Inca, A.C.Camargo e Hospital do Câncer de Barretos fazem parte de grupo
internacional que recebeu 20 milhões de libras da organização Cancer Research
UK.
Por Mariana Lenharo, G1
15/02/2017
No ano passado,
a organização Cancer Research UK selecionou sete grandes desafios a serem
superados em relação ao câncer no mundo, em uma iniciativa chamada Grand
Challenge. Nesta semana, a entidade britânica anunciou a escolha de quatro
grupos de pesquisadores que se lançarão numa grande corrida científica para resolver
esses problemas pelos próximos cinco anos. Cada equipe receberá um prêmio de 20
milhões de libras para conduzir a pesquisa.
Instituições
brasileiras fazem parte de um dos grupos selecionados: o Instituto Nacional de
Câncer (Inca) , o Hospital de Câncer de Barretos e o A.C. Camargo Cancer Center
trabalharão no projeto “identificando causas do câncer que podem ser
prevenidas”.
Já se sabe que
tabaco, álcool, HPV e exposição excessiva à luz solar, por exemplo, aumentam o
risco de câncer: essas são algumas causas de câncer passíveis de prevenção já
conhecidas. Esses agentes cancerígenos danificam o DNA das células, levando a
mutações que seguem padrões distintos de acordo com cada agente. Ou seja, a
célula do câncer que é associado à exposição solar tem um perfil mutacional
diferente da célula do câncer associado ao tabaco.
Atualmente,
cientistas já identificaram cerca de 50 perfis mutacionais associados ao
câncer. O problema é que eles não sabem quais fatores externos causam a metade
dessas mutações. O objetivo do projeto é justamente identificar quais fatores
ambientais e comportamentais estão levando a esses perfis mutacionais que, por
enquanto, têm causas desconhecidas.
O projeto que
envolve as três instituições brasileiras é liderado pelo cientista Mike
Stratton, diretor do Wellcome Trust Sanger Institute, instituição focada no
estudo do genoma para a melhora da saúde humana.
5 mil pacientes
Para atingir
seu objetivo, o estudo fará o sequenciamento do DNA dos tumores de 5 mil
pacientes com câncer de pâncreas, rim, esôfago e intestino de todos os cinco
continentes. Além disso, os pacientes responderão a questionários epidemiológicos,
que abordarão hábitos alimentares, se viveram em áreas com exposição a
carcinógenos, se já foram contaminados por algum vírus, entre outras questões.
No Brasil, 900
pacientes serão recrutados e terão amostras e informações coletadas por A.C
Camargo Cancer Center, Hospital de Câncer de Barretos e Inca.
A cientista
Vilma Regina Martins, superintendente de pesquisa do A.C.Camargo, explica que
os tumores avaliados pelo estudo têm incidência diferente em locais diferentes
do planeta. “Quando se tem um tumor com esse perfil, entende-se que há alguma
coisa naquele local associada com o aumento ou a diminuição de risco.
Entende-se que podem haver causas genéticas na população e também fatores
ambientais de cada uma das regiões”, afirma.
"Cada
câncer detém um vestígio arqueológico, um registro em seu DNA do que o causou.
É este registro que queremos explorar para descobrir o que causou aquele
câncer"
Mike Stratton, diretor do Wellcome Trust Sanger Institute
Mike Stratton, diretor do Wellcome Trust Sanger Institute
Associando-se a
análise genética à análise de hábitos e fatores externos aos quais os pacientes
são expostos, os cientistas esperam ligar cada perfil mutacional à sua
respectiva causa. "O principal objetivo de nosso Grand Challenge é
entender as causas do câncer. Cada câncer detém um vestígio arqueológico, um registro
em seu DNA do que o causou. É este registro que queremos explorar para
descobrir o que causou aquele câncer", afirmou Mike Stratton em
comunicado.
Vilma observa
que a principal meta do estudo é possibilitar novas formas de prevenção, mas
que, dependendo dos resultados, também podem surgir pesquisas que resultem em
novos tratamentos para a doença.
Os sete
desafios selecionados pela Cancer Research UK são:
1.
Desenvolvimento
de vacinas para prevenir cânceres não relacionados a vírus
2.
Erradicar
cânceres relacionados ao vírus Epstein-Barr do mundo
3.
Descobrir como
perfis mutacionais incomuns são induzidos por diferentes eventos relacionados
ao câncer
4.
Fazer a
distinção entre cânceres letais que precisam de tratamento e cânceres
não-letais que não precisam
5.
Descobrir um
modo de mapear tumores em nível molecular e celular
6.
Desenvolver
métodos que tenham como alvo o gene Myc, que é mutado na maioria dos cânceres
humanos
7.
Descobrir como
liberar macromoléculas biologicamente ativas em qualquer célula do corpo humano
para tratar o câncer de forma efetiva
8. A pesquisa do
qual o Brasil faz parte se enquadra principalmente no desafio 3. As outras três
equipes de pesquisa selecionadas para receberem os 20 milhões de libras focarão
em criar mapas de realidade virtual de tumores; desenvolver estratégias para
evitar tratamentos de câncer de mama desnecessários e estudar o metabolismo do
tumor a partir de diversos ângulos.
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