Descoberta pode levar a exame de sangue
para detectar sinais de câncer (Foto: Science Photo Library)
A partir de análie de DNA de tumor retirado, cientistas conseguiram rastrear no sangue sinais de câncer em início de formação; descoberta pode levar a novos tipos de remédios.
Por BBC
27/04/2017 08h03 Atualizado há 4 horas
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/exame-de-sangue-detecta-ressurgimento-de-cancer-com-1-ano-de-antecedencia.ghtml
Médicos
britânicos conseguiram identificar o retorno de um câncer um ano antes dos
exames tradicionais, em uma descoberta animadora para o combate à doença.
A equipe
conseguiu rastrear no sangue sinais de câncer quando este era apenas um pequeno
amontoado de células invisíveis a raio-X e tomografia.
Isso deve
permitir aos médicos tratar o tumor mais cedo, o que também aumentaria as
chances de curá-lo.
O estudo também
pode levar a novas ideias para remédios contra câncer, após notar como DNA
instável permite a rápida evolução do tumor.
A pesquisa
focou em câncer de pulmão, mas os processos estudados são tão básicos que as
descobertas devem poder ser aplicadas a outros tipos de câncer.
O câncer de
pulmão é o que mais mata no mundo, e o principal objetivo do estudo era
acompanhar o seu desenvolvimento - a ponto de se espalhar por todo o corpo.
Exame de sangue
Para verificar
se um câncer pode estar voltando, os médicos precisam saber o que exatamente
têm de rastrear. Por isso, partiram de amostras de tumores de pulmões removidos
durante cirurgias.
Uma equipe no
Instituto Francis Crick, em Londres, analisou, então, o DNA defeituoso dos
tumores para obter um "mapa genético" do câncer de cada paciente.
A cada três
meses, eram realizados exames de sangue para verificar se pequenos vestígios do
DNA do câncer teriam reaparecido.
Os resultados,
divulgados na publicação científica "Nature", mostraram que a
recorrência do câncer pode ser identificada cerca de um ano antes do prazo
normal de métodos atuais disponíveis na medicina.
Os tumores
costumam ter, em geral, um volume de cerca de 0,3 milímetros cúbicos quando são
detectados por exames de sangue convencionais.
Esperança
Para Cristopher
Abbosh, do Instituto de Câncer UCL, a descoberta é significativa.
"Nós
podemos identificar pacientes para fazerem o tratamento mesmo quando eles ainda
não têm qualquer sinal clínico da doença e também monitorar como as terapias
estão evoluindo."
"Isso
representa uma nova esperança para combater o retorno do câncer de pulmão após
a cirurgia, algo que acontece em cerca de metade dos pacientes", afirmou.
Por enquanto,
esse novo método tem sido eficiente ao alertar sobre a volta do câncer para 13
dos 14 pacientes que apresentaram reincidência da doença. E a descoberta ajudou
também a identificar quem estava livre, sem indícios da doença.
Em teoria,
seria mais fácil curar um câncer que ainda está muito pequeno, no início, do
que fazê-lo quando ele já está grande e visível de novo.
No entanto, são
necessários mais testes para confirmar a eficácia do método.
Chales Swanton,
do Instituto Francis Crick, disse à BBC: "Nós podemos agora organizar
testes clínicos para responder à questão fundamental - se você tratar a doença
das pessoas quando não há evidências de câncer em uma tomografia ou em um
raio-X, você terá mais chances de conseguir curá-la?"
"Nós
esperamos que seja isso. Que se nós começarmos a tratar a doença quando existem
apenas algumas poucas células cancerígenas no corpo, nós aumentaremos a chance
de curar um paciente", completou.
Janet Maitland,
de 65 anos, é uma dos pacientes participando dos testes.
Ela viu o
câncer de pulmão tirar a vida de seu marido e acabou diagnosticada com a doença
no ano passado.
"Era meu
pior pesadelo, o câncer de pulmão, então foi como se o meu pior pesadelo se
tornasse realidade. Fiquei aterrorizada e devastada."
Ela passou por
cirurgia e teve seu tumor retirado - agora os médicos dizem que ela tem 75% de
chance de ficar livre da doença pelos próximos cinco anos.
"Eu
pensava que nunca mais iria melhorar e agora sinto como se estivesse vivendo um
milagre", afirmou.
Evolução
O exame de
sangue é, na realidade, a segunda grande descoberta feita pelos cientistas envolvidos
em um vasto projeto que pesquisa o câncer.
A primeira
descoberta, considerada chave nas pesquisas, foi sobre o papel da instabilidade
do DNA na reincidência do câncer.
Diversas
amostras de 100 pacientes contendo 4,5 trilhões de pares de bases de DNA foram
analisadas. O DNA é "empacotado" em conjuntos de cromossomos que
contêm milhares de instruções genéticas.
A equipe no
Instituto Francis Crick mostrou que os tumores que apresentavam "caos
cromossômico" maior - a capacidade de remodelar facilmente grandes
quantidades de DNA para alterar milhares de instruções genéticas - tinham mais
chances de voltar.
Charles
Swanton, um dos pesquisadores, disse à BBC: "Você tem um sistema ali em
que uma célula cancerígena pode alterar seu comportamento rapidamente ganhando
ou perdendo cromossomos ou partes de cromossomos."
"É a
evolução 'bombada'".
Isso permite
que o tumor desenvolva resistência a remédios, a capacidade de se esconder do
sistema imunológico e de se deslocar para outros tecidos do corpo.
'Animador'
A primeira
implicação da pesquisa será para o desenvolvimento de remédios - entendendo o
papel-chave da instabilidade cromossômica, cientistas poderão achar formas de
contê-la.
"Espero
que sejamos capazes de desenvolver novas formas de limitar isso e que possamos
reduzir a capacidade de evolução de tumores - e quem sabe até fazer com que
eles parem de 'se adaptar'", observou Swanton.
Os cientistas
dizem que só estão começando a entender as descobertas que serão possíveis por
meio da análise do DNA de cânceres.
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