Um exemplo positivo
Uma doação ocorrida
no último dia 5 de dezembro trouxe esperança aos pacientes do Instituto do
Câncer de São Paulo de uma forma diferente
Por Paulo
Hoff - 12 dez 2019, 12h58
Casal de mãos dadas Thinkstock/VEJA
No Brasil, ainda estamos longe de ter uma verdadeira cultura de
solidariedade. Novas terapias, medicamentos inovadores, esses são
geralmente os temas que falamos nas coletivas para a imprensa no Instituto do
Câncer de São Paulo (Icesp). Mas aquela que ocorreu no último dia 05 de
dezembro trouxe esperança aos pacientes de uma outra forma.
Na ocasião, foi anunciada uma doação privada no valor de R$ 8,2 milhões
para o Icesp. A ação foi fruto da generosidade do advogado Orlando Di Giacomo
Filho, que morreu em 2012. Mesmo na época de seu falecimento, o olhar para
a solidariedade já estava presente. Nos convites para o seu velório, havia um
pedido simples: substituir as eventuais coroas de flores por doações ao
Instituto.
Doamos pouco
Infelizmente, atitudes como essa são mais exceção do que regra. No
Brasil, a figura do benemérito é rara em comparação com países de cultura
anglo-saxã, por exemplo. No ranking dos cidadãos que mais doam, estamos
atrás até mesmo de nossos vizinhos latino-americanos e de países menos
desenvolvidos.
O Brasil ostenta uma vexatória 67o. posição no ranking de doações
conhecido como World Giving Index, desenvolvido pela organização britânica
Charity Aid Foundation. Doamos proporcionalmente menos do que pessoas do
Paraguai, Uruguai, Kosovo, Vietnã, Nigéria e Quênia.
E caímos para a 74a. posição quando o cálculo leva em conta outras
dimensões da solidariedade, como realizar trabalhos voluntários. Fica claro que
ainda temos muito o que evoluir no conceito de sociedade.
A cultura do “incentivo fiscal”
Na entrevista coletiva do Icesp, quando anunciamos a doação, uma das
perguntas mais esperadas foi sobre o que o governo faria para estimular outras
ações parecidas. Em geral, é isso o que associamos a filantropia: trocar
impostos por donativos.
Acredito que essa é uma visão incompleta do que significa doar. Ainda
que seja louvável destinar parte de um imposto para determinada instituição,
isso não cria uma verdadeira cultura de solidariedade.
Fazer o bem e ajudar uma causa, antes de tudo, deveria ser o grande
motivador. O que deveria nos mover é a alegria de saber que podemos fazer a
diferença, de que é nosso papel ajudar, colocando a mão na massa e no bolso.
Se nenhum desses argumentos for suficiente, diversos estudos mostram que
pessoas altruístas vivem mais e melhor. Isso porque ser solidário nos torna
mais felizes.
Um estudo feito no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino mostrou que doar
para uma instituição ativa no cérebro as mesmos “centros de recompensa” de
situações prazerosas – como, por exemplo, comer chocolate, ganhar dinheiro ou
receber um elogio.
Pelo bem maior
Não custa lembrar que, em um país como Brasil, não faltam bandeiras e
necessidades a serem atendidas. Saúde, educação, moradia, assistência social,
as páginas de Veja e de outros veículos de comunicação estão cheias de
problemas que não são apenas do Estado, são nossos.
Doações como a do dr. Orlando Di Giacomo Filho nos enchem de alegria e
esperança. O valor será utilizado para melhorias na infraestrutura e dos
programas de ensino do Icesp, levando o conhecimento que é produzido pela
instituição para outros lugares do Brasil, América Latina e África.
Em tempo como esses, em que o fim de ano e o Natal nos despertam para o
amor ao próximo, fica nossa esperança de que esta semente germine no coração de
todos nós.
https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/um-exemplo-positivo/