Se não houver melhora nas políticas públicas, a mortalidade pela doença
será maior do que por problemas cardiovasculares
Por: Estadão Conteúdo
15/08/2016 -
11h06min | Atualizada em 15/08/2016 - 11h06min
Se as políticas públicas de
prevenção, detecção e tratamento do câncer não forem aprimoradas, a doença se
tornará, em 2029, a principal causa de mortalidade no Brasil, superando as
doenças cardiovasculares, como infarto e AVC. Essa é a conclusão de um estudo
feito pelo Observatório de Oncologia, plataforma de análise de dados criada
pelo movimento Todos Juntos Contra o Câncer, liderado pela Associação
Brasileira de Leucemia e Linfoma (Abrale).
Com base nas taxas de mortalidade por
câncer e problemas cardiovasculares do período entre 2000 e 2013 e nos dados de
projeção da população do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística
(IBGE), os pesquisadores fizeram uma estimativa do número de óbitos pelos dois
grupos de doenças.
— Observamos que a curva de
crescimento das mortes por câncer estava mais inclinada do que a das doenças
cardiovasculares e isso indica que, provavelmente, em algum momento, elas vão
se cruzar. Fizemos análise preditiva do período até 2040 e chegamos ao dado de que,
em 2029, o câncer passará a ser a maior causa de mortalidade — explica Hellen
Matarazzo, gerente de ensino e pesquisa da Abrale.
De acordo com a estimativa, naquele
ano, a taxa de mortalidade por tumores será de 115 por 100 mil habitantes,
enquanto o índice de óbitos por doenças cardiovasculares será de 113 por 100
mil habitantes. Hoje, o câncer é responsável por 106,3 mortes por 100 mil
brasileiros e os problemas do aparelho circulatório, por 168,9 óbitos por 100
mil. Juntas, as duas doenças matam por ano cerca de 542 mil pessoas no País,
segundo dados mais recentes do Datasus.
Diferenças
Embora o câncer possa se tornar a
maior causa de óbitos num futuro próximo, a incidência e mortalidade pela
doença será extremamente diversa de acordo com o tipo de tumor, o sexo e a
região do País. Alguns cânceres provocarão menos mortes, enquanto outros farão
muito mais vítimas.
Segundo o estudo, entre as mulheres,
a mortalidade por câncer de mama deverá se manter estável no Sul e Sudeste,
onde os serviços de detecção e tratamento estão mais bem estruturados, e
aumentará nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Pela mesma razão, os
óbitos por câncer de colo de útero deverão cair nas duas regiões mais ricas do
País e continuar crescendo ou ficar estável nas demais.
— Todo esse cenário pode mudar se as
políticas públicas forem eficientes. Desde 2014, por exemplo, temos a vacinação
de meninas contra o HPV, o que previne o câncer de colo de útero. Se isso for
implementado com sucesso, as mortes por esse tipo de tumor vão cair em todo o
País. E é isso que a gente quer, que nossos dados se mostrem errados porque a
política interveio antes — diz Hellen.
Outra má notícia para as mulheres é
que as mortes por câncer de pulmão aumentarão em todas as regiões.
— As mulheres adotaram o hábito de
fumar muitos anos depois dos homens e isso terá reflexo na incidência de câncer
daqui a algum tempo. Como eles fumam mais e há mais tempo, acabaram sendo mais
impactados pelas propagandas antifumo — diz o oncologista Fernando Cotait
Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer e chefe da oncologia clínica do
centro oncológico Antonio Ermírio de Moraes.
Entre os homens, as mortes por câncer
de próstata cairão no Sul e Sudeste e aumentarão nas outras regiões. O mesmo
ocorrerá com o câncer de pulmão. Os tumores de intestino deverão crescer em
ambos os sexos e em todo o país.
— Abandonar o cigarro, evitar o
álcool de maneira excessiva, combater a obesidade desde a infância, tudo isso
ajudaria a reduzir o número de casos de câncer em 30% a 40% — diz Maluf.
*Estadão Conteúdo
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