Débora Cristina
Bezerra recebe o carinho dos pais após uma sessão de quimioterapia Foto:
Guilherme Pinto / EXTRA
Flávia
Junqueira e Geraldo Ribeiro
A última sessão de quimioterapia de Débora Cristina Bezerra França no
Hospital Mario Kröeff, na Penha, foi na terça-feira. Até a tarde de ontem, ela
ficou na cama. Antes, não havia sentido tanto cansaço e dor. A medicação fora
trocada após a inicial ter acabado na unidade, informaram para a manicure de 34
anos. A interrupção do tratamento por desabastecimento acontece em 42% dos 19
hospitais que tratam câncer no Rio — na maioria deles, de forma contumaz. Como
o EXTRA vem mostrando na série “Um Estado terminal”, essas unidades foram
avaliadas, entre outubro e novembro do ano passado, pelo Conselho Regional de
Medicina (Cremerj).
Os números da pesquisa refletem a dor de quem precisa lutar por um
tratamento tão agressivo como a quimioterapia. E isso acontece com 46% dos
pacientes com câncer que dependem do SUS no Rio.
— Tudo o que eu mais quero é acabar logo com a quimioterapia. É muito
agressiva. Dos 12 ciclos, fiz cinco. Desde que caí no Sisreg (Sistema de Regulação),
demorei a encontrar vaga no hospital e fazer exames, como ressonância e
tomografia. O tempo, para a gente que está sofrendo, é muito grande. Um dia é
como uma eternidade — diz Débora.
Simone Mattos Brandão, de 45
anos, teve a quimioterapia interrompida duas vezes por falta de medicação, no
Hospital Federal de Bonsucesso Foto: Flávia Junqueira / EXTRA
Simone Mattos, de 45 anos, começou a quimioterapia em 2 de maio, no
Hospital Federal de Bonsucesso:
— Na terceira sessão, não tinha remédio. Isso aconteceu outras duas
vezes.
A dona de casa teve o diagnóstico de câncer de mama confirmado, em abril
do ano passado, no Hospital Federal de Bonsucesso.
— É angustiante, porque você sabe que depende da quimioterapia para ter
uma chance de ficar viva. Em novembro, faltavam duas sessões para terminar a
quimioterapia e eu ser operada. Então, a médica decidiu que eu faria as duas
sessões no mesmo mês, para não correr o risco de faltar. Não podia mais adiar a
cirurgia, que foi feita em 18 de janeiro — conta Simone.
A falta de medicação e de estrutura nas salas de quimioterapia
ambulatorial também atrasa o início do tratamento. Paciente do Mario Kröeff,
Suely Martins Paes, de 57 anos, só fez a primeira sessão cinco meses depois da
cirurgia na mama.
Segundo a oncologista Sabrina Chagas, o benefício da quimioterapia
curativa ocorre até oito a 12 semanas após a cirurgia para a maioria dos
cânceres:
— Depois, perde-se a qualidade do tratamento. Não sabemos seu real
benefício.
O Ministério da Saúde informou ontem que os hospitais de Bonsucesso,
Andaraí e Servidores estão recebendo apoio de outras unidades federais para a
realização de quimioterapia e exames em pacientes com câncer, enquanto aguardam
a entrega de medicamentos já comprados. Além disso, está em andamento a
contratação de três oncologistas para o Bonsucesso.
A diretora técnica do Mario Kröeff, Cátia Helena Fernandes, informou que
está tentando aparelhar e reestruturar a unidade. Para ela, os problemas
ocorrem por falhas no SUS, que dispõe de uma pequena oferta de alguns exames,
trabalha com uma tabela para contratação de serviços com valores defasados há
mais de 30 anos e submete os doentes a uma fila única.
Confira
a nota do Ministério da Saúde na íntegra:
Os hospitais federais de Bonsucesso (HFB), do Andaraí (HFA) e dos
Servidores do Estado (HFSE) estão contando com o apoio do restante da rede do
Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, em especial do Instituto Nacional de
Câncer (Inca), para a realização de sessões de quimioterapia e exames em
pacientes oncológicos, além do fornecimento de medicamentos já empenhados que
ainda não chegaram dos fornecedores. Paralelamente, estão acelerando o máximo
possível a entrega desses medicamentos. A contratação de mais três oncologistas
para o HFB também já teve início.
Os hospitais do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro ampliaram em até
25% de 2015 para 2016 o atendimento oncológico (consultas a pacientes com
câncer e sessões de quimioterapia), além dos atendimentos a pacientes com
câncer que chegam direto nas emergências. O protocolo de atendimento do Inca
passa a ser utilizado em todos esses hospitais. É resultado da redefinição do
perfil assistencial e cirúrgico que deve ampliar ainda mais os serviços de
tratamento do câncer, uma demanda crescente entre a população do estado.
Além de oferecer serviços do SUS em seis hospitais e três institutos
federais, o Ministério da Saúde ampliou em 12% os recursos para tratamentos
oncológicos (cirurgias, radioterapias e quimioterapias), passando de R$ 141,5
milhões para R$ 159,5 milhões de 2010 a 2016, no estado do Rio de Janeiro. Cabe
ressaltar que o SUS oferece atendimento integral (diagnóstico e tratamento) e
gratuito para todos os tipos de câncer. Entre os tratamentos estão cirurgias
oncológicas, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e cuidados
paliativos.
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