Assim como a atriz Angelina Jolie, a matemática Eglê Seid decidiu retirar as mamas para prevenir um câncer. Ela enfrentou sequelas e diz que não se arrepende da decisão
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 15/05/2013 06:00:00
A notícia de que a atriz Angelina Jolie retirou as mamas em um procedimento para tentar evitar o câncer, mesmo sem o diagnóstico da doença, fez a paulistana Eglê Seid relembrar uma decisão difícil tomada em 2003, quando ela tinha 46 anos.
Na época, ela – que já era mãe de dois filhos adultos – descobriu em exames de rotina que tinha lesões pré-cancerígenas que aumentavam em até 90% o risco da doença. O quadro configura uma das indicações feitas a um grupo restrito de mulheres, de uma cirurgia chamada mastectomia redutora de riscos.
O procedimento não é consenso entre os médicos, mas pesquisas indicam que a técnica agressiva diminui para 10% a probabilidade do desenvolvimento do câncer de mama. Eglê enfrentou sequelas físicas e psicológicas por causa da cirurgia, mas diz que não se arrepende.
“Tem que ter peito para tomar essa decisão”, diz. “Fiz porque queria estar viva. Fiz em nome dos meus filhos”.
“Nunca fui daquelas mulheres que sonham com um peito de silicone. Gostava dos meus seios naturais e por isso cuidava bem deles. Foi num dos exames de rotina que descobri ter lesões pré-cancerígena nas mamas. Na mamografia, era possível enxergar uma série de pontinhos brancos. Essas alterações ainda não eram a doença precisamente, mas indicavam um risco altíssimo de desenvolver o câncer, entre 60% e 90%.
O ano era 2003, eu estava com 46 anos, tinha dois filhos adultos, e o médico me apresentou a possibilidade de uma cirurgia agressiva que diminuiria a probabilidade de ter câncer para 10%. A taxa que é maior do que o ‘risco zero’, eu sei, mas não difere de nenhuma outra mulher, mesmo as que não tenham as lesões que eu tinha.
Para voltar ao ‘risco normal’, igual ao de qualquer pessoa do sexo feminino, seria preciso retirar as duas mamas de forma preventiva. Outra alternativa apresentada pelo meu médico foi a de tomar um remédio por 5 anos e fazer um acompanhamento incisivo. Por este método, mais conservador, as minhas chances de não ter câncer cairiam para 50%.
Sou matemática, trabalho com números. E 50% para mim não era uma probabilidade tranquilizante. Ali, na sala do médico mesmo, tomei a decisão: vou operar.
Foi rápido optar, mas sabia que o caminho não seria fácil. Ninguém na minha família tinha tido câncer, mas eu não queira conviver com esta ameaça. Pensei nos meus filhos e na vontade que eu tinha de viver. Tem que ter peito para tomar essa decisão, sabia de todas as sequelas possíveis. Mas eu quis. Na mesma operação, fiz a cirurgia plástica reparadora. Por ironia, acabei com próteses de silicone.
Tive sequelas físicas e psicológicas, não foi um mar de rosas. Primeiro porque foi dolorido. Depois, acabei com necrose no bico do seio, precisei trocar a prótese, fazer drenagens. Sem contar a questão estética. Ficou bonitinho, tudo em pé. Mas, na minha idade, ninguém tem o seio como o meu. É visível que há algo diferente e eu preferia ter uma aparência mais natural. O lado psicológico também dá uma desequilibrada.
Nada disso, no entanto, indica arrependimento. Ao contrário. Foi uma decisão consciente e sei que não é universal. Defendo que a mulher tenha voz na decisão. Se ela é jovem, nunca engravidou, por exemplo, pode ser que a cirurgia não seja um caminho tranquilo para ela. E tudo bem!
Por isso, fiquei extremamente satisfeita pela coragem da Angelina Jolie em tornar pública a sua experiência pessoal. Linda, bem-sucedida e no alvo do câncer de mama. Mostra que pode acontecer com qualquer um. Além disso, o caso de Jolie serviu para disseminar a informação. Porque para decidir é preciso saber que há esta possibilidade cirúrgica preventiva. E não é toda paciente sabe disso.
Em 2013, completo cinco anos operada. Neste período, fiz a reavaliação semestral e não descuidei da saúde. Operar não significa estar livre dos exames e dos médicos. Eu não abro mão dos check-ups.
Posso pontuar um monte de coisas maravilhosas que vivi de lá para cá. Casei novamente, assisti à formatura dos meus filhos, comprei um apartamento, morei fora, viajei. Se eu tivesse um câncer agressivo, talvez não vivesse nada disso. Valeu. E tudo bem eu estar nas estatísticas de mulheres com silicone."
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