Rodrigo Machado, de 44 anos, embarcou nesta sexta-feira (23) para
Málaga, na Espanha, e ganhou medalha nas cinco modalidades em que competiu.
Por Gabriela Gonçalves, G1 SP, São
Paulo
30/06/2017 10h25 Atualizado há 41 minutos
Rodrigo Machado ganhou cinco medalhdas
na olimpíada para transplantados em Málaga, na Espanha (Foto: Fabio Tito/G1 e
Arquivo pessoal)
O bancário
Rodrigo Machado, que viajou para Málaga, na Espanha, para participar dos Jogos
Mundiais dos Transplantados, conquistou medalhas nas cinco
modalidades que competiu. Foram dois ouros, três pratas e um recorde mundial.
Todas as provas aconteceram nesta quinta-feira (29).
Rodrigo, de 44
anos, competiu na categoria de 40 a 49 anos e ficou em primeiro lugar nos 200m
medley - com recorde mundial ao completar a prova em 2:49:11 - e nos 100m
livre. As medalhas de prata foram conquistadas nos: 200m livre, 50m costas e
100m costas.
"Muito
gratificante estar aqui nos jogos. Foi maravilhoso. Eu estou com uma lesão no
ombro desde o final do ano passado e mesmo assim eu treinei forte. Meu objetivo
era conseguir atingir o tempo que eu pré-determinei. A minha meta eu
cumpri."
Uma semana após
ter embarcado para os jogos, Rodrigo pode desfrutar da cidade com a esposa e o
primo. "Agora é conhecer a cidade que vai ficar eternamente guardada nas
minhas lembranças."
Rodrigo conquistou cinco medalhas
(Foto: Arquivo pessoal)
Em 2012, o
bancário foi diagnosticado com leucemia. Após ciclos de quimioterapia e
transplante de medua óssea, foi descoberto, em 2016, um tumor no intestino. Foi
necessário iniciar outro tratamento, desta vez "mais complexo". Em
abril de 2017, Rodrigo foi liberado pela médica hematologista para praticar
atividades físicas.
Ele decidiu se
inscrever na olímpiada e voltar a treinar natação, esporte que se dedicou entre
os 13 e 18 anos. Ex-federado, Rodrigo procurou o coordenador do Ginásio
Poliesportivo Milton Feijão de São Caetano do Sul, Walter Luis Rodrigues
Júnior, para voltar a treinar.
"A
expectativa principal dos jogos é incentivar a doação de órgãos e mostrar que
existe vida após um transplante. É servir de exemplo para muitas pessoas que
estão em um hospital que há luz no fim do túnel e que tem que seguir lutando e
acreditar e fazer tudo o que precisa ser feito."
Com apenas oito
semanas para o início dos jogos, Walter assumiu os treinos de Rodrigo e
elaborou uma rotina de preparação. Exercícios diários, alimentação equilibrada
e muita dedicação é a aposta do treinador para uma boa competição.
O desafio é
mútuo. Há oito anos longe das piscinas, Rodrigo teve que se dedicar em dobro
para recuperar o ritmo, técnica e bons tempos que tinha quando ainda era
adolescente. Já Walter, precisou estudar e entender os limites do novo atleta.
“Se na minha
carreira toda eu tivesse tido dez atletas como ele, eu seria um técnico
realizado. Eu tenho que estar atento, se ele chega ofegante, se ele está
vermelho são atenções que eu preciso ter. Eu tenho que respeitar os limites
dele, mas eu não posso deixar muito aberto, porque ele é folgado e vai querer
descansar muito. A rédea é curta”, conta o treinador.
Com 17 esportes
diferentes, os Jogos Mundiais dos Transplantados acontecem anualmente e é uma
olímpiada em que os competidores devem ter tido algum tipo de transplante. “É
uma forma de integrar todas as pessoas que passaram por doenças graves. É como
a gente fala, é a celebração de uma segunda oportunidade. Nós todos
transplantados estamos tendo uma segunda chance de continuar vivendo e vivendo
bem”, define Rodrigo.
Diagnóstico
Dois meses após
participar de uma meia maratona em São Paulo, Rodrigo começou a sentir
fraqueza, cansaço excessivo e fadiga. Ao procurar um médico e fazer exames, foi
diagnosticado em novembro de 2012 com leucemia.
Na semana
seguinte ao diagnóstico, Rodrigo foi transferido para o Instituto Brasileiro De
Controle Do Cancer e iniciou um ciclo com seis quimioterapias, transplante de
medula e isolamento. Durante o tratamento, exercícios físicos com um professor
particular permitiram que ele recuperasse parte da massa muscular que perdeu
durante as internações. “Eu queria chegar mais forte para o transplante”,
explica o bancário.
Os treinamentos
continuaram e “com trabalho progressivo”, em 2015, competiu sua segunda meia
maratona e voltou ao trabalho, que estava afastado de 2012. Mas, no início de
2016, ele foi obrigado a dar outra pausa. A leucemia se manifestou novamente,
mas, dessa vez, em forma de um tumor no intestino.
Com queda de
imunidade, foram três meses internado, uma cirurgia para fazer a biópsia, mais
ciclos de quimioterapia e um tratamento “bem mais complexo”. Com a recaída na
doença, Rodrigo precisou pedir outra licença médica no trabalho, nas atividades
físicas, ficou recluso e teve de redobrar os cuidados com possíveis infecções.
“O esporte
ajudou muito o Rodrigo ao longo do tratamento. Até nos momentos mais críticos,
ele nunca ficou com a massa muscular muito debilitada e isso ajudou muito”,
acredita a hematologista que acompanha o bancário desde o início, Maria
Cristina Macedo.
'Três pilares do paciente'
Para passar
pela doença, Rodrigo assumiu algumas responsabilidades. Além de coragem e muita
disciplina com o tratamento, estabeleceu os “três pilares do paciente”. Para
ele, o tratamento é divido entre o que compete a Deus e ao enfermo.
“Acreditar e
ter fé no tratamento; se alimentar bem e praticar atividades físicas é o que
nós podemos fazer, nós temos que nos movimentar”, explica.
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