terça-feira, 10 de outubro de 2017

Um quarto dos pacientes com câncer usou maconha medicinal nos EUA, diz estudo


Primeira clínica de maconha medicinal foi inaugurada em janeiro de 2016, em Nova York (Foto: REUTERS/Shannon Stapleton)

Maconha é usada para alívio de sintomas do tratamento. Estudo publicado na revista 'Cancer', no entanto, mostra que muitos não estão sendo orientados por médicos, o que pode gerar riscos.
  

Por G1
25/09/2017 09h10  Atualizado há 2 horas

Um quarto dos pacientes sobreviventes do câncer (24%) fizeram uso da maconha medicinal no último ano para aliviar sintomas físicos e psicológicos nos Estados Unidos, informa estudo publicado nesta segunda-feira (25) na revista científica "Cancer", publicação da American Cancer Society.

A pesquisa também mostrou que uma legislação mais permissiva em muitos estados americanos contribuiu para esse número. O estudo mostrou que 24% usaram maconha no último ano -- o que estima o uso associado ao tratamento do câncer -- e 21% no último mês.

Os dados foram consistentes com análise de urina feita por pesquisadores, que mostrou que 14% havia feito uso de cannabis na última semana.

Se considerado o uso em alguma vez no passado, sem um período determinado, mais da metade (66%) informaram o consumo.

Atualmente, mais da metade dos estados nos Estados Unidos aprovam leis que permitem o uso da maconha medicinal de alguma forma. O estudo mostra que, se a disponibilidade da planta começar a crescer, mais pacientes terão acesso à maconha para o tratamento do câncer.

O principal uso da erva entre pacientes oncológicos se dá para o alívio de náuseas na quimioterapia, mas há outros usos não totalmente mapeados por estudos clínicos.

Foi também com o objetivo de entender esse uso que o pesquisador Steven Pergam e sua equipe entrevistaram 926 pacientes no Seattle Cancer Center Alliance.

O grupo descobriu que, além do uso para sintomas físicos (dor e náuseas), pacientes com câncer também utilizaram a cannabis por razão psicológicas: para lidar com o estresse, depressão e insônia.

Falta de informação e problemas
A pesquisa demonstrou também que a maioria dos pacientes nesse grupo teve um forte interesse em aprender sobre maconha durante o tratamento -- e 74% procurou informações sobre o assunto em associações de cuidados com o câncer.

De acordo com os pesquisadores, embora quase todos os entrevistados desejassem que seus médicos fornecessem mais informações sobre o assunto, a maioria relatava que eles eram mais propensos a obter informações de fontes fora do sistema de saúde.

"Os pacientes com câncer desejam, mas não estão recebendo informações de seus médicos de câncer sobre o uso de maconha durante o tratamento", diz Pergam, em nota sobre o estudo.
O pesquisador espera que mais estudos ajudem a avaliar os riscos e benefícios da cannabis nessa população e que a comunidade científica ajude médicos a informar mais sobre o tema -- já que o uso da maconha pode não ser benéfico para todos os pacientes e gerar efeitos colaterais indesejados.

"A informaçao é importante, porque se não educarmos nossos pacientes sobre maconha, eles continuarão a obter suas informações em outro lugar."

O uso da maconha medicinal no Brasil
No Brasil, é permitido a importação de um derivado da cannabis, o canabidiol (CBD), para casos em que não há outros tratamentos disponíveis. É possível a importação de outros produtos, com o THC como base, desde que pedido a importação diretamente na agência, com laudo médico e receita.

Neste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também incluiu a maconha na lista de plantas medicinais, mas não liberou o uso, que continua proibido no Brasil.
A inclusão apenas reconhece o potencial da erva para pesquisas futuras e regulamentações de medicamentos, o que permite desburocratizar processos de aprovação no futuro.
Em janeiro de 2017, a agência aprovou o registro do primeiro medicamento à base de maconha no país, indicado para a esclerose múltipla.

Na Justiça, alguns pacientes que não tiveram condições para comprar medicamentos importados e tinham doenças graves, conseguiram autorização para o autocultivo.


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