Cientistas são céticos sobre 'pílula da USP',
mas há defensores do seu uso
DÉBORA MACHADO
ANDRADE
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE OXFORD
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE OXFORD
A existência de uma
pílula milagrosa, capaz de curar todos os tipos de câncer, é vista com muita
desconfiança pela comunidade científica internacional. A razão é que existem
quase 200 tipos de câncer, cada um com diferentes mecanismos.
É por isso que
existe tanto ceticismo com relação à "fosfo", como é conhecida a
"pílula do câncer" desenvolvida por pesquisadores da USP de São Carlos,
interior de SP.
"Se essa droga
supostamente funciona em todos os cânceres, como cientista eu diria: pode me
explicar como?", diz Steve Jackson, professor da Universidade de
Cambridge, no Reino Unido.
Ele é inventor da
droga anticâncer olaparibe (comercializada em 15 países sob o nome LynparzaTM e
que aguarda aprovação no Brasil).
"A triste
verdade é que é improvável que [a fosfoetanolamina] seja milagrosa",
escreveram os editores da revista científica "Nature".
Fato: os primeiros
testes de caracterização e síntese da "pílula do câncer", divulgados
no último dia 21, mostram baixo grau de pureza e pouco ou nenhum efeito sobre células
tumorais. Os resultados foram divulgados pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia.
A droga ainda passará
por estudos clínicos conduzidos com a participação do Icesp (Instituto de Câncer
do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira). "Espero ter algumas
respostas nos próximos seis meses", diz Paulo Hoff, diretor do instituto.
A Câmara dos
Deputados e o Senado já aprovaram um projeto de lei que permite que todos os
pacientes de câncer tenham acesso à substância.
O Canadá também vive
o fenômeno de uma "pílula do câncer". Chama-se dicloroacetato de sódio
(DCA) e surgiu a partir de pesquisa na Universidade de Alberta.
O DCA é usado há
anos para tratar doenças metabólicas raras. O grupo canadense descobriu que ele
teria potencial antitumoral em uma vasta gama de cânceres.
A descoberta foi em
2007. O oncologista Akbar Khan, de Toronto, disse à Folha que um de seus pacientes,
com câncer em estágio avançado, propôs o DCA como alternativa. Ele revisou o
estudo da equipe de Alberta e decidiu dar a droga a seus pacientes.
Após longo processo
judicial, ficou determinado que médicos poderiam prescrever o DCA, desde que o
paciente já tivesse esgotado as possibilidades de tratamento convencional.
"Observamos alguma melhora em dois terços dos pacientes", diz Khan.
Testes com ‘pílula do
câncer’ apontam pouco efeito em células tumorais
Dados foram divulgados na última semana pelo governo
federal
Dados foram divulgados na última semana pelo governo federal
SÃO PAULO -
Pesquisa divulgada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),
feita com fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer” e produzida pelo
Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP),
indica que a substância não apresenta nenhuma atividade citotóxica nem
antiproliferativa, ou seja, é incapaz de destruir células infectadas por vírus,
bactérias ou outros parasitas.
De acordo com o
laudo técnico, o objetivo dos testes era verificar o potencial
antiproliferativo in vitro da fosfoetanolamina sintética (FS) e da fosfoetanolamina
sintética nanoencapsulada (FSNE), em três tipos de células tumorais e dois de
células não tumorais, além de verificar o potencial hemolítico destes
compostos.
Relatório divulgado
no site do MCTI, na última semana, explica que foi avaliada a atividade
citotóxica e antiproliferativa dos principais compostos presentes nas análises
químicas da amostra fosfoetanolamina produzida por Salvador Claro Neto, da USP
de São Carlos, sobre células humanas de carcinoma de pâncreas e melanoma in vitro. Foram empregadas
três diferentes metodologias para avaliar a possível ação antitumoral com cada
uma dessas substâncias.
Os resultados
descritos no relatório parcial demostram que somente a monoetanolamina
apresentou atividade citotóxica e antiproliferativa, mas em alta concentração e
menos potente que os antitumorais Cisplatina e Gencitabina, utilizados como
controle positivo. Os dados observam ainda que tanto a fosfoetanolamina
sintética como a fosfoetanolamina sintética nanoencapsulada somente apresentam
atividade citotóxica em concentrações elevadas.
Ainda segundo o
documento, dentre o total de 60 cápsulas provenientes do IQSC-USP e
encaminhadas pelo MCTI, 16 foram abertas e pesadas. Elas continham entre 233 mg
e 368 mg, sendo que a informação contida no rótulo era de fosfoetanolamina
sintética 500mg. Relatório informou também que as cápsulas continham apenas
32,2% de fosfoetanolamina na composição.
O MCTI explica que
os testes foram realizados entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, após
grande repercussão em cima da produção e distribuição da fosfoetanolamina para
fins terapêuticos no tratamento do câncer. Foram nove reuniões, conta a pasta,
com a participação de pesquisadores, órgãos de governo e parlamentares. O órgão
afirma que foi mobilizado um grupo de pesquisadores no intuito de avaliar a
segurança e eficácia da substância, por meio de análise química, pré-clínica e
clínica, prevendo investimento de até R$ 10 milhões, liberados por meio do
CNPq, para custear as etapas iniciais das pesquisas.
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