dados sobre anomalias
genéticas que podem ser tratadas com medicamentos específicos, um
"calcanhar de Aquiles" de cânceres mais específicos.
Uma ferramenta
computadorizada — chamada FitMS
— também foi criada para auxiliar médicos e cientistas a
verificar assinaturas mutacionais nos pacientes de câncer e, potencialmente,
melhorar o tratamento individual da doença em cada um deles. Um exemplo já
concreto dos benefícios do estudo é caso de Aubrey, uma garotinha de dois anos
de Bedfordshire, Reino Unido, diagnosticada com a doença aos 16 meses.
O sequenciamento do genoma do câncer ajudou os médicos a
identificar o tipo da doença presente na garota, um rabdomiossarcoma,
ocorrência rara que afeta os músculos ligados à estrutura óssea. O banco de
dados ajudou os médicos a identificar que o câncer de Aubrey não foi herdado
geneticamente, o que livra a família de preocupações acerca da doença afetar
outro de seus membros, por exemplo. Os cientistas esperam ajudar cada vez mais
pacientes com mapeamentos mutacionais como este.
Fonte: Science
https://canaltech.com.br/saude/maior-analise-do-dna-do-cancer-ja-feita-revela-segredos-da-doenca-214762/
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