31/01/201411h30
Paulo Anshowinhas
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Um surfista que criou uma marca famosa, um produtor de eventos que anda de skate e um skatista old school. Acostumados a ultrapassar limites nas pistas e no mar, esse trio de esportistas radicais conseguiu vencer a maior batalha de suas vidas: o câncer.
E para provar que estavam bem de saúde novamente, todos voltaram a praticar suas modalidades que sempre amaram e se transformaram em símbolo de resistência e de superação. Cada um a sua maneira reagiu de uma forma diferente. Um deles buscou o lado mais espiritual, enquanto outro reduziu a velocidade e ainda teve quem transformasse o seu drama em reality show em postagens no Facebook.
E para provar que estavam bem de saúde novamente, todos voltaram a praticar suas modalidades que sempre amaram e se transformaram em símbolo de resistência e de superação. Cada um a sua maneira reagiu de uma forma diferente. Um deles buscou o lado mais espiritual, enquanto outro reduziu a velocidade e ainda teve quem transformasse o seu drama em reality show em postagens no Facebook.
O escritor e empresário Sidney Tenucci Jr, hoje com 59 anos, mais conhecido como Sidão, que o diga. Detentor da marca de surfe mais famosa no Brasil durante vários anos, a OP, Ocean Pacific, ele passava o tempo escrevendo e cuidando das duas filhas. Como todo milionário no estilo zen, Sidão viajava para vários países, mas não bebia, não fumava e não usava drogas para se dedicar integralmente ao surfe.
Até que em 07 de outubro de 1999, aos 45 anos, descobriu em um exame de rotina que estava com câncer na próstata. Ao ser informado pelo médico, exclamou: "Não é possível. Deve ter alguma informação errada. Faço tudo certo!". E, como a maioria dos pacientes, também pensei: "Deus porque eu?"".
Vinte e um dias depois fez a cirurgia, mas levou um novo susto após 40 dias, que teve de ser tratado com 38 sessões de quimioterapia. "O medo é o verdadeiro inimigo. Ele mente, diz que somos incapazes. O medo, não nós, é covarde. É preciso ter fé", reflete.
"A minha forma física de esportista/surfista ajudou tanto na cirurgia como na recuperação", comenta ao lembrar que a partir dessa notícia tudo mudou em sua vida, inclusive os amigos que desapareceram. "Para quem tem esse problema, use essa experiência para te fortalecer como ser humano e como alma. Para quem não sabe se tem, não se preocupe, pois o peru não morre de véspera", brinca.
Dois meses depois do tratamento Sidão voltou a surfar, e atualmente prepara seu quarto livro pela editora Neo Anima. "Mergulhar, principalmente na água do mar, é curador. Nas lágrimas idem. Não morri com a doença, embora uma parte de mim sim", completa.
Ao contrário da maioria das pessoas que prefere se esconder e ficar junto da família e dos médicos, o skatista Bruno Leonardo Júnior, hoje com 51 anos, preferiu radicalizar e transformou o seu caso em um chocante reality show pelas redes sociais.
Skatista "old school" que anda desde a década de 70, Bruno era o esteriótipo do skatista "doidão". Tetracampeão do torneio Old School Skate Jam, de Guaratinguetá, trabalhava em sua skate shop, organizava campeonatos, mas vivia nas baladas e virava a noite na boemia.
"Como fechou a entrada do estômago não podia comer e mal conseguia beber, instalaram uma sonda que ia do nariz ao intestino para me alimentar, mesmo assim perdi 46 quilos em dois meses e fiquei com apenas 40 quilos!", conta. Ele teve anemia e ficou tão fraco que precisou usar uma cadeira de rodas para se locomover.
A evolução da doença serviu de conteúdo para suas postagens chocantes quase diárias em sua página no Facebook. "Uma coisa que me fez vencer foi assumir minha condição em público, sem vergonha da minha aparência, e isso me deu motivação para voltar ao normal", prossegue. "Eu parecia uma caveira, por isso antes da quimioterapia andava de bike às 4h da manhã para absorver as energias do Sol nascente", disse. "Essa disposição, segundo os médicos, me ajudou na recuperação", conta.
Bruno voltou a andar a pé uma semana depois da operação, e em menos de um mês retornou às pistas de skate, em rampas com mais de dois metros de altura.
Casado, com uma filha e uma neta, o produtor esportivo e skatista desde 1974 Márcio Natividade, de 49 anos, acostumado com descidas em alta velocidade com seu carrinho, teve de brecar com força há cerca de três anos devido a mesma doença. Corredor de rua experiente e skatista de downhill, ele ganhou de presente (ingrato) de aniversário a confirmação de um tumor na próstata.
"Primeiro achei que ia morrer, mas no mesmo dia pensei que poderia viver o que me resta sem neurose e ser o melhor que eu puder", disse.
Com um tratamento e operação pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), atendido pelo SUS, Márcio teve de submeter a 38 sessões de radioterapia após a cirurgia, mas mesmo assim descobriu que a doença havia voltado em um exame de sangue.
"Ninguém acreditava que um cara como eu, esportista, saudável e vegetariano que nunca fumou, pudesse pegar essa doença", conta. "Em vez de me isolar, parei de correr e passei a andar de skate de leve, para não correr o risco de me machucar durante o tratamento", lembra.
A velocidade do cotidiano mudou para ele. "Hoje não tenho mais aquele desespero de fazer tudo ao mesmo tempo, e agora prefiro fazer o melhor que puder e com qualidade de vida", avalia.
"Fazer os exames antes de ter qualquer sintoma é um dos melhores remédios, pois quanto antes souber, maiores as chances de recuperação", avalia.
Após o tratamento, Márcio voltou a andar de skate com ainda mais vitalidade e foi um dos responsáveis pela implantação da ladeira de skate do Parque Cândido Portinari, recém inaugurado na Zona Oeste. Ele foi um dos primeiros a testar a descida com seu carrinho.
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