18 instituições brasileiras pesquisam novos caminhos e condutas para o câncer hereditário. “Estamos avançando no SUS”, diz pesquisador do Inca
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 15/05/2013 14:23:55
O caso da atriz Angelina Jolie – que declarou ter retirado as mamas para tentar se proteger do desenvolvimento de um câncer na região – é só um dos exemplos de como a medicina genética pode revolucionar os tratamentos de saúde e as condutas preventivas, em especial na área oncológica.
Jolie foi submetida a um mapeamento dos genes pelo fato da mãe ter morrido aos 56 anos em decorrência da doença. A análise mostrou mutações nos dois genes (BRCA1 e BRCA2) que a ciência já descobriu estarem associados a um risco aumentado de até 85% de chance ter a doença.
Esta possibilidade de prever riscos – e mensurar em números a probabilidade das doenças – é um dos caminhos apontados por uma área da medicina conhecida como oncogenética. Atualmente, o Brasil já tem uma rede composta por 18 centros de referência e assistência, espalhados pelo País, que investigam as condutas terapêuticas para estes casos hereditários, transmitidos de pai para filho.
Ligada ao Instituto Nacional do Câncer (Inca) e apoiada pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a rede tem como objetivos principais o aconselhamento genético de pacientes considerados de alto risco (que têm parentes próximos, como pais e irmãos, com a doença), a realização de exames em laboratório, o desenvolvimento de pesquisas e a manutenção de um banco de tumores hereditários.
“Estamos avançando nas pesquisas no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde) para caminhar nesta direção da medicina personalizada contra o câncer”, afirma o médico e pesquisador do Inca, José Bines. O pesquisador ressalta que a maior parte dos cânceres é provocada por fatores de risco externos, como tabagismo, obesidade e o sedentarismo, entre outros.
“No câncer de mama, por exemplo, apenas 5% dos casos são hereditários. O restante, 95%, é provocado por múltiplas causas e, por vezes, as razões são associadas”, diz Bines.
“A neoplasia mamária é diferente do câncer de pulmão, por exemplo. Sabemos que, se o tabagismo desaparecesse do mundo, os tumores malignos neste órgão respiratório se tornariam uma doença rara. Para o câncer de mama, não há como falar em causa principal.”
Mesmo em situações em que a causa do câncer não é muito bem estabelecida, afirma Bines, a oncogenética também é importante. Isso porque os ensaios científicos buscam encontrar tratamentos mais individualizados. A proposta não é somente traçar condutas preventivas, mas também terapêuticas.
Como exemplo, os cientistas citam a busca por medicamentos mais certeiros, que ataquem a região doente, com menos danos colaterais e menos comprometimento do organismo, prescritos com base nas características individuais de cada paciente.
Não é regra
Os especialistas reforçam: o fato de ter casos de câncer na família não significa probabilidade de 100% de ter a doença. Mas o histórico familiar deve ser discutido com o médico para, nas situações indicadas, fazer o aconselhamento genético, ponderar a periodicidade de exames e, por vezes, até indicar cirurgias para diminuir riscos.
Novos caminhos
Ainda são muitos desafios para a medicina genética virar realidade no Brasil, aplicada de forma universal. Uma das fronteiras, diz Marcelo Sampaio, cirurgião plástico do hospital Sírio Libanês, unidade privada que é referência na área, é o preço.
“A própria Angelina Jolie disse em entrevista que pagou algo como 3 mil dólares para fazer a avaliação genética”, diz Sampaio.
“No Brasil, alguns centros de excelência já fazem este procedimento, como é o caso do Sírio, mas os altos valores ainda são um entrave para o acesso”, complementa.
Por ora, a recomendação universal para prevenir o câncer, de qualquer tipo, é manter uma rotina saudável e fazer exames de rotina, que ampliam as chances de detecção precoce da doença e aumentam a possibilidade de cura do câncer.
Para quem tem na árvore genealógica parentes próximos com tumores malignos, os cuidados são ainda mais imprescindíveis. A medicina ainda não consegue, no entanto, garantir o “risco zero” de câncer.
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