Desde 2016, o Ministério da Saúde
passou a importar o medicamento LeugiNase para tratar leucemia linfoide aguda
(Foto: Reprodução/EPTV)
Procuradora alega que testes apontam "elevado grau de
impurezas" no LeugiNase e pede que Ministério da Saúde volte a importar o
medicamento Anginasa, que era fornecido até o ano passado.
Por G1 Ribeirão e Franca
07/07/2017 18h49 Atualizado há 9 horas
O Ministério
Público Federal (MPF) em Ribeirão Preto (SP) ingressou com uma ação na Justiça
exigindo que o Ministério da Saúde recolha todos os lotes do medicamento
LeugiNase distribuídos a hospitais públicos do país para tratamento de leucemia
linfoide aguda (LLA), doença que atinge principalmente crianças e adolescentes.
Em nota, o
Ministério da Saúde nega as acusações do MPF, destacando que o remédio indicado
foi aprovado por seis diferentes laboratórios e explica que a compra de
medicamentos oncológicos é obrigatoriedade dos hospitais. A pasta importa o
medicamento apenas para auxiliar instituições que tem dificuldade na aquisição
do produto.
Na ação, o MPF
pede que a União interrompa imediatamente futuras compras do remédio, fabricado
por laboratório chinês, e volte a importar o Anginasa, produzido por empresa
japonesa em parceria com laboratório alemão, e que era usado pelo Sistema Único
de Saúde (SUS) até o ano passado.
Ambos os
medicamentos são nomes comerciais da substância L-Asparaginase, que junto com
outras quatro drogas é usada em processo quimioterápico em pacientes com LLA,
tipo de câncer que provoca alterações nas células-tronco e registra cerca de 4
mil novos casos por ano no Brasil.
Em nota, o MPF
destaca que testes realizados pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBio)
e pelo laboratório norte-americano MSBioworks apontam que o remédio chinês
“contém grau elevado de impurezas, apresentando 41 proteínas contaminantes,
contra seis do concorrente japonês/alemão”.
Ainda segundo o
MPF, a LeugiNase não possui registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e, apesar de ter permitido a “importação excepcional”, o
próprio órgão regulador ressaltou que não dispõe de informações técnicas
necessárias para emitir parecer conclusivo sobre o produto.
A discussão
sobre o uso desse medicamento teve início em maio, depois que o Centro Boldrini em Campinas (SP), referência na
América Latina no combate ao câncer infantil, ficou sem o estoque de Anginasa e decidiu não usar a nova droga comprada
pelo governo federal, alegando que o produto não tem comprovação de eficácia.
O Centro
Boldrini também ingressou com ação na Justiça Federal para que
o Ministério da Saúde suspenda a importação da LeugiNase. O pedido tem como
base um teste feito a pedido da própria instituição que apontou que 40% do medicamento está contaminado por proteínas,
o que, segundo especialistas, não garante a sua eficiência.
Ainda no
processo, que tramita na 4ª Vara Federal de Ribeirão Preto, a procuradora
Daniela Gozzo de Oliveira ressalta que o processo de compra da LeugiNase,
realizado em 2016 e que resultou na aquisição de 30,6 mil doses do remédio, foi
marcado por inúmeras irregularidades, como dispensa de licitação
“O Ministério
da Saúde empregou a dispensa de licitação, argumentando se tratar de uma compra
emergencial. No entanto, a pasta tivera 17 meses para normalizar o
abastecimento da l-asparaginase e foi negligente ao não realizar procedimento
licitatório regular”, diz nota enviada pelo MPF.
A procuradora
destaca também que a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar a compra
do medicamento de origem chinesa, através de uma empresa uruguaia, que não
possui estrutura física no país de origem e cujo representante no Brasil está
instalado em “pequeno e precário escritório de contabilidade em Barueri (SP)”.
Além de exigir
o recolhimento da LeugiNase já distribuída, o MPF quer que a União suspenda
novas compras e volte a importar a Anginasa, ou medicamento similar que possua
evidência científica. O remédio deverá ser distribuído em até 10 dias a partir
da decisão judicial e a procuradora sugere multa mínima de R$ 50 mil em caso de
descumprimento.
União nega laudos
Em nota, o
Ministério da Saúde informou que a LeugiNase contém o princípio ativo
L-Asparaginase com atividade enzimática comprovada por seis laboratórios, entre
eles o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), e que
análise não apontou contaminantes bacterianos que possam causar danos ao
usuário.
A pasta diz que
o abastecimento da rede pública de saúde está regular e que 21 estados, além do
Distrito Federal, estão usando o remédio. "Na farmacovigilância
(acompanhamento junto a essas unidades), até o momento, não se observou efeito
além do esperado pela literatura disponível", diz o comunicado enviado.
O Ministério
destaca ainda que a compra de medicamentos oncológicos é obrigatoriedade dos
hospitais e que o valor já é contemplado pelos repasses, de acordo com os
procedimentos realizados. O governo federal diz que importa a LeugiNase apenas
para auxiliar instituições que têm dificuldade na aquisição do produto.
Ainda em nota,
a União defende ter seguido todos os trâmites que permitem uma importação
excepcional do medicamento, conforme parecer da Anvisa, em janeiro de 2017, e
ressalta que tem atuado com transparência, inclusive participando de audiência
pública no Congresso Nacional e promovendo reuniões com especialistas da área.
"Por fim,
a pasta ressalta que após reunião realizada em 27 de junho de 2017, a Sociedade
Brasileira de Oncologia Pediátrica colocou em ata, 'não vemos aspectos graves
suficientes para justificar a suspensão imediata e retirada da Leuginase de
uso'", finaliza o comunicado enviado pelo Ministério da Saúde.
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