quinta-feira, 31 de março de 2016

Pílula do Câncer


Cientistas são céticos sobre 'pílula da USP', mas há defensores do seu uso

DÉBORA MACHADO ANDRADE 
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE OXFORD
A existência de uma pílula milagrosa, capaz de curar todos os tipos de câncer, é vista com muita desconfiança pela comunidade científica internacional. A razão é que existem quase 200 tipos de câncer, cada um com diferentes mecanismos.
É por isso que existe tanto ceticismo com relação à "fosfo", como é conhecida a "pílula do câncer" desenvolvida por pesquisadores da USP de São Carlos, interior de SP.
"Se essa droga supostamente funciona em todos os cânceres, como cientista eu diria: pode me explicar como?", diz Steve Jackson, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Ele é inventor da droga anticâncer olaparibe (comercializada em 15 países sob o nome LynparzaTM e que aguarda aprovação no Brasil).
"A triste verdade é que é improvável que [a fosfoetanolamina] seja milagrosa", escreveram os editores da revista científica "Nature".
Fato: os primeiros testes de caracterização e síntese da "pílula do câncer", divulgados no último dia 21, mostram baixo grau de pureza e pouco ou nenhum efeito sobre células tumorais. Os resultados foram divulgados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
A droga ainda passará por estudos clínicos conduzidos com a participação do Icesp (Instituto de Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira). "Espero ter algumas respostas nos próximos seis meses", diz Paulo Hoff, diretor do instituto.
A Câmara dos Deputados e o Senado já aprovaram um projeto de lei que permite que todos os pacientes de câncer tenham acesso à substância.
O Canadá também vive o fenômeno de uma "pílula do câncer". Chama-se dicloroacetato de sódio (DCA) e surgiu a partir de pesquisa na Universidade de Alberta.
O DCA é usado há anos para tratar doenças metabólicas raras. O grupo canadense descobriu que ele teria potencial antitumoral em uma vasta gama de cânceres.
A descoberta foi em 2007. O oncologista Akbar Khan, de Toronto, disse à Folha que um de seus pacientes, com câncer em estágio avançado, propôs o DCA como alternativa. Ele revisou o estudo da equipe de Alberta e decidiu dar a droga a seus pacientes.
Após longo processo judicial, ficou determinado que médicos poderiam prescrever o DCA, desde que o paciente já tivesse esgotado as possibilidades de tratamento convencional. "Observamos alguma melhora em dois terços dos pacientes", diz Khan.

Testes com ‘pílula do câncer’ apontam pouco efeito em células tumorais
Dados foram divulgados na última semana pelo governo federal 

SÃO PAULO - Pesquisa divulgada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), feita com fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer” e produzida pelo Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP), indica que a substância não apresenta nenhuma atividade citotóxica nem antiproliferativa, ou seja, é incapaz de destruir células infectadas por vírus, bactérias ou outros parasitas.

De acordo com o laudo técnico, o objetivo dos testes era verificar o potencial antiproliferativo in vitro da fosfoetanolamina sintética (FS) e da fosfoetanolamina sintética nanoencapsulada (FSNE), em três tipos de células tumorais e dois de células não tumorais, além de verificar o potencial hemolítico destes compostos.

Relatório divulgado no site do MCTI, na última semana, explica que foi avaliada a atividade citotóxica e antiproliferativa dos principais compostos presentes nas análises químicas da amostra fosfoetanolamina produzida por Salvador Claro Neto, da USP de São Carlos, sobre células humanas de carcinoma de pâncreas e melanoma in vitro. Foram empregadas três diferentes metodologias para avaliar a possível ação antitumoral com cada uma dessas substâncias.

Os resultados descritos no relatório parcial demostram que somente a monoetanolamina apresentou atividade citotóxica e antiproliferativa, mas em alta concentração e menos potente que os antitumorais Cisplatina e Gencitabina, utilizados como controle positivo. Os dados observam ainda que tanto a fosfoetanolamina sintética como a fosfoetanolamina sintética nanoencapsulada somente apresentam atividade citotóxica em concentrações elevadas.

Ainda segundo o documento, dentre o total de 60 cápsulas provenientes do IQSC-USP e encaminhadas pelo MCTI, 16 foram abertas e pesadas. Elas continham entre 233 mg e 368 mg, sendo que a informação contida no rótulo era de fosfoetanolamina sintética 500mg. Relatório informou também que as cápsulas continham apenas 32,2% de fosfoetanolamina na composição.

O MCTI explica que os testes foram realizados entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, após grande repercussão em cima da produção e distribuição da fosfoetanolamina para fins terapêuticos no tratamento do câncer. Foram nove reuniões, conta a pasta, com a participação de pesquisadores, órgãos de governo e parlamentares. O órgão afirma que foi mobilizado um grupo de pesquisadores no intuito de avaliar a segurança e eficácia da substância, por meio de análise química, pré-clínica e clínica, prevendo investimento de até R$ 10 milhões, liberados por meio do CNPq, para custear as etapas iniciais das pesquisas.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/testes-com-pilula-do-cancer-apontam-pouco-efeito-em-celulas-tumorais-18929169#ixzz43d6LRNwv 
© 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário