Pacientes ainda temem esse tratamento contra o câncer, mas médicos garantem que hoje há como controlar maioria das reações
Priscilla Borges, iG Brasília 22/08/2011 17:06
O susto e o medo que envolvem o diagnóstico do câncer – doença que já é segunda causa de mortes no Brasil – acompanham a maioria dos pacientes também em outras fases da enfermidade.
A quimioterapia, um dos principais tratamentos para a doença, ainda é fonte de traumas e pânico. Até bem pouco tempo, os relatos dos pacientes sobre os efeitos colaterais das medicações usadas na quimioterapia não eram nada animadores: enjoos, náuseas, vômitos, cansaço, tonturas e frequentes internações.
Os tratamentos evoluíram. Apesar de os efeitos colaterais provocados pelas medicações quimioterápicas ainda serem os mesmos, eles são mais controláveis e, cada vez mais, estão fora da rotina dos pacientes que lutam para se curar do câncer. Os oncologistas, médicos especialistas na doença, explicam que há medicamentos novos e outros antigos utilizados para combater as reações desagradáveis.
“O problema é que as pessoas que passam mal difundem mais a informação. Há quem passa tão bem que não conta que está fazendo o tratamento. Ainda há um estigma muito grande em torno da doença e do tratamento”, comenta o oncologista Marcello Fanelli, do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo.
Na quimioterapia, cada paciente recebe uma combinação de medicamentos, em geral, diretamente na veia ou por meio de um cateter. Em alguns casos, os remédios são tomados por via oral ou aplicados no músculo ou na pele. É importante saber que existem centenas de combinações de medicações possíveis para o tratamento do câncer. Os médicos escolherão as melhores para cada caso individualmente. Esse é um dos motivos pelos quais os efeitos colaterais variam tanto de um paciente para outro.
“Além disso, cada organismo tem uma capacidade de metabolizar e receber os medicamentos e há uma diferença psicológica. Pacientes deprimidos têm uma tendência maior a sentir efeitos colaterais. Em todos os casos, mais da metade dos pacientes que se submete à quimioterapia tem reações muito menores do que imaginava”, afirma o chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Instituto Nacional do Câncer (INCA), Daniel Herchenhorn.
Terapias combinadas
As combinações quimioterápicas recebem classificações de acordo com o risco de causarem efeitos colaterais, que pode variar de baixo a alto. Os incômodos mais comuns são náuseas, enjoos, vômitos, fraqueza, diarreia, feridas na boca (aftas), constipação (prisão de ventre), infecções, anemias e queda de pelos e cabelos. Hoje, só não há solução para conter a perda dos cabelos.
Para Artur Katz, coordenador médico da Oncologia Clínica do Hospital Sírio-Libanês, os especialistas precisam se antecipar às dificuldades que os pacientes podem enfrentar a partir de cada tratamento. Alguns remédios para o combate às náuseas – chamados de anti-eméticos –, por exemplo, só funcionam quando combinados antes e após a aplicação da quimioterapia.
Gustavo Fernandes, diretor-técnico do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês Brasília, explica que há três tipos de náuseas possíveis durante a quimioterapia: antecipatória, precoce e tardia. A primeira ocorre antes da aplicação, por causa da ansiedade do paciente. É combatida com ansiolíticos. A segunda ocorre até 48 horas após a aplicação e a terceira, até cinco ou seis dias depois.
Para os casos de alto risco de náuseas, inibidores cerebrais podem ser prescritos. Eles “bloqueiam” a memória do cérebro sobre enjoos ou “desconectam” a comunicação entre o cérebro e o estômago.
“Precisamos tratar as possibilidades de náuseas de maneira agressiva desde a primeira aplicação da quimioterapia, para que o paciente não tenha uma memória ruim daquele momento. Ele vai mais confiante para as próximas sessões”, afirma Fernandes.
Os oncologistas podem prescrever diferentes anti-eméticos para os pacientes, mais leves ou mais fortes, dependendo da situação. Corticóides e anti-ácidos também são usados para atenuar os efeitos.
Daniel Herchenhorn, do Inca, destaca que, além dos remédios, apoio psicológico e nutricional é fundamental para evitar as dificuldades. Uma alimentação balanceada evita constipações, azias, diarreias e outros tantos incômodos.
“O entendimento da doença e o cuidado geral com a saúde do paciente ajudam a combater esses efeitos indesejados. Não orientar o paciente é irresponsabilidade”, diz.
Falta de informação
O chefe da oncologia do Inca ressalta que a troca de informações entre pacientes e médicos é fundamental. Durante a consulta, todas as dúvidas devem ser esclarecidas. Cada novo mal-estar deve ser comunicado ao médico o quanto antes. Assim, ele pode ser combatido mais rápido e evitar problemas mais graves.
“Cuidados, alimentação, efeitos e remédios devem ser temas da consulta. Infelizmente, em muitos hospitais (em geral os públicos), as conversas costumam ser muito rápidas. O paciente não pergunta e médico não responde. O médico não orienta e, quando orienta, o paciente não entende o que foi explicado”, lamenta.
Para Fanelli, o objetivo do tratamento também precisa ser bem compreendido por quem enfrenta o câncer. Ele lembra que essa é uma doença grave e, em prol da cura, serão necessários sacrifícios.
“Até pouco tempo, as pessoas tinham receio de conversar sobre o câncer, sequer pronunciavam essa palavra. É preciso entender que ela é uma doença grave, mas como outra qualquer. Exige esforço no tratamento sim, mas em muitos casos é possível curá-la”, pondera.
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