quinta-feira, 2 de maio de 2013

Alerta aos cânceres femininos invisíveis

Tumores malignos nas mamas não são únicas ameaças às mulheres e podem afetar ovários, útero, pulmão e outros órgãos. Médicos pedem mais atenção à prevenção
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 15/04/2013 12:33:28
Há três anos, quem perguntasse à Nanci Venturini qual era a doença mais temida por ela, teria como resposta um gesto seguido por duas palavras: as mãos protegeriam o peito e ela diria “câncer de mama”.
Esta doença é, de fato, perigosa quando não tratada a tempo, vitima 52 mil mulheres por ano e está no foco das campanhas mais variadas entidades. Mas não é exclusiva entre os perigos cancerígenos. O cuidado preventivo só com este tipo de tumor pode tornar invisível outros cânceres que também ameaçam às pacientes e são até mais letais.
Nanci, 39 anos, por exemplo, sequer imaginou que, além das mamas, outras regiões do organismo pudessem estar vulneráveis. Mas, desde 2011, ela faz parte das 6.190 mulheres que anualmente adoecem por causa do câncer no ovário , de acordo com o censo do Instituo Nacional do Câncer (Inca).
“O câncer de mama é o mais temido porque é mesmo o mais recorrente entre elas. Ao longo da vida, uma em cada nove mulheres terá a doença”, explica Glauco Baiocchi Neto, diretor de ginecologia do Hospital AC Camargo, uma das referências nacionais no tratamento. Segundo ele, a alta incidência faz com que as mulheres acabem se esquecendo de outros tipos de câncer que também são numerosos e, alguns, totalmente evitáveis.
“O câncer de colo de útero é um dos exemplos. Todas as lesões pré-cancerígenas no útero podem ser tratadas, mas ainda são 18 mil novos casos por ano, com quase 5 mil mortes de mulheres”, exemplifica Baiocchi ao completar a lista com outros tipos de tumores quase não lembrados no foco da prevenção.
“Câncer no endométrio, o câncer na vulva, o câncer de cólon e no reto também são esquecidos pelas pacientes. Há ainda o câncer de ovário que tem uma particularidade: diferentemente dos outros, os exames preventivos ainda não são tão eficientes para o diagnóstico precoce. Por isso, é preciso alerta dos médicos e também das mulheres para buscar as intervenções o mais rápido possível”, afirma.
Corpo fala
Nanci Venturini atesta a dificuldade em detectar precocemente o câncer de ovário. Ela fazia mamografias e ultrassonografias transvaginais anualmente, como preconiza a cartilha dos bons cuidados preventivos. Apesar dos resultados não indicarem nenhum sinal de problema, o corpo, há tempos, dava sinais de que as coisas não andavam bem.
 “Todas as dores abdominais, o desconforto após as refeições, a sensação de barriga estufada, o funcionamento irregular do intestino que eu enfrentava há meses, eu coloquei na conta do estresse e do excesso de trabalho”, lembra Nanci, que trabalha como assessora na reitoria de uma universidade em São Paulo.
Quando finalmente procurou o hospital por acreditar estar “estafada”, a biópsia revelou que existia ali no ovário esquerdo um tumor maligno já em estágio crítico, quase na última ponta da escala que mensura o avanço da doença.
Conversas com o corpo
Andrea Gadelha Guimarães, médica especializada em câncer de ovário, afirma que ficar atenta aos indícios de que o corpo não funciona em normalidade ainda é a principal estratégia para diagnosticar os tumores o mais rápido possível.
“Os sinais, como um sangramento anormal, um emagrecimento repentino, uma dor pélvica fora do comum, não são o diagnóstico fechado de câncer, mas devem alertar as mulheres a este tumor que, em 70% dos casos, ainda é constatado em fase avançada.”
Nanci, desde que recebeu o diagnóstico, decidiu não só ouvir mais as mensagens do corpo como também conversar diariamente com o próprio organismo.
“Sabia que por estar em uma fase avançada, a doença exigia um tratamento agressivo. Para me preparar para a batalha passei a falar todos os dias com o meu corpo”, conta.
“Pedia desculpa por ter maltratado o meu organismo. Dizia para ele que não seria fácil vivenciar a cirurgia e as quimioterapias, mas que não entregaríamos os pontos. É uma forma de meditação que me ajudou bastante”, lembra ela, que resolveu contar a experiência do enfrentamento da doença dos ovários em um blog .
O grande objetivo de dividir a experiência na internet, diz Nanci, é dar força a outras pacientes e alertar que o câncer não é um problema só das mamas.
“As mulheres precisam saber disso e ficar atentas aos cuidados preventivos.”
Receita universal
Pesquisando sobre a doença, Nanci descobriu que a alimentação saudável pode ser parceira na investida contra o câncer e resolveu priorizar as frutas, legumes, verduras e carnes brancas. A dieta, atestam os estudos, é mesmo um dos principais instrumentos da medicina preventiva contra todos os tipos de câncer femininos, inclusive os que ainda permanecem na invisibilidade.
Pesquisa recente da Universidade de Brasília (UNB) confirmou o potencial dos produtos não saudáveis como gatilhos do câncer. De acordo com a publicação, a obesidade está de mãos dadas com o cânceres de mama, ovário e útero. O estudo mostra que só estes três tumores femininos provocados primordialmente pelo excesso de peso acarretam custo anual de R$ 50 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O especialista Glauco Baiocchi Neto ressalta que a alimentação saudável é receita universal na prevenção de todos os tipos de câncer e completa que “não fumar” também é hábito protetor para pacientes dos mais variados tumores.
“Há uma íntima relação entre câncer de endométrio e tabagismo. Sem falar dos pulmões, já que 9 em cada 10 cânceres deste tipo acontecem em fumantes”, reforça o médico.
O câncer pulmonar feminino é outro exemplo de doença cancerígena que, até bem pouco tempo, nem era considerado pelas mulheres. Porém, o aumento do índice de fumantes entre elas – conforme detectou estudo do Ministério da Saúde – cobrou fatura. As pesquisas mais recentes indicam que a mortalidade de mulheres em decorrência desta neoplasia está em ascensão.
Viver mais e melhor
Nanci é uma das vozes contrárias ao cigarro. Ela fez cirurgia contra o câncer de ovário, passou por sete sessões de quimioterapia e diz agora estar na fase de enfrentar as sequelas do tratamento.
“Mas com uma diferença importante. Hoje me permito tudo que me privei antes da doença. Dizia não ter horas livres para cuidar de mim. Hoje arrumo tempo para caminhadas, ioga, meditação, natação. Quero viver. Mais e melhor.”

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