Cientistas na Alemanha descobriram como o tumor se aproveita
da corrente sanguínea para se espalhar pelo corpo
Por Ana Carolina Leonardi access_time 30 ago 2016, 10h37
http://exame.abril.com.br/tecnologia/cientistas-estao-mais-perto-de-impedir-a-metastase-do-cancer/
Corrente sanguínea: para que o câncer se espalhe, as células
do tumor precisam entrar e sair da corrente sanguínea de um jeito rápido e
eficiente (Photopin)
O câncer por si só já é uma doença assustadora. E a
metástase é a sua face mais perigosa – quando um câncer primário cai na corrente
sanguínea, pode se espalhar rapidamente por qualquer parte do corpo e se tornar
uma ameaça mortal.
Agora, um grupo de pesquisadores alemães acredita ter
encontrado o segredo do mecanismo de migração do câncer – que também pode
conter a chave para impedir que ela aconteça.
A metástase começa quando algumas células individuais se
separam do tumor principal e entram no sistema circulatório. Dali, elas viajam
livremente para qualquer parte do corpo, mas também estão mais vulneráveis ao
sistema imunológico.
Por isso, para que o câncer se espalhe, as células do tumor
precisam entrar e sair da corrente sanguínea de um jeito rápido e eficiente.
Cientistas do Instituto Max Planck e da Universidade Goethe
descobriram a estratégia que os tumores mochileiros usam para fugir dos vasos
sanguíneos. Eles precisam atravessar a barreira do endotélio, que “forra” o
interior dos vasos.
Para isso, eles tiram proveito de um mecanismo natural das
células e direcionam o ataque a uma molécula especial, chamada de “Receptor da
Morte 6”.
As nossas células já são programadas para “suicídios
coletivos” – e isso é totalmente normal. Quando sofrem danos no DNA, infecções
de vírus ou se tornam obsoletas, elas simplesmente morrem.
Podem fazer isso de um jeitinho organizado e silencioso,
chamado de apoptose, ou mais escandaloso, chamado de necroptose, que causa uma
resposta inflamatória no corpo.
Algumas moléculas são chamadas de Receptores da Morte porque
são elas que recebem o sinal de suicídio programado do corpo.
O que os cientistas observaram em laboratório é que os
tumores ativam o Receptor da Morte 6 fora de hora, mas ele faz o seu trabalho
mesmo assim: leva à necroptose, um dos tipos de autodestruição das células nos
arredores.
E aí a barreira endotelial fica fraca e vulnerável à
passagem das células cancerosas para outros órgãos do corpo. O câncer usa essa
brecha para se espalhar, concluíram os alemães.
Descobrir um dos “meios de transporte” da metástase já seria
um avanço e tanto, mas os pesquisadores também tentaram impedir a movimentação
do tumor.
Para isso, eles desabilitaram o Receptor da Morte 6 em
ratinhos geneticamente modificados. Deu certo: os animais apresentaram menos
necroptose e menos metástase.
Os resultados são extremamente promissores para a batalha
contra o câncer. Mas ainda estamos longe de bloquear totalmente a metástase.
Primeiro, os pesquisadores precisam ter certeza que
desabilitar o RM6 não vai trazer outros problemas para o corpo. Depois,
precisam confirmar se os resultados vistos em ratos se repetem em células
humanas.
Por último (e mais importante): o câncer é uma doença
inteligente – ele se desenvolve e se espalha de formas terrivelmente complexas.
Mal chegamos perto de entender como funciona a metástase na
corrente sanguínea e já aparecem sinais de que os tumores podem se espalhar sem
usar o sistema circulatório.
Ou seja: uma solução só não vai resolver todos os casos, mas
pode aumentar as chances de sobrevivência de muita gente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário